A resistência do real hoje foi atribuída especialmente à continuidade de desmonte de posições defensivas no mercado futuro, em meio a sinais de recuperação dos preços do minério de ferro, que fechou em alta de 8,61% em Qingdao, na China, e de commodities agrícolas. Já estariam em curso ajustes e movimentações de tesourarias para a formação da última Ptax de julho, na sexta-feira (29). Uma pista dessa movimentação é o aumento do giro com o contrato de dólar futuro para agosto, que superou US$ 15 bilhões hoje.
Com variação de cerca de seis centavos entre a mínima (R$ 5,3360) e a máxima a (R$ 5,3929), o dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,3492, em baixa de 0,38%, após ter recuado 2,35% ontem. Os ganhos acumulados em julho, que no pregão de sexta-feira superavam 5%, agora são de 2,19%.
No exterior, o índice DXY – termômetro do desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – operou em alta firme durante todo o dia, acima da linha dos 107,000 pontos, sobretudo graças ao avanço de cerca de 1% em relação ao euro, castigado pela crise no setor de energia, na esteira de redução de fornecimento do gás russo. Entre divisas emergentes, o dólar caiu apenas frente ao peso chileno, favorecido pelo programa de intervenção cambial do Banco Central do Chile e pela recuperação dos preços do cobre.
A expectativa majoritária é que o BC americano anuncie amanhã nova alta da taxa básica em 75 pontos-base, a despeito de sinais de perda de fôlego da economia americana. O Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou a previsão de crescimento global neste ano de 3,6% para 3,2% e alertou para “uma série” de risco de baixa, como a guerra na Ucrânia, a perda de fôlego da China e o aperto monetário nos países centrais para conter a inflação.
Para o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, o Fed deve, em seu comunicado, dar mais atenção à inflação, que está muito longe da meta de 2%, do que ao crescimento econômico, apesar dos temores de desaceleração mais forte da atividade. De outro lado, o mercado deve passar a dar mais peso daqui para frente a indicadores de atividade que aos índices de preços nos EUA.
“Para o mercado melhorar e ter mais apetite ao risco, é preciso de venham dados mais fortes nos EUA e na China”, diz Weigt. “Na minha cabeça, a inflação já foi assimilada e não vai fazer mais tanto preço. O mercado vai olhar mais para o crescimento”.
Nos EUA, saíram indicadores desanimadores hoje. As vendas de moradias novas caíram 8,1% em junho na comparação com maio. O índice de confiança do Consumidor recuou de 98,4 em junho para 95,7 em julho, informou o Conference Board, enquanto analistas esperava baixa mais tímida, a 97,0.
O tesoureiro do Travelex observa que o ambiente é de muita incerteza e faz com que o mercado opere de olho no curto prazo, ao sabor dos indicadores do dia. A escalada da moeda do início de junho para cá foi muito grande, da casa de R$ 4,70 para perto de R$ 5,50, com investidores montando posições compradas em meio à percepção de piora do risco fiscal e fortalecimento do dólar lá fora. Observa-se agora uma reversão parcial desse movimento, com realização de lucros ou zeragem de posições para evitar perdas.
“É muito difícil ficar comprado em dólar com os juros altos. Mas pode não ficar vendido. As correções para baixo tem sido muito fortes. Basta um sinal de melhora para desmonte de posições, como vimos ontem”, afirma Weigt. “Se não houver surpresas, o dólar pode continuar caindo e buscar os R$ 5,25.”
O Citi divulgou hoje revisão de sua expectativa para a taxa de câmbio no fim deste ano de R$ 5,25 para R$ 5,42. Segundo o banco, o ambiente global tem piorado significativamente as perspectivas para a moeda brasileira. O fortalecimento da moeda americana no exterior, aliado com preocupações com potencial recessão nos EUA, tem prejudicado os preços das commodities nas últimas semanas, observa o Citi. “Domesticamente, incertezas ligadas à política fiscal podem aumentar à medida que nos aproximamos da eleição presidencial”, afirma o banco, em relatório.