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Real é destaque positivo entre emergentes após PEC dos Precatórios

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Estadão Conteúdos

A aprovação da PEC dos Precatórios em segundo turno ontem na Câmara dos Deputados e as apostas em aceleração do ritmo de alta da taxa Selic, reforçadas pelo IPCA de outubro acima das expectativas, fizeram o real brilhar se destacar entre as divisas emergentes nesta quarta-feira, 10 – dia marcado por fortalecimento global da moeda americana, na esteira do avanço da inflação ao consumidor nos Estados Unidos.

Pela manhã, em meio ao alívio com a vitória tranquila do governo na votação da PEC, o dólar à vista chegou a furar o patamar de R$ 5,45 e desceu até a mínima de R$ 5,4366 (-1,06%). A máxima, a R$ 5,5101, veio à tarde, quando o índice DXY – que mede o desempenho da moeda americana frente a seis divisas fortes – e as taxas dos Treasuries registraram as máximas da sessão.

No fim do dia, com um ajuste de posições, dólar à vista fechou a R$ 5,5001, em alta de 0,10%. No exterior, a moeda americana apresentava ganhos de quase 3% frente ao rand sul-africano e de cerca de 1,5% ante o peso mexicano, ambos considerados pares da moeda brasileira. Na B3, o dólar futuro para dezembro fechou em alta de 0,22%, a R$ 5,51100, com giro de US$ 14,39 bilhões.

Analistas ressaltam que o real havia tido um desempenho muito inferior ao de outras divisas emergentes ao longo de outubro, mês marcado pelo anúncio da mudança na regra do teto de gastos, e agora exibe certo fôlego com investidores reajustando posições. Dados compilados pela Renascença mostram que ontem, dia em que o dólar caiu 0,83%, os investidores estrangeiros reduziram suas posições compradas (que ganham com a alta da moeda americana) em 24 mil contratos (US$ 12 bilhões), tendo bancos e fundos locais como contraparte.

Para o diretor da corretora Correparti, Ricardo Gomes da Silva, o real não tem fôlego para uma rodada de apreciação daqui para a frente. Ele ressalta que a PEC dos Precatórios ainda precisa passar pelo Senado, casa mais refratária ao governo e que tem no comando um pré-candidato a presidência, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). “O mercado é muito imediatista. A verdade é que não tem nada resolvido ainda na questão fiscal”, diz Gomes da Silva, acrescentando que o governo perdeu uma de suas moedas de troca na negociação com o Congresso, após o Supremo Tribunal Federal barrar o repasse de recursos por meios das emendas do relator, o chamado “orçamento secreto”.

A relatoria da PEC dos Precatórios no Senado ficará nas mãos de Fernando Bezerra (MDB-PE), líder do governo na Casa. Bezerra prevê votação da proposta nos dias 23 e 24 na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) ou, no mais tardar, entre 29 de novembro e 2 de dezembro. Em seguida, o texto vai para a apreciação do plenário. Segundo analistas, embora altere a regra do teto de gastos e represente um calote parcial no pagamento dos precatórios, a PEC, que libera R$ 91,6 bilhões de espaço no orçamento, dá alguma visibilidade a política fiscal ao estabelecer a fonte de recursos para o Auxílio Brasil.

Além das incertezas domésticas no campo fiscal, o diretor da Correparti vê ventos externos contrários ao real. Ele acredita que a aceleração da inflação nos países desenvolvidos levará a uma antecipação do aperto monetário, especialmente nos Estados Unidos. Gomes da Silva trabalha com perspectiva de que o Federal Reserve comece a subir os juros já em meados de 2022, o que vai levar a um fortalecimento global da moeda americana. “O dólar vai se valorizar lá fora e aqui também, mesmo com uma taxa Selic mais alta estimulando a arbitragem de taxa de juros. A incerteza ainda é muito grande”, afirma. “Eu vejo o dólar oscilando numa faixa entre R$ 5,50 R$ 5,70”.

Nos Estados Unidos, o índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 0,9% em outubro em relação a setembro, superando as expectativas, de alta de 0,6%. O núcleo do CPI – que exclui energia e alimentos – subiu 0,6%, quando se esperava 0,4%. Na comparação anual, o CPI teve alta de 6,2% em outubro, acima da projeção de alta de 5,9%. A meta de inflação perseguida pelo Fed é de 2%

Em relatório, o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, afirma que a leitura recente dos índices de preços nos EUA tende a dar mais força ao dólar no exterior e abalar a tese de que a inflação é transitória. Com isso, comenta Velho, deve haver um aumento de probabilidade, na curva de juros futuros americana, de que o Fed comece a apertar a política monetária até o fim do primeiro semestre de 2022.

Por aqui, a inflação também surpreendeu negativamente. O IPCA de outubro registrou alta de 1,25%, acima do resultado de setembro (1,16%) e do teto de Projeções Broadcast (1,19%). Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 10,67%, patamar mais elevado desde janeiro de 2016 (10,71%).

Diante da inflação corrente pressionada e da deterioração contínua das expectativas, crescem as apostas de que o Banco Central tenha que acelerar o ritmo de aperto monetário, com uma alta de pelo menos 2 pontos porcentuais na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em dezembro, nos próximos dias 7 e 8.

Na esteira do IPCA de outubro, algumas casas revisaram a estimativa para a taxa Selic no fim do atual ciclo de aperto monetário. O Barclays, por exemplo, alterou a projeção terminal para o juro básico de 10,5% para 11,25%, com risco de alta. O banco espera um aumento de ao menos 1,5 ponto porcentual da taxa Selic em dezembro, seguido por duas altas de 1 ponto em fevereiro e março de 2022.