Operadores observam que, dadas as perdas recentes do dólar no mercado doméstico, havia espaço para realização de lucros e recomposição de posições cambiais defensivas. Já está em curso também a disputa técnica entre “comprados” e “vendidos” pela formação da última taxa Ptax de agosto, que será definida na quarta-feira, 31, e ajustes para rolagem de contratos de dólar futuro. Números fiscais domésticos positivos em julho, com superávit de R$ 19,309 bilhões do Governo Central, e promessa de ampliação de gastos por presidenciáveis foram monitorados, mas não tiveram papel relevante na formação da taxa de câmbio.
Na abertura dos negócios, o dólar até ensaiou uma nova queda e desceu até a mínima de R$ 5,0110. A moeda americana passou a trabalhar em alta no mercado doméstico ainda pela manhã e, com uma escalada ao longo da tarde, rompeu o teto de R$ 5,10 e registrou máxima a R$ 5,1200 (+1,72%).
No fim do dia, o dólar à vista era cotado a R$ 5,1130, em alta de 1,58%. No mês, a divisa acumula perdas de 1,18%. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para setembro teve giro forte, de mais de US$ 14 bilhões.
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – apresentou leve queda, em razão da recuperação do euro dado o aumento de aposta de que o Banco Central Europeu (BCE) pode elevar os juros em 75 pontos-base no próximo dia 8. A moeda norte-americana, contudo, subiu em bloco em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, a exceção do rublo russo e da lira turca. As cotações do petróleo desabaram, com o tipo Brent para novembro, fechando em baixa de 4,95%, a US$ 97,84 o barril.
Segundo a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, a reversão da tendência de queda do dólar que marcou os últimos dias provavelmente se deve a perspectiva de aumento maior de juros na Europa e nos Estados Unidos. “Dirigentes do Fed vieram hoje reforçar o compromisso em baixar a inflação. Além disso, os preços de algumas commodities estão em queda, contribuindo para a desvalorização de moedas emergentes”, afirma Quartaroli.
Pela manhã, o presidente do Fed de Nova York, John Willians, afirmou que prevê elevação das taxas de juros em 2023, em vez de corte, como aventado por uma ala do mercado. “Acredito que teremos que aumentar as taxas e segurá-las ao longo do próximo ano”, disse Willians, para quem é “evidente” que o Fed precisa subir os juros básicos “bem mais” até o fim deste ano. À tarde, o presidente do Fed de Richmond, Tom Barkin, falou duro contra a inflação e voltou a dizer que a taxa real de juros nos Estados Unidos deverá alcançar território positivo para controlar a demanda.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, afirma que, mesmo com a expectativa de desaceleração do ritmo de geração de empregos no payroll de agosto, o nível ainda elevado de criação de vagas e o dos salários devem manter a probabilidade de alta de 75 pontos-base da taxa básica americana em setembro acima de 50%.
Entre os indicadores americanos divulgados nesta terça, destaque para o relatório Jolts, mostrando que a abertura de postos de trabalho nos EUA subiu a 11,239 milhões em julho. O mercado espera agora a divulgação do relatório ADP de agosto na quarta e, sobretudo, o payroll de agosto, que sai na sexta-feira, 2. Pela manhã, o mercado se surpreendeu com o avanço do índice de confiança do consumidor dos EUA elaborado pelo Conference Board de 95,3 em julho para 103,2 em agosto, acima das expectativas (94,7).
“Dados de confiança do consumidor e emprego forte nos EUA interrompem o ciclo de valorização do real das ultimas três sessões”, diz, em nota, o diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, acrescentando que a aproximação do dólar do piso de R$ 5,00 tornou a compra atrativa. “Toda a demanda que estava represada acabou contribuindo para a alta da moeda”, afirma Rolha.