A moeda americana já abriu em alta, acima de R$ 5,60, e manteve-se em trajetória ascendente, rompendo o patamar de R$ 5,65 no início da tarde. A máxima veio logo em seguida, com a taxa correndo até R$ 5,6632 (1,24%). O movimento altista perdeu fôlego nas últimas horas de negócios, na esteira de notícias da iminência de um acordo em torno do texto final da PEC dos Precatórios, cujo parecer será apresentado amanhã na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no Senado. No fechamento, o dólar à vista era cotado a R$ 5,6087, alta de 0,27%. O dólar futuro, que operou em alta a maior parte do dia, perdeu fôlego no fim do dia e encerrou em queda 0,28%, a R$ 5,57600.
Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast ao longo da tarde, o governo teria garantido que o pagamento de precatórios do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), que poderia ser em forma de abono. O líder do governo e relator da PEC no Senado, Fernando Bezerra (MDE-PE), deseja impor um caráter permanente ao Auxílio Brasil e carimbar os recursos destinados para saúde, previdência e assistência. O programa permanente de transferência de renda, contudo, seria dispensado de limites legais para aumento de despesa.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, atribui o alívio do dólar no fim da tarde à possibilidade de um acordo que em torno da PEC dos Precatórios que garanta não apenas a aprovação no Senado, mas também uma segunda passagem sem maiores dificuldades na volta da proposta para a Câmara. “Aparentemente, parece que o texto está sendo alinhado com mudanças que seriam bem aceitas pelos deputados. Isso permitiria uma aprovação rápida também na Câmara”, diz Velho. “O temor no mercado é que a PEC não seja aprovada em tempo hábil e o presidente decrete estado de calamidade para pagar o Auxílio Brasil. É o cheque em branco para gastar sem âncora fiscal nenhuma”.
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – operava perto da estabilidade neste início de noite. O euro mostrava leve alta, tentando se recuperar após as perdas recentes, na esteira do avanço de casos de covid na região. Durante a maior parte do pregão, o dólar ganhou força na comparação com a maioria das divisas emergentes.
A moeda americana avançou mais de 12% frente à lira turca, abalada por intervenções políticas na gestão da política monetária. O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que seu país venceria uma “guerra econômica de independência” e condenou “jogos feitos na taxa de câmbio e juros”. Apesar da inflação em alta, o BC turco, pressionado por Erdogan, está relaxando a política monetária.
Para Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, a deterioração da lira turca e a expectativa de alta antecipada de juros antecipada nos Estados Unidos diminui o apetite por ativos de risco, o que ajuda a explicar a fraqueza do real. “Essa questão da lira turca é preocupante, porque acaba envolvendo também os demais emergentes, que já sofrem com essa possibilidade de alta dos juros nos EUA”, afirma Galhardo. “Junta isso com os ruídos políticos e a questão da PEC dos Precatórios, e o dólar acaba pressionado mesmo”.
Após o presidente dos EUA, Joe Biden, indicar Powell para mais um mandato à frente do BC americano, aumentaram as apostas dos investidores de que poderá haver uma alta de juros já em maio de 2022. A recondução de Powell vem após uma série de dirigentes do Fed terem dado declarações a favor do aumento do ritmo de redução de estímulos (tapering), diante de dados positivos de atividade e da inflação pressionada.
Velho, da JF Trust, acredita em uma contaminação muito limitada da fuga da lira turca sobre o real, já que o BC brasileiro tem independência para conduzir a política monetária e, portanto, está blindado contra pressões políticas. O economista vê as fragilidades da política econômica, com indefinição na área fiscal e o BC ainda “atrás da curva”, em meio à escalada das expectativas de inflação, como AS principais responsáveis pela pressão sobre a taxa de câmbio.
O mercado também monitora a tramitação do Projeto de Lei Cambial, que traz um novo marco legal para as transações em moeda estrangeira. A expectativa era que o PL, que já teve a chancela da Câmara e ficou paralisado em razão da pandemia, fosse aprovado ainda hoje, mas o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), adiou a votação em uma ou duas semanas. Em setembro, o Banco Central já havia se adiantado anunciado série de medidas infralegais para o segmento, que, segundo analistas ouvidos à época pelo Broadcast, vão aumentar a concorrência no setor e dar mais agilidade as operações cambiais.