Nas mesas de operação, o desempenho do real é atribuído a ajuste de posições, em meio a apostas em aprovação da PEC dos Precatórios – cuja votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no Senado deve ficar para o próximo dia 30 – e a fluxos pontuais de recursos. Operadores ressaltam que, a despeito da queda no mercado à vista, o dólar futuro para dezembro trabalhou em alta e com liquidez muito reduzida – o que refletiria ainda um ambiente de cautela entre os agentes.
O analista Guilherme Esquelbek, da Correparti Corretora, atribui a máxima e a mínima da sessão ao longo da manhã ao vaivém em torno da PEC dos Precatórios e a dados da economia americana. “Na parte da tarde, perdeu força e voltou a cair com vendas no mercado à vista por parte de exportadores”, afirma Esquelbek, em nota.
Pela manhã, o líder do governo e relator da PEC dos Precatórios no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), protocolou seu parecer, mantendo o limite para pagamento de precatórios e a mudança na regra de cálculo de gastos – o que deve abrir espaço de R$ 106,1 bilhões para gastos em 2022, ano das eleições presidenciais. Como já anunciado, o relator prevê Auxílio Brasil de caráter permanente, sem que seja necessário, contudo, apresentar fonte de financiamento, como exigido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Um ponto que chamou a atenção é que o parecer traz pontos do texto em separado, o que abre espaço para o fatiamento da PEC – ou seja, que partes já aprovadas pelos deputados sejam promulgadas, enquanto as eventuais alterações voltaram para a Câmara em uma proposta paralela. Houve pedido de vistas coletivo, mas o presidente da CCJ, Davi Alcolumbre, disse que a votação do texto na comissão será no dia 30, segundo determinação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Na avaliação do diretor de estratégia da Inversa Publicações, Rodrigo Natali, a manutenção dos pontos essenciais da PEC, com correção do cálculo do teto e limitação dos gastos com precatórios, dá visibilidade sobre o tamanho da folga no orçamento de 2022. “O mais importante é saber o quanto pode ser o gasto, e não exatamente em que o dinheiro vai ser gasto, se em emenda parlamentar ou Auxílio Brasil”, diz Natali, ressaltando que “quanto mais cedo a PEC passar, melhor”, já que diminui a incerteza e evita surpresas indesejadas.
Natali vê exagero no pessimismo de parte do mercado e destaca que boa parte da formação da taxa de câmbio no Brasil se deve a influência da escalada do dólar no exterior. Em comparação com o euro, por exemplo, o real tem se apreciado. “A cotação engana um pouco. A taxa está perto de R$ 5,60 porque a valorização do dólar lá fora foi muito forte”, diz Natali, ressaltando que leitura recente de dados de atividade e inflação nos EUA – aliada à recondução de Jerome Powell à presidência do Fed – alimenta a expectativa de antecipação da alta de juros nos EUA.
No exterior, o DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – operou em alta firme, atingindo os 96,938 pontos na máxima. A moeda americana também avançou em relação a divisas emergentes, incluindo pares do real, como o peso mexicano. A exceção foi a lira turca, que se recuperou em parte do tombo de ontem.
Pela manhã, saiu que o PIB dos EUA cresceu 2,1% no terceiro trimestre na margem, levemente abaixo de avanço de 2,2% previsto por analistas. Chamaram mais atenção os gastos com consumo e o PCE, o índice de referência de inflação do Federal Reserve. Os gastos avançaram 1,3% em outubro ante setembro, acima do esperado (1%). O PCE subiu 0,6% em outubro, com alta de 0,4% do núcleo. Na comparação anual, o índice avançou 5% e seu núcleo aumentou 4,1%.
A ata do encontro mais recente do Federal Reserve, divulgada à tarde, não provocou solavancos nos ativos domésticos. Segundo o documento, alguns dirigentes do BC americano preferiam um ritmo mais rápido de redução de volume de compras de bônus. Uma vez mais, o Fed afirmou que o ‘tapering’ não traz qualquer sinal em relação a ajuste nos juros. Mais cedo, a presidente da distrital do Federal Reserve de São Francisco, Mary Daly, disse que não se surpreenderia se houvesse uma ou duas elevações da taxa básica de juros em 2022.
Amanhã, o mercado americano estará fechado por conta do feriado do Dia de Ação de Graças, o que pode ajudar a explicar a falta de apetite por negócios no mercado futuro hoje.