A interrupção nas transações seria um golpe para o governo liderado pelo ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, que precisa voltar a privatizar o banco até abril, dentro de um acordo firmado com autoridades europeias quando Roma resgatou o banco toscano, em 2017.
O UniCredit entrou em negociações exclusivas com o Tesouro italiano sobre o Monte dei Paschi neste verão europeu, concordando em negociar a compra apenas de algumas divisões do banco, excluindo negócios como escritórios centrais, parte dos empréstimos (todos os vencidos), e muitas filiais no sul da Itália. O UniCredit pontuou na época que só buscaria um negócio que não tivesse impacto sobre sua posição de capital e exigiu que fosse protegido de custos legais decorrentes de litígios em andamento.
Agora, as duas partes estão em desacordo sobre o montante necessário para tornar o negócio palatável para o UniCredit. O banco com sede em Milão quer que o Tesouro italiano recapitalize o Monte dei Paschi em mais de 7 bilhões de euros, o equivalente a US$ 8,15 bilhões, para que o negócio seja concretizado, enquanto o Tesouro estaria disposto a pagar até 5 bilhões de euros, segundo um interlocutor próximo às discussões.
Os recursos seriam necessários também para arcar com os custos da saída de até 7 mil funcionários do Monte dei Paschi, um terço da força de trabalho do banco.
Embora as negociações possam ser retomadas nos próximos dias, alguns envolvidos disseram que, neste estágio, a chance de o Tesouro e o UniCredit chegarem a um acordo é quase nula.
Draghi assumiu como primeiro-ministro este ano com a missão de reanimar a economia italiana, que quase não cresceu nas últimas duas décadas. Para tanto, está determinado a usar seu pouco tempo no poder – ele tem no máximo mais um ano e meio – para fazer mudanças que considera estarem atrasadas, como reformas estruturais para modernizar a atividade econômica e decisões como a venda do Monte dei Paschi.
Muitos políticos italianos reclamaram que os termos solicitados pelo UniCredit resultariam em uma “liquidação” do banco com sede em Siena, a um custo excessivo para o governo italiano. O colapso das negociações com o UniCredit, contudo, deixará o governo italiano com pouco tempo para encontrar uma solução. O UniCredit foi a única instituição financeira que considerou de fato a compra do Monte dei Paschi até agora.
O Monte dei Paschi, fundado em 1472 durante o Renascimento italiano, tem trazido problemas ao sistema financeiro do país há mais de dez anos. Neste período, sofreu com inadimplência, falta de lucratividade, um escândalo jurídico que manchou sua reputação e uma aquisição cara e malsucedida de um banco italiano rival.
A instituição já foi o terceiro maior banco da Itália, mas desde 2014, quando colocada à venda, não conseguiu encontrar pretendente. Após chegar perto da falência, o governo italiano interveio para nacionalizá-lo, gastando 5,4 bilhões de euros ou mais de US$ 6 bilhões na época, prometendo aos reguladores europeus que o revenderia no início de 2022.
(Com Dow Jones Newswires)