Realizado na sede da B3, a Bolsa paulista, o leilão foi acirrado. Na abertura dos envelopes, o consórcio Beira Mar, formado por Vinci Partners e Serveng, saiu na frente com uma proposta de R$ 100 mil ante oferta de R$ 1 mil, da Shelf. Como previsto no edital, a disputa foi para o sistema viva voz e os papéis se inverteram. Depois de 21 rodadas e 41 lances, a Shelf foi a vencedora.
Estruturada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a modelagem incluiu, além da venda da Codesa, a concessão dos portos de Vitória e Barra do Riacho, por 35 anos. Os dois portos continuarão com os arrendatários atuais, mas seus contratos serão transferidos para o vencedor do leilão, que terá de investir R$ 855 milhões durante os 35 anos de concessão.
Nos últimos anos tem sido claro o descompasso entre a eficiência decorrente da modernização dos terminais privados, a partir da década de 1990, e a dificuldade das Companhias Docas e autoridades portuárias de investir na infraestrutura dos portos, como nos canais de acesso terrestre e marítimo.
Hoje, os portos organizados, como é o caso da Codesa, funcionam como um shopping center, em que a administração portuária é o síndico do shopping e as lojas, os terminais. Cabe ao síndico manter a infraestrutura para a lojas funcionarem bem.
Ineficiências
Atualmente, o País tem sete Companhias Docas (PA, CE, RN, BA, ES, RJ e SP) e outras autoridades portuárias, como a que administra Itajaí (SC). Elas são responsáveis pelo funcionamento do porto, seja na chegada do navio, do caminhão ou do trem. Por isso, precisam investir na infraestrutura de acesso, principalmente. “O objetivo (da privatização) é nos livrarmos da burocracia e das ineficiências comuns no setor portuário. Hoje temos terminais privados eficientes e competitivos, mas que esbarram na administração portuária pública. Vamos desatar esses nós”, diz o secretário Nacional de Portos e Transportes Aquaviários, Diogo Piloni. “Esse (leilão) é só o primeiro.”
Além da Codesa, outros portos devem ser privatizados, como é o caso de São Sebastião e Santos (SP) e Itajaí (SC). O leilão da Codesa é visto como um teste para a privatização do complexo santista, que administra o maior porto da América Latina, no fim de 2022. Neste caso, no entanto, não há consenso sobre a viabilidade da privatização. Isso porque a venda da participação acionária da Santos Port Authority (SPA) exigiria elevados investimentos, de R$ 16 bilhões.
Comemoração
O ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, comemorou a privatização e disse que o Brasil está passando por uma grande transformação. “Quando esses projetos agora contratados se materializarem, em 2024, 2025, 2026, a sociedade vai perceber que a gente passa pela maior revolução de infraestrutura da nossa história”, afirmou o ministro, em seu último leilão antes de deixar a pasta para disputar as eleições, possivelmente ao governo do Estado de São Paulo.
No discurso após o leilão, Freitas chorou e agradeceu os profissionais de sua equipe que ajudaram a fazer todas as licitações até agora. Segundo a secretária do PPI, Marta Sellier, nos três anos e três meses no ministério, Freitas fez 34 concessões aeroportuárias, 34 concessões de terminais portuários, 6 projetos ferroviários e 6 projetos rodoviários.
“Começamos hoje com a privatização da Codesa, amanhã será Itajaí, São Sebastião e Santos. Em Santos, a julgar pelos road shows no exterior, vai ser um espetáculo.”
Outros três terminais portuários são concedidos
Depois da privatização da Codesa, o governo realizou ontem leilões de três terminais portuários. Em dois deles, não houve disputa e a licitação ocorreu com oferta única.
Foi o caso do terminal STS11, em Santos, voltado para a movimentação e armazenagem de granéis sólidos vegetais, como açúcar, grãos de soja, milho e farelo de soja. Sem disputa, a Cofco Internacional Brasil arrematou a área com outorga de R$ 10 milhões e terá de investir R$ 765 milhões, em um contrato de 25 anos.
O mesmo ocorreu com o terminal SUA07, em Suape (PE). O Consórcio SUA Granéis venceu a área, voltada para movimentação de granéis minerais e carga geral. A outorga foi de R$ 15 mil e os investimentos serão de R$ 60 milhões.
O único terminal com disputa foi o PAR32, no Porto de Paranaguá (PR). A FTS Participações Societárias ganhou a área, para movimentação de carga geral. A outorga foi de R$ 30 milhões, após disputa pelo viva-voz entre a FTS e TEAPAR – Terminal Portuário de Paranaguá.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.