O “namoro” entre o Itaú e Avenue, conforme apurou o Estadão, começou há aproximadamente um ano, mas as negociações ganharam tração nos últimos seis meses.
O Itaú reforçou, em nota, que a aquisição garantirá mais musculatura no mercado de investimento e aumentará os produtos e serviços oferecidos aos clientes. A ideia é plugar a Avenue dentro de seu próprio aplicativo, dando acesso à prateleira de produtos aos seus clientes.”Trata-se do principal player de acesso a serviços financeiros do mercado norte-americano para brasileiros. Além da tecnologia, oferece uma experiência diferenciada aos seus clientes. Identificaram uma oportunidade, desenharam uma jornada incrível e criaram não apenas uma empresa, mas uma nova linha de negócios que vai atrair cada vez mais brasileiros. Já estão hoje onde muitos planejam estar em alguns anos”, afirma o responsável pela área de gestão de fortunas no Itaú, Carlos Constantini.
Segundo o fundador e presidente da Avenue, Roberto Lee, ter o Itaú como sócio acelerará o crescimento da corretora. “Ao longo dos próximos anos, esperamos que este mercado multiplique-se muitas vezes. A Avenue e o Itaú juntos agregam todas as condições para catalisar e liderar essa categoria”, afirma Lee, que também fundou a corretora Rico, que depois acabou sendo comprada pela XP. A Avenue possui hoje cerca de 500 mil clientes e R$ 6 bilhões em custódia. A corretora recebeu no ano passado um aporte do conglomerado japonês de investimento Softbank, no valor de R$ 150 milhões.
Pelo acordo, que ainda depende de aval dos reguladores, o Itaú Unibanco fará um aporte primário de R$ 160 milhões e depois adquirirá ações, totalizando, com isso, aproximadamente R$ 493 milhões por uma fatia de 35% no total. Após dois anos da data de conclusão desta etapa, o Itaú Unibanco adquirirá participação adicional de 15,1% por um valor a ser determinado, atingindo, com isso, o controle com 50,1%. Passados mais cinco anos, o banco terá ainda a opção de comprar o restante das participações dos acionistas da Avenue.
O Itaú informou que a gestão e marca continuarão autônomas em relação ao Itaú Unibanco, que passará, com esse acordo, a ser mais uma das instituições que distribuirá os serviços de intermediação de valores no exterior da Avenue aos correntistas.
Mercado em consolidação
A nova investida do Itaú ocorre em um momento de baixa do mercado, mas a leitura é de que o interesse do brasileiro em investir no exterior nunca esteve tão alto, o que tem levado bancos e corretoras a investirem em aquisições e em novas funcionalidades de suas plataformas, para permitir o investimento direto, especialmente nos Estados Unidos. O Bradesco, por exemplo, comprou no passado o BAC, na Flórida.
O sócio da consultoria Spiralem, Bruno Diniz, afirma que o movimento do Itaú mostra a corrida do banco para ocupar uma lacuna de investimento no exterior. “Entendo que os investimentos internacionais e acesso ao mercado internacional é a novo campo de batalha que o mercado irá explorar. Ainda mais em uma época pré-eleição no qual o dólar pode ter alta volatilidade. Muitos especialistas estão ressaltando recentemente a importância de dolarizar a carteira e acredito que soluções assim serão cada vez mais buscada”, destaca o especialista. Ele frisa, ainda, que o Itaú estuda uma área de ativos digitais, que deverá ter sede em Nova York, ao mesmo tempo que a própria Avenue vinha preparando uma estrutura para criptoativos.
Fora isso, o mercado de investimento vem passando ao longo dos últimos anos por um forte processo de consolidação. O BTG Pactual, por exemplo, tem sido agressivo nesse processo, e comprou recentemente a carteira de clientes pessoas físicas da Planner, além da corretora carioca Elite. Antes já tinha levado a Necton, Magliano e Ourinvest. A XP comprou uma fatia na casa de análise Suno e o banco Modal, em janeiro. O Santander, por sua vez, adquiriu uma participação na Toro Investimentos.
Apesar do divórcio, neste ano o Itaú voltou a ser acionista da XP, depois de exercer um direito de fazer uma nova aquisição. A fatia, de cerca de 11%, deverá, contudo, ser vendida.
O executivo do Itaú afirmou, em coletiva de imprensa, que a Avenue seria um negócio a ser olhado, independente do fracasso na aquisição do controle da XP, negócio frustrado pelos órgãos reguladores em 2017. O Itaú e sua holding Itaúsa estão se desfazendo gradualmente das ações da XP que ainda detém. “Fizemos um movimento no passado e tínhamos objetivo de ter controle da XP, mas vamos corrigindo a rota, de acordo com as condições de contorno. No entanto, esta decisão teríamos de tomar de qualquer forma, porque nenhum outro player tem a oferta como a Avenue tem”, afirmou.
Constantini afirmou ainda que outras empresas planejam, anunciam e tem expectativa de chegar lá na frente, mas que essa decisão seria olhada independente do cenário. “Realmente é um ativo muito diferenciado e especifico. Temos certeza que não fomos os únicos que bateram na porta do Lee (Roberto Lee, fundador da Avenue)”, acrescentou.