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Descolado de NY, Ibovespa cai 0,33% e fecha semana com perda de 2,15%

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Estadão Conteúdos

O Ibovespa encerra seu último pregão antes do feriado de Natal com giro baixo e sem fôlego para acompanhar o tom positivo das Bolsas americanas, que subiram escoradas na percepção de que a economia global não será tão abalada pela variante ômicron do coronavírus. Até o momento, a nova cepa aparenta ter baixa letalidade e pode ser combatida com as vacinas já existentes.

Por aqui, preocupações com crescimento anêmico no ano que vem, inflação elevada e temores de aumento de gastos em ano eleitoral mantêm os investidores na defensiva. A aprovação do Orçamento de 2022 com uma brecha para reajuste de policiais federais levou diversas categorias de servidores a também pleitear aumento salarial, em um “efeito cascata” que ameaça soterrar o pouco que resta da credibilidade fiscal do governo Jair Bolsonaro.

O IPCA-15 de dezembro até veio abaixo das estimativas, com alta de 0,78%, enquanto a mediana de Projeções Broadcast era de 0,82%. A aceleração dos preços no setor de serviços e o aumento do índice de difusão, contudo, não autorizam leituras mais assertivas de arrefecimento dos índices de preços.

Com o IPCA ainda pressionado e a ausência de uma ancoragem mais forte das expectativas de inflação, a perspectiva é a de que o Banco Central mantenha o ritmo de aperto monetário, com alta da taxa básica em 1,50 ponto porcentual em fevereiro, e leve a Selic para um nível ao redor de 12% no fim do ciclo – o que aumenta bastante o custo de oportunidade para investimentos em renda variável.

“O headline do IPCA veio bom. Quando você olha nos detalhes, vê que a parte de serviços e a difusão aumentaram. Isso pressionou os juros e contribuiu para a performance ruim da Bolsa”, afirma o CIO da Legend, Rodrigo Santin, acrescentando que movimentos de ajustes de carteira em meio à liquidez baixa também “pressionaram o índice acionário um pouco para baixo”.

Em tal ambiente, nem mesmo a surpresa positiva com o Caged, que revelou criação de 324.112 postos de trabalho formais em novembro, bem acima da mediana de Projeções Broadcast (216.500), deu alento ao mercado acionário local.

O Ibovespa até ensaiou uma alta na abertura dos negócios, escorado no clima externo de apetite ao risco. Mas logo virou para o campo negativo e perdeu a linha dos 105 mil pontos ainda pela manhã, descendo até a mínima aos 104.637,08 pontos no início da tarde.

Com giro de apenas R$ 15,8 bilhões, o Ibovespa encerrou o pregão desta quinta-feira (23) em queda de 0,33%, aos 104.891,32 mil pontos. Isso levou o índice a uma baixa de 2,15% na semana, depois de ter já perdido 0,52% na semana anterior. Mesmo assim, o Ibovespa ainda mantém uma valorização acumulada de 2,92% em dezembro – um resultado que não permite, contudo, falar em rali de fim de ano.

Para o head de renda variável da Venice Investimentos, Celso Fonseca, o “principal fator” para a falta de fôlego do índice é o “cenário fiscal um pouco pior”, que acaba ofuscando dados positivos, como a geração de empregos revelada pelo Caged. “A questão fiscal é o que tem pesado mais para que a Bolsa fique no campo negativo nesses últimos dias”, diz Fonseca. “Lá fora, as bolsas respondem bem aos estudos que mostram menor letalidade da Ômicron em relação a outras variante do coronavírus”.

Iniciada ontem, a debandada de auditores fiscais da Receita Federal já soma 635 renúncias a cargos de chefia e de comissão, segundo informou o sindicato da categoria. Hoje, 44 conselheiros do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) entregaram pedido de afastamento. A saída em massa se dá em protesto ao fato de o Orçamento de 2022 reservar R$ 1,7 bilhão para reajuste apenas de policiais federais, segundo pleito do presidente Jair Bolsonaro. Servidores do Banco Central e da Advocacia-Geral da União também estariam se mobilizando.

“Tem um ruído fiscal com esse caso de servidores entregando cargos. No ano que vem, vai ter muita pressão para reajuste de servidor público, o que pesa no orçamento. Isso não ajuda a Bolsa”, diz Santin, da Legend.

Entre as blue chips, as ações da Petrobras fecharam em leve alta (PN subiu 0,60% e ON, 0,73%), em dia valorização do barril do Petróleo. O Brent subia para fevereiro subiu 2,07%, a US$ 76,85 o barril. A petroleira informou que finalizou a venda para a PetroRecôncavo da totalidade de sua participação em 12 campos terrestres de exploração e produção (Polo Remanso), localizados no Estado da Bahia.

Os papéis dos bancos tiveram comportamento misto, em meio à perspectiva de alta da Selic e a um movimento de rotação de carteira. As ações PN do Itaú chegaram a figurar, em partes o pregão, no grupo das dez maiores valorização da carteira teórica, mas diminuíram o ritmo e fecharam com alta de apenas 0,52%. Bradesco PN subiu 0,31%, mas ON caiu 0,12%%.

Na contramão, o setor metálico pesou no desempenho do índice, apesar da alta superior a 2% do minério de ferro na China. A ação ON da Vale caiu 0,96%. Entre as siderúrgicas, amargaram queda forte as ON da Gerdau (-1,93%).

