Segundo profissionais do mercado, o aumento da tensão pré-eleitoral impossibilitou mais uma vez que o real se beneficiasse do enfraquecimento da moeda americana no exterior, em meio à consolidação das apostas em uma moderação do ritmo de alta de juros nos Estados Unidos.
Pesquisas mais recentes mostram liderança, embora apertada, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e provável estagnação de uma suposta onda de crescimento do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Levantamento da Genial/Quaest divulgado nesta quarta pela manhã traz Lula com o 53% dos votos válidos contra 47% de Bolsonaro.
A postura defensiva dos investidores refletiria incertezas sobre a condução da política econômica em eventual governo Lula e temores de crise institucional, caso Bolsonaro questione uma possível derrota no pleito sob pretexto de fraude nas urnas eletrônicas ou má conduta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“O dólar esta derretendo lá fora, mas aqui tem esse descolamento com a incerteza sobre o resultado da eleição. O mercado ainda espera que Lula anuncie a equipe econômica e seus planos porque teme uma gestão parecida com a de Dilma (referência à ex-presidente Dilma Rousseff)”, diz a economista-chefe da B. Side Investimentos, Helena Veronese, ressaltando que, dado o quadro eleitoral, até a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no período da noite, com provável anúncio de manutenção da taxa Selic em 13,75%, ficou em segundo plano.
Para Veronese, caso Bolsonaro saia vencedor do pleito de domingo, os ativos brasileiros tendem a se recuperar, em um comportamento similar ao visto após primeiro turno, cujo resultado levou Lula a buscar alianças ao centro e trouxe a composição de um Congresso mais conservador. “O mercado vai ficar mais animado com Bolsonaro e podemos ver o dólar recuar bastante”, diz.
Após o episódio envolvendo a prisão do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) aumentaram também os temores de reação violenta e contestação do resultado do pleito. Bolsonaro voltou a pôr em xeque na terça a credibilidade do sistema eleitoral e crescem as críticas de aliados do presidente à atuação do TSE.
Causou ruído no mercado nesta quarta a exoneração do servidor do TSE Alexandre Gomes Machado, que era responsável por receber arquivos com as propagandas publicitárias de campanhas eleitorais e inseri-los no sistema eletrônico do tribunal para que pudessem ser acessados por rádios e TVs. Ele foi exonerado após ação do ministro das Comunicações, Fábio Faria, enviada ao TSE sobre suposto favorecimento de rádios à campanha de Lula.
Segundo apurou o Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), a demissão teria ocorrido após o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, avaliar que o ex-servidor estaria atuando de forma política e dificultando a resposta à acusação da campanha de Bolsonaro.
Em depoimento à Polícia Federal, o ex-servidor teria dado a entender que foi exonerado por ter apontado, desde 2018, falhas na fiscalização de inserções de propaganda eleitoral. Em nota, o TSE chama as alegações de Machado de “falsas e criminosas” e afirma que a “exoneração do servidor foi motivada por indicações de reiteradas práticas de assédio moral, inclusive por motivação política, que serão devidamente apuradas”.
Segundo o economista-chefe do Instituto Finanças internacionais (IIF), Robin Brooks, a volta do dólar para perto de R$ 5,40 mostra que “os mercados estão realmente preocupados com a eleição”, uma vez que todas as outras moedas emergentes estão se fortalecendo. “Os mercados apenas querem uma eleição pacífica e uma transição ordeira. Com isso feito, o real vai subir com força”, escreve o economista no Twitter.