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Fundos estrangeiros acenam com volta após ‘quarentena’ ambiental

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Estadão Conteúdos

Há pouco mais de dois anos, um grupo de investidores europeus que administram mais de US$ 4 trilhões em todo o mundo ameaçou tirar recursos do Brasil, por pressão contra o desmatamento da Amazônia, que deu um salto ao longo do governo do presidente Jair Bolsonaro. Agora, há uma sinalização de que as restrições de investimento no País devem mudar, em razão da vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva.

Um exemplo foi dado pelo fundo nórdico Nordea, que possui mais de € 400 bilhões sob gestão. “Nossa equipe de dívida de mercados emergentes está analisando a suspensão da restrição que temos há muito tempo sobre novos investimentos em títulos do governo brasileiro. Estamos otimistas de que conseguiremos suspender nossa quarentena”, afirmou ao Estadão o chefe de investimentos responsáveis da Nordea Asset Management, Eric Pedersen.

“A campanha e as promessas de Lula indicaram que ele se concentrará na preservação da região amazônica significativamente mais do que o governo anterior. O primeiro passo seria fazer valer novamente o código florestal existente e reconstruir o Ibama e outros órgãos relevantes”, aponta.

Preocupação global

A gestora KLP, maior fundo de pensão da Noruega, também demonstra mais otimismo em relação à agenda ambiental no Brasil com o governo recém-eleito. “O aumento dramático do desmatamento da Amazônia no último ano é uma questão de preocupação global”, ressaltou o analista sênior de Investimentos Responsáveis na KLP Asset Management, Arild Skedsmo.

Segundo Skedsmo, a falta de liderança política sobre o desmatamento prejudicou a reputação internacional do Brasil. “Isso tem sido uma grande preocupação para os investidores. Lula da Silva prometeu explicitamente reverter essa tendência e tem muita credibilidade de seu mandato presidencial anterior.”

COP-27

Nesta semana, em uma das primeiras ações como presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva viaja ao Egito, onde ocorre a COP-27, conferência do clima organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ele irá acompanhado de Marina Silva, cotada para o Ministério do Meio Ambiente e que chancela aos olhos dos investidores as promessas do presidente eleito em relação ao meio ambiente.

O presidente do fundo norueguês Storebrand, Jan Erik Saugestad – executivo que em 2020 liderou um grupo que cobrou do governo brasileiro medidas de proteção à Amazônia – afirma que houve alguns desinvestimentos específicos por conta do tema ESG e desmatamento. “Lula assumiu o compromisso firme de acabar com o desmatamento. As próximas semanas vão esclarecer muito mais sua estratégia, mas já vemos sinais positivos como a retomada das discussões para a reabertura do Fundo Amazônia”, diz. “Estabelecemos as expectativas que queremos ver, como a aplicação do Código Florestal brasileiro, o fortalecimento das agências brasileiras encarregadas de implementar a legislação ambiental e de direitos humanos e evitar quaisquer desenvolvimentos legislativos que possam impactar negativamente na proteção florestal.”

Responsável pelos ativos no Brasil da holandesa Robeco, uma das maiores casas de investimento da Europa, com € 200 bilhões sob gestão, Daniela da Costa-Bulthuis comenta que o olhar no momento é de otimismo no Brasil, mas afirma que a situação é grave e que são necessárias por parte do novo governo medidas efetivas e urgentes sobre o tema. Ela frisa que Marina Silva tem grande credibilidade com os investidores estrangeiros.

“Queremos ver execução. É preciso haver uma proteção dos agentes ambientais e mais recursos, além de uma proteção dos próprios povos indígenas”, afirma a especialista, relembrando que desde 2019 houve uma deterioração acelerada da reputação do País em relação não só ao meio ambiente, mas aos direitos humanos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.