No time das maiores altas na carteira teórica, destaque para Marfrig ON (+4,17%), Embraer ON (+3,18%) e BRF ON (1,98%). Já as três maiores baixas foram da ON de Meliuz (-6,34%), da unit da GetNet (-5,91%) – que ontem havia liderado as altas com avanço de 23,40% – e da ON da Hapvida (-4,16%).

Dólar

Depois de uma oferta hostil no mercado à vista, quando o Banco Central vendeu integralmente US$ 965 milhões, o dólar spot se manteve comportado ao redor dos R$ 5,66 ora oscilando em leve alta, ora em leve baixa. No meio do dia, um fluxo comprador levou a moeda para a faixa dos R$ 5,7182, na máxima intraday e foi o gatilho para a autoridade monetária entrar suprindo a demanda.

Assim, na última sessão integral antes do Natal, o dólar à vista encerrou em baixa de 0,08%, cotado a R$ 5,6631, acumulando perda de 0,39% na semana, mas avanço de 0,49% no mês. No futuro para janeiro a cotação ficou em R$ 5,6720, alta de 0,17%.

“Pelo que acompanhamos aqui houve uma saída de recursos concentrada no fim da manhã desta quinta-feira, com o dólar casado bem pressionado”, disse Sérgio Zanini, gestor e sócio da Galapagos Capital. “Esse movimento não deveria estar previamente mapeado pelo Banco Central, mas percebendo a pressão, resolveu atuar”.

A pressão no mercado à vista ainda foi referente à necessidade de empresas que precisam remeter dinheiro para fora para pagar dívida ou dividendos, no caso de companhias listadas em bolsas no exterior.

Zanini acredita que, pelo bom comportamento da moeda durante a tarde, a autoridade monetária conseguiu suprir o mercado, que parecia “estar furado” pela manhã. De fato, o dólar abriu em queda e chegou a operar na mínima a R$ 5,6284, em linha com o enfraquecimento da divisa no mercado externo onde, durante toda a sessão, deu espaço para que moedas de países emergentes se valorizassem. Inclusive, nesse contexto, a divisa da Turquia deu continuidade ao movimento de recuperação que veio com o anúncio nesta semana de medidas cambiais e durante a sessão o dólar chegou a recuar para baixo da cotação de 11 liras turcas.

“Em dezembro, houve uma distorção grande do comportamento do real em relação aos seus pares”, notou o gestor da Galápagos.

Dada a pressão doméstica, o BC vem vendendo dólares à vista. No primeiro leilão no início desta tarde vendeu US$ 190 milhões com taxa de corte de R$ 5,6795 e aceitou três propostas. O dólar recuou pontualmente para R$ 5,68, mas em seguida voltou aos R$ 5,70. Foi então que a autoridade monetária ofertou US$ 775 milhões com taxa de corte de R$ 5,6750 e aceitou oito propostas. Depois disso, a cotação ficou rondando os R$ 5,66. Esse total de US$ 965 milhões de hoje se somam aos US$ 3,872 bilhões vendidos desde o dia 10 de dezembro.

Taxas de juros

Os juros futuros encerraram a sessão desta quinta-feira em alta na maioria dos vértices, em meio à divulgação do IPCA-15 de dezembro, com surpresas desagradáveis em sua composição, e a movimentos técnicos típicos de fim de ano.

O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 subiu de 11,389% no ajuste de ontem a 11,59% (regular) e 11,640% (estendida). O janeiro 2025 foi de 10,442% a 10,58% (regular) e 10,640% (estendida, na máxima). E o janeiro 2027 avançou de 10,381% a 10,53% (regular, na máxima) e 10,560% (estendida).

Em termos de liquidez, o volume negociado no janeiro 2023 foi o maior da semana (1 milhão de contratos). Os agentes atribuíram o movimento à grande agenda diária e semanal, o IPCA-15, que mexeu nas apostas quanto ao futuro da política monetária. Os demais contratos, por sua vez, tiveram quantidades de transações bem mais tímidas, refletindo em parte ajustes técnicos do fim do ano.

Voltando ao IPCA-15, a despeito de ter havido desaceleração na margem (de 1,17% em novembro a 0,78% em dezembro) e em 12 meses (de 10,73% a 10,42%) e de os resultados ficarem abaixo das medianas do Projeções Broadcast (0,82% e 10,47%, respectivamente), a composição do índice trouxe incômodo aos agentes.

A difusão do índice aumentou de 65,7% a 69,2%, a inflação de serviços avançou de 0,33% a 0,70% e a de serviços subjacentes saltou de 0,50% a 0,66%. As contas são da Greenbay Investimentos.

Para o economista-chefe de Mercados Emergentes da Capital Economics, William Jackson, a tendência é de queda da inflação nos próximos meses, à medida que os preços de alimentos e combustíveis sigam descendo.

“Mas com a taxa de inflação ainda bem acima da meta – e provavelmente deve permanecer bem acima no próximo ano – o Banco Central deve elevar novamente a Selic em 150 pontos-base em fevereiro, para 10,75%. Isso provavelmente será seguido por mais 75 pontos-base de aumento no primeiro semestre de 2022”, afirma, em relatório.