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Dólar sobe 1,11% com exterior negativo e discurso duro do Fed

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Estadão Conteúdos

Após três quedas consecutivas, em que acumulou desvalorização de 3,74% e esboçou romper o piso de R$ 4,60, o dólar à vista subiu na sessão desta terça-feira, 5, em sintonia com a valorização da moeda norte-americana no exterior. Segundo profissionais do mercado, a alta firme das taxas dos Treasuries, após discursos duros de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), e o ambiente externo avesso ao risco abriram espaço para um movimento de realização de lucros e ajuste de posições no mercado doméstico de câmbio.

Há certa cautela em relação aos possíveis impactos econômicos de nova rodada de sanções de Estados Unidos e União Europeia à Rússia, acusada de crimes de guerra na cidade ucraniana de Bucha. O mercado também monitora o lockdown em Xangai e seus eventuais impactos nas cadeias globais de produção.

Com trocas de sinais, o petróleo tipo Brent para junho, referência para Petrobras, fechou em queda, abaixo da linha de US$ 110 dólares o barril. Não houve negociação de minério de ferro em Qingdao, na China, em razão de feriado nacional. Em Cingapura, a cotação do minério caiu 0,43%. Já as commodities agrícolas (soja, milho e trigo) subiram na bolsa de Chicago. No exterior, as divisas ligadas a commodities, como o rand sul-africano e os pesos mexicano e chileno, perderam força. O índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – operou em alta ao longo do dia e era negociado na casa de 99,400 pontos.

Por aqui, afora uma queda pontual no início dos negócios, quando registrou mínima abaixo a R$ 4,5841 (-0,52%), o dólar operou em alta durante toda a sessão. Com máxima a R$ 4,6728, no fim do dia era cotado a R$ 4,6591, avanço de 1,11%. Mesmo assim, a moeda ainda acumula baixa de 2,14% em abril. No ano, as perdas são de 16,44%. A greve dos servidores do Banco Central, que compromete a divulgação de indicadores, gera desconforto, mas não tem influência relevante na formação da taxa de câmbio, segundo operadores.

“O mercado tanto aqui e como no exterior operou muito em torno da discussão de juros nos Estados Unidos. As taxas dos Treasuries subiram afetando o preço do dólar frente a moedas fortes e emergentes”, afirma o economista-chefe da Integral Group, Daniel Miraglia, ressaltando que, longe dos holofotes, já se comenta entre alocadores de recursos no exterior a possibilidade de um choque de juros nos EUA, com alta de 0,75 ponto porcentual ou até de 1 ponto porcentual nos Fed Funds. “Ocorre uma discussão intensa sobre até que nível a taxa de juros americana tem de ir para estancar o processo inflacionário.”

A indicada a vice-presidente do Fed, Lael Brainard, falou duro nesta terça em evento virtual. Brainard disse que o BC americano “continuará a apertar a política monetária de modo metódico, com uma série de altas nos juros”.

O Fed, segundo a dirigente, está preparado “para adotar ações mais fortes” para domar a inflação, que está “muito elevada”. Mais: a redução do balanço patrimonial da instituição, que significa tirar dinheiro do sistema, deve ser feita “de modo consideravelmente mais rápido agora”.

Já a presidente do Federal Reserve de Kansas City, Esther George, disse que a alta de 0,50 ponto na taxa dos Fed Funds no encontro do BC americano em maio “é uma opção” entre outras. George pontuou, contudo, que é possível um ajuste monetário em ritmo mais rápido que no ciclo anterior.

As falas das dirigentes alimentam a expectativa do mercado em torno da ata da mais recente reunião do Fed, que é divulgada na quarta-feira às 15 horas (de Brasília).

Para Miraglia, da Integral Group, se o Fed realmente subir os juros de forma aguda e acelerar a redução de seu balanço patrimonial, pode haver uma alta da moeda americana e queda dos preços das commodities induzida pela percepção de enfraquecimento da demanda, dada a desaceleração da economia americana e global.

“A curva americana está invertida e o mercado está começando a falar na possibilidade de recessão nos Estados Unidos”, diz o especialista em renda fixa da Blue 3, Nicolas Giacometti, acrescentando que uma alta dos Fed Funds em 0,50 ponto porcentual, como já precificado, será bem recebida pelo mercado. “Mesmo com a alta dos juros americanos, o diferencial entre a taxa interna e externa segue muito aberto e estimula carry trade. A tendência é o fluxo positivo para o Brasil continuar.”

Na visão do economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, a alta do dólar nessa terça-feira representa um ajuste técnico escorado na aversão ao risco no exterior, e não muda a tendência de apreciação do real no curto prazo. “O fluxo cambial, a despeito da defasagem da divulgação, não apresenta pressão de saídas, com o reforço dos termos de troca e dos preços das commodities”, afirma Velho, que estima um suporte de R$ 4,34 para a taxa de câmbio no curtíssimo prazo.