O presidente Jair Bolsonaro sancionou a LDO em 10 de agosto, com veto a 294 dispositivos. Ao não acatar o trecho que vincula a alteração da meta do resultado primário às mudanças de projeção no IPCA utilizado para corrigir o teto de gastos, o mandatário alegou contrariedade “ao interesse público”, uma vez que a incerteza “fragiliza a meta de resultado fixada na LDO”. Associou ainda o IPCA à receita primária projetada, argumentando que flexibilizar a meta de resultado primário observando somente a correção de despesas seria desconsiderar o efeito da variação da inflação sobre o resultado primário em termos nominais.
“A linha de raciocínio do Executivo não merece prosperar em razão das práticas observadas nos últimos anos, pois se as previsões de IPCA são alteradas, o teto de gastos se modifica”, destaca texto de uma nota técnica conjunta emitida pelas consultorias na última quinta-feira.
Os consultores destacam ainda que, se há novo espaço no teto de gastos, há uma “enorme pressão para que ele seja ocupado, pois o próprio teto já é uma regra bastante restritiva com objetivo de controlar o crescimento das despesas governamentais”.
A avaliação das consultorias é que, se as despesas sofrerão acréscimo em razão da alteração do teto em momento posterior ao do envio do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias ao Congresso, seria interessante facultar a alteração da meta, para que ela se adeque à realidade. “Cabe frisar que o artigo faculta a atualização da meta, mas não obriga. Assim, se a arrecadação for maior ou tiver uma correlação sincronizada com a alteração de IPCA, não há obrigatoriedade de se revisar a meta”, diz a nota técnica.
Os consultores destacam ainda que a preocupação do governo registrada nas razões do veto é de que a revisão da expectativa de inflação no final do exercício seja sempre superior àquela projetada pelo Poder Executivo. “No entanto, pode ocorrer de o mercado e o Banco Central reverem para baixo a projeção do IPCA no mês subsequente, provocando efeito contrário sobre o teto dos gastos”, diz a nota. Para as consultorias da Câmara e Senado, o que se defendia com o dispositivo vetado era permitir ao Congresso usar a projeção mais realista, já que o fim da sessão legislativa (22 de dezembro) ocorre em data mais próxima do final do exercício financeiro de referência para apuração do IPCA.
A próxima sessão do Congresso para análise de vetos presidenciais está prevista para o dia 29 de setembro, três dias antes do primeiro turno das eleições.