A companhia obteve autorização, no âmbito do Chapter 11 da lei de falências dos EUA, para contratação de um empréstimo do tipo debtor-in-possession (DIP), modalidade voltada para empresas em recuperação judicial. O empréstimo anunciado ontem veio de um grupo de financiadores formado, entre outros, pela Oaktree Capital Management e pela Apollo Management Holdings. A incorporação dos recursos à recuperação ainda depende de aprovação da Justiça de Nova York.
“Temos recebido várias ofertas de investidores que manifestaram interesse em se juntar a nós em nosso processo do Chapter 11. Essa proposta nos permitirá acessar melhores condições de financiamento, gerando importantes economias de custos e beneficiando os nossos credores e a Latam”, afirmou, em comunicado, o vice-presidente de Finanças do grupo, Ramiro Alfonsín.
Novo dono?
De acordo com fontes, porém, uma parcela dos credores ainda estaria insatisfeita com o processo de recuperação. Parte do mercado aposta, ainda, que a empresa poderá mudar de mãos. O Estadão/Broadcast apurou que a Azul estaria agora disposta a assumir todas as unidades da rival chilena – antes, a companhia havia demonstrado interesse apenas pela operação brasileira.
Segundo uma fonte, a Azul estaria em conversas com credores, aproveitando o potencial momento de fragilidade para acertar uma proposta. A aérea já teria inclusive investidores preparados para fazer a compra caso não haja consenso para aprovação do plano. Ou seja: os recursos para uma transação não viriam do caixa da Azul, mas de capital levantado com terceiros. A Latam já declarou, no passado, não ter interesse nos avanços da rival. Procurada, a Azul não comentou.
O consultor e sócio da Bain & Company, André Castellini, especializado no setor aéreo, diz que a empresa está fazendo tudo o que é necessário para sair do cenário de crise, mas não descarta que o negócio mude de mãos. “Claramente, a Latam é um ativo que tem valor e está indo no sentido certo. A empresa talvez possa continuar existindo, mas deve haver uma troca dos acionistas para, no preço certo, os investidores aceitarem passar a financiar a Latam”, explica.
Também não ajuda o atual momento do setor de aviação. Com o dólar valorizado frente ao real e com boa parte dos gastos atrelada à moeda norte-americana, as companhias aéreas têm sofrido na Bolsa brasileira.
A Bain fez uma comparação da recuperação do valor das ações das empresas locais com as das estrangeiras desde o início da pandemia. Enquanto aéreas como a American Airlines e Ryanair já estão valendo mais do que no período pré-covid, os papéis da Azul e Gol estão com um valor, em média, 50% mais baixo na mesma comparação. No caso da Latam, o valor de mercado é o equivalente a 20% do período anterior à pandemia.
Mudanças de mercado trazidas pela covid-19 devem continuar a afetar o setor aéreo. O presidente da Latam Brasil, Jerome Cadier, disse ontem, em evento da agência de classificação de risco Fitch, que a demanda vai voltar no futuro, mas não no mesmo patamar. “A pandemia fez com que algumas reuniões de negócios se tornassem virtuais, e esse movimento deve continuar parcialmente.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.