De acordo com um levantamento realizado pela consultoria global Korn Ferry, 55% dos entrevistados afirmam que voltar a trabalhar do escritório gera algum tipo de estresse. Para piorar, 58% afirmam que têm medo de conversar com os seus chefes sobre continuar o trabalho remoto por receio de que isso prejudique as chances de ascensão na carreira. É aquele chavão corporativo: quem é visto, é lembrado.
O Estadão conversou com colaboradores de diversas empresas que têm esse sentimento, mas que preferiram não se identificar. A pesquisa ainda aponta que 70% dos entrevistados afirmam que será estranho retornar ao escritório e 74% se dizem mais produtivos quando trabalham de casa.
Ou seja: a retomada aos escritórios será mais difícil do que simplesmente abrir as portas para receber os funcionários de volta. Não por acaso, esse tipo de preocupação está circulando na área de recursos humanos do Itaú Unibanco. Segundo a diretora da área no banco, Valeria Marretto, existem muitas discussões a respeito desse receio de os colaboradores que preferem o home office precisarem voltar por uma ordem da chefia.
“Esse é um receio com praticamente todas as pessoas com quem eu converso, mas o que o próprio Milton (Maluhy Filho, presidente do Itaú) tem falado em lives é para termos uma visão de flexibilidade e que a volta continuