Segundo ele, medidas de preservação do meio ambiente, aliadas à retomada da diplomacia e a investimentos na área de educação e pesquisa, podem elevar o fluxo de capital para o País. Consequentemente, a taxa de câmbio recuaria, diminuindo a inflação e permitindo queda da taxa de juro. “Essas medidas não dependem do Congresso nem de grande volume de dinheiro. Com o fiscal, isso permite algo rápido e construtivo.” Mendonça de Barros acrescenta, porém, que isso precisa ser feito ao mesmo tempo que se cria uma regra fiscal “crível”. A seguir, trechos da entrevista.
Qual economia o presidente eleito vai herdar?
Lula reclamou da herança em 2003, mas agora é que vai receber a herança maldita de verdade. Temos uma longa estagnação. O Brasil também vive uma combinação de pandemia com o que aconteceu depois, e acentuou a disparidade econômica. Na pandemia, empresas maiores, bem administradas, com balanço robusto e capacidade de recorrer ao mercado de capitais, melhoraram o desempenho. Mas a maior parte das empresas médias e pequenas não foi bem, e a maior parte da população é ligada a elas. Então, o desafio não é só digerir a herança fiscal, mas trazer o crescimento sustentado de volta. A bomba fiscal é um pepino sem tamanho, e será importante que a regra fiscal seja vista como crível.
O que será possível fazer?
É preciso um conjunto de ações que vão além das reformas administrativa e tributária, por exemplo. O que o governo Lula tem possibilidade de definir rapidamente é acabar com a destruição da Amazônia. Isso e a diplomacia podem ser fundamentais. O Brasil pode se tornar uma potência verde. Amazônia, meio ambiente, Itamaraty e energia formam um conjunto fundamental e uma alavanca de retomada rápida.
Outras áreas do futuro governo podem ajudar?
Outra bola pedindo para ir para o gol é a questão de educação, ciência e tecnologia. Universidades estão sofrendo asfixia. Uma política que mude isso e a questão ambiental têm a possibilidade de abrir a porta para investimentos. Com isso sendo bem feito, o câmbio cai e tende a ajudar o trabalho fiscal. Aí, o Banco Central pode reduzir o juro.
Como o cenário internacional pode interferir na economia brasileira em 2023?
Teremos um baixo crescimento global. No mundo ocidental, por causa da inflação e da política monetária dura, a desaceleração vai ser muito forte. Na Ásia, tem a desaceleração da China. Isso fará o preço das commodities cair.
O panorama para 2023, portanto, é negativo?
Tem um caminho possível, mas vai depender da habilidade de montar a regra fiscal. Os atores do mercado estão dispostos a comprar essa regra. Ninguém está exigindo mundos e fundos. O desenvolvimento depende de criar uma expectativa de que um futuro melhor é possível. O investimento é feito se o empresário acredita que ele vai dar certo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.