Afora uma pequena queda na primeira hora de negócios, o dólar operou em alta ao longo do restante do pregão, tocando no patamar de R$ 5,18 à tarde, ao alcançar máxima a R$ 5,1802 (+1,47%). Com certa perda de fôlego na reta final dos negócios, a moeda fechou a R$ 5,1557, em alta de 0,99%. Com a forte valorização nos últimos dois dias, o dólar, que chegou a esboçar fechar abaixo de R$ 5,00 na quarta-feira (23), acabou encerrando a semana com ganhos de 0,31%. A desvalorização em fevereiro foi de 2,83%, o que levou as perdas acumuladas em 2022 a 7,54%. O real ficou com o título de divisa emergente de melhor desempenho tanto em fevereiro quanto no ano, diante de forte fluxo de recursos para ativos domésticos e de ausência de notícias negativas no front político.
Pela manhã, operadores identificaram uma pressão elevada dos comprados (que apostam na alta do dólar) sobre o mercado em meio à disputa para formação da última Ptax de fevereiro (parâmetro para liquidação de contratos futuros), na tentativa de diminuir a desvantagem no mês. Nas mesas de operação, havia certa expectativa de que o dólar pudesse ceder à tarde, com boa parte da rolagem de vencimento futuro realizada e a Ptax já definida.
A moeda, contudo, não apenas seguiu em alta como renovou máximas, com investidores retomando posições defensivas em caso de uma escalda no conflito na Ucrânia e eventuais novas sanções do Ocidente contra a Rússia nos próximos dias. Ontem, dia marcado por avanço de 2,02% da moeda americana, houve grande movimentação no mercado futuro. Os investidores estrangeiros aumentaram a posição comprada (que ganham com a alta da moeda) em 24 mil contratos (US$ 12 bilhões), segundo dados da corretora Renascença. Hoje, o contrato futuro para abril, que passa a concentrar as negociações, apresentou giro expressivo, de mais de US$ 20 bilhões.
“Apesar do alívio lá fora, aqui prevaleceu o aspecto psicológico, de redução de risco e montagem de proteções. Vão ser quatro dias sem poder movimentar posições, sendo que em dois dias o mercado lá fora estará funcionando enquanto aqui não haverá negócios”, afirma Pedro Secchin, assessor e sócio da Golden Investimentos, em relação ao fato de que as negociações na B3 só serão retomadas na quarta-feira (02), às 13h. “Havia expectativa até de que o dólar pudesse acompanhar o movimento externo depois da formação da Ptax. Mas a postura defensiva prevaleceu. Ninguém que repassar o feriado desprotegido, já que esse cenário de guerra pode trazer muita volatilidade”, diz o diretor de câmbio da B&T Corretora, Marcos Trabbold.
No exterior, o índice DXY – que mede a variação do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – operou em queda firme ao longo do dia, na casa dos 96,600 pontos, em grande parte graças ao fortalecimento do euro. A moeda americana caiu em bloco frente a divisas de países emergentes e exportadores de commodities, incluindo as do leste europeu, com perdas maiores frente ao rublo, peso chileno e rand sul-africano. As bolsas em Nova York trabalharam em alta e as taxas dos Treasuries subiram, em claro sintoma de redução da aversão ao risco.
“Depois do choque de ontem, o mercado lá fora está mais positivo, com as bolsas esboçando uma reação. Mas ainda há muita incerteza. Não se sabe o quanto essa guerra pode gerar de retração para a economia global. A pressão sobre commodities acaba gerando mais expectativa de inflação, que já vem causando problemas”, diz o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, que vê a possibilidade de que parte de recursos de investidores estrangeiros que seriam direcionados para a Rússia possam, diante das sanções impostas pelo Ocidente, acabar vindo para o Brasil. “Começamos a semana com o dólar com força e indo abaixo dos R$ 5. Tivemos um fluxo muito grande de estrangeiros nas últimas semanas. Considerando o período de janeiro até agora, o patamar de R$ 5,15 para o dólar é bem interessante”.
Com as atenções voltadas ao conflito na Ucrânia, indicadores econômicos relevantes ficaram hoje em segundo plano. Nos EUA, o índice de preços de gastos com consumo (PCE) – medida de inflação mais relevante para o Federal Reserve – subiu 0,6% em janeiro, enquanto o núcleo avançou 0,5%, ambos em linha com as expectativas. Na comparação anual, o PCE subiu 5,2% e seu núcleo aumentou 6,1% em janeiro. Já a renda pessoal ficou estável no período, enquanto a expectativa era de redução de 0,3%. Os gastos com consumo subiram 2,1%, também acima do esperado (1,6%).