Notícias

Notícias

Ibovespa ignora cenário externo e sobe, tentando defender 114 mil pontos

Por
Estadão Conteúdos

A despeito da queda firme das bolsas europeias e dos índices acionários futuros norte-americanos, o Ibovespa sobe e tenta defender os 114 mil pontos. Ainda que o cenário externo requeira cautela, dado o agravamento da tensão geopolítica entre Rússia e Ucrânia, a expectativa de entrada de fluxo para a Bolsa tende a continuar.

“O Brasil começou a subir juros antes de outros bancos centrais. Querendo ou não, é um trabalho que começa a ser feito agora por outras instituições. Então muito fluxo vem para cá. Além disso, a Bolsa é formada por muita empresa de valor, e, não, de crescimento”, avalia Bernard Faust, operador da mesa de renda variável da One Investimentos.

Apesar de ir na contramão do exterior, a alta do Ibovespa é moderada, com investidores se dividindo entre as palavras de James Bullard (presidente do Fed de St. Louis), reforçando temores inflacionários, preocupações com a crise geopolítica e o fluxo de recursos para Brasil.

“Com Europa caindo mais de 2% e Nova York também em baixa, pensávamos que aqui também cairia. Porém, o dinheiro para emergentes parece que segue atrativo mesmo com essa tensão geopolítica. O saldo de estrangeiros está positivo faz tempo, mas nada que impeça uma realização”, avalia Caio Kanaan Eboli, sócio e diretor operacional da mesa proprietária Axia Investing, lembrando que a iminente alta do juro americano tende a reforçar esse quadro.

Às 10h54, o Ibovespa subia 0,33%, aos 113.948,91 pontos, ante máxima diária aos 114.167 pontos (alta de 0,52%), nível visto pela última vez em 19 de outubro de 2021 (Máxima aos 114.422,23 pontos).

“Se romper a região dos 115 mil pontos, pode buscar logo os 117 mil pontos co facilidade. Depois, tentar os 130 mil pontos mais para o fim do ano. Porém, essa questão geopolítica preocupa”, diz Eboli. Já o dólar ante o real cedia 0,72%, a R$ 5,2048.

“No momento, os olhos estão voltados para lá Rússia e Ucrânia, que pode ter um conflito até mais forte”, afirma Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management. Neste ambiente, diz, fica no radar a visita do presidente Jair Bolsonaro à Rússia. “Bolsonaro se encontra com Putin Vladimir, presidente russo. É um momento inoportuno, e o nosso mercado é muito sensível. Pode ser que seja um dia de volatilidade”, estima Gonçalvez.

Para o economista-chefe do ModalMais, Álvaro Bandeira, seria importante o índice defender ao menos os 112 mil pontos, sob o risco de ceder ainda mais. “Não seria bom perder os 112 mil pontos, mas está muito difícil”, avalia em comentário.

Em meio ao quadro externo, no Brasil a preocupação com a inflação é retratada na Focus do Banco Central, com a mediana das projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano indo a 5,50%, superior ao teto de 5,00%, indicando o segundo ano seguido de rompimento da meta. Além disso, no levantamento, a estimativa para Selic subiu de 11,75% para 12,25% no fim de 2022. No entanto, já há instituições esperando juro básico de quase 13% ao ano.

Apesar de o Ibovespa ter fechado em alta semanal de 1,18%, quase sucumbiu à queda, acompanhando a piora das bolsas americanas na sexta-feira, diante da possibilidade de que Moscou invada a Ucrânia até esta quarta-feira. No entanto, ainda fechou com elevação de 0,18%, aos 113.572,35 pontos, especialmente por conta do balanço forte do Itaú no quarto trimestre. Nessa semana safra de resultados corporativos prossegue, com destaque, hoje, dos números do Banco do Brasil, após o fechamento do pregão da B3. Porém, espera-se no geral, um desempenho moderado. Às 11h09, as ações do BB subiam 0,12%.

Pesa negativamente nos negócios a queda expressiva de quase 7% do minério de ferro, em Dalian, na China. Porém, no porto chinês de Qingdao cedeu 0,7%, enquanto o petróleo opera com instabilidade, com viés de baixa na faixa de 0,50%, o que afeta as ações da Petrobras, que cedem em torno de 0,50%. Vale ON perdia 0,45%.

Somado ao recuo da commodity, sinais de interferência política na estatal ficam no radar. O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse trabalhar junto à Petrobras para reduzir o valor dos combustíveis “de forma legal”. Além disso, o Congresso deve votar dois projetos para reduzir os preços desses produtos.