Havia a expectativa de que o presidente Jair Bolsonaro, finalmente, admitisse a derrota no pleito que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente da República, o que poderia eliminar o risco de contestação e também dissipar os bloqueios de caminhoneiros das rodovias. Ele até se manifestou no fim da tarde, mas sem qualquer comentário sobre o resultado das urnas, esfriando o ímpeto de queda dos juros.
De todo modo, a percepção de que a transição seria liderada pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), foi confirmada e, ainda que tenha sido antecipada pelo mercado, foi bem recebida. “É uma boa notícia a escolha de alguém que não é do PT para uma função tão relevante, contrariando a prática do partido de não dividir atribuições. Isso faz diferença e faz preço”, disse Pereira. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, disse que Lula ainda não definiu quem vai liderar a área econômica da transição. Porém, segundo apurou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o nome escolhido é de Aloizio Mercadante.
Evento mais esperado desde domingo à noite, o pronunciamento de Bolsonaro trouxe certa decepção aos investidores, que contavam com uma menção clara sobre o desfecho da eleição. Após o silêncio de quase 45 horas, ele agradeceu os votos recebidos, disse que as manifestações de caminhoneiros refletem “injustiça na condução do processo eleitoral” e que cumprirá a Constituição.
A reação dos ativos só não foi pior porque, segundo o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), o presidente autorizou o início do processo de transição. “Parece que ele realmente não vai questionar as urnas e está isolado, enfraquecendo a história do terceiro turno”, afirmou a economista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira.
Enquanto isso, centenas de bloqueios em rodovias do País comprometem o abastecimento de uma série de produtos, entre eles combustíveis, mas o mercado relativizou eventuais impactos sobre a inflação, na expectativa de que o pronunciamento de Bolsonaro esvaziasse o movimento.
Quanto à ata do Copom, houve uma percepção levemente dovish do documento, mas sem impacto nas apostas para a política monetária.