O valor da transação não foi revelado. “Não podemos divulgar, mas os acionistas ficaram bem satisfeitos”, diz Alexandre Bratt, CEO da Grand Cru. A compra gera uma empresa com faturamento estimado na casa dos R$ 700 milhões, e a transação precisa da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
No acumulado dos últimos 12 meses até agosto de 2021, a Wine detém 10,6% do volume de vinhos importados; a VCT está em segundo lugar, com 10,3% e a Evino e Grand Cru juntas somam 6,8%, segundo a Ideal. “O movimento é para uma concentração, muito maior do que em anos anteriores”, analisa Felipe Galtaroça, presidente da Ideal.
Estas compras, por enquanto, são de empresas de atuações complementares. Ao adquirir a Cantu, por exemplo, a Wine se fortaleceu na área de B2B (negócios entre empresas), em que não tinha participação relevante. São fortes as conversas de que uma outra importadora familiar brasileira será vendida em breve.
Fundadores
A Evino comprou 100% da Grand Cru, o que inclui a fatia de 77,5% do Aqua Capital e os 22,5% que ainda pertenciam às duas famílias argentinas que fundaram a importadora: os Levy tinham 15% e os Shayo, 7,5%. Mariano Levy, da segunda geração, segue como executivo da nova empresa, mas sem participação acionária, e deve ajudar na conversa com os produtores sobre a venda da Grand Cru.
Na semana passada, Levy e Ari Gorenstein, co-CEO da Evino, visitaram juntos alguns produtores em Portugal, com propostas de novos rótulos exclusivos para o Brasil. Na junção de portfólios, a Evino se consolida como a maior importadora de vinhos italianos e franceses e passa a ter uma relevância significativa nos rótulos argentinos.
A aquisição, afirma Gorenstein, será paga com recursos da geração de caixa do e-commerce e com uma linha de crédito. No mundo do vinho, o e-commerce foi um dos canais que mais cresceu com a pandemia no Brasil, com as facilidades das compras online.
Em 2020, a Evino teve receita bruta de R$ 423 milhões, contra R$ 259 milhões de 2019. Além do crescimento das vendas pelos canais digitais, as empresas de e-commerce foram favorecidas pelo efeito da Difal, que é a diferença entre as alíquotas do ICMS entre os estados.
Com a ausência de uma lei que regulamente a sua cobrança para o comércio eletrônico, várias empresas de e-commerce entraram na Justiça (e ganharam) o direito de não pagar esta diferença. Gorenstein estima que isso ajudou o caixa da Evino em cerca de R$ 50 milhões. Durante as negociações, a Evino chegou a discutir com a XP um plano de captação de recursos, que não está descartado para outras aquisições.
A ideia, agora, é criar uma holding, de nome ainda não definido, que gerenciará as duas empresas, e as duas marcas vão continuar a existir.
A Evino passa a se beneficiar da rede de lojas da Grand Cru – atualmente são 110 pelo Brasil, entre próprias e franqueadas, total que crescerá a 127 até o fim do ano – e do canal com restaurantes e hotéis. O e-commerce herda, ainda, as vinícolas premium do portfólio da importadora, como as argentinas Viña Cobos e Zuccardi, a portuguesa Niepoort, a italiana Allegrini, entre outros.
Desde meados da quarentena a Evino foca também em ampliar a linha de produtores renomados. “A ‘premiunização’ é uma das estratégias que estamos trabalhando”, afirma Gorenstein. Por outro lado, a Grand Cru terá ganhos de escala com a força da Evino no mundo online. É previsto também o redesenho dos dois clubes de vinho, tanto o da Evino como o da Grand Cru.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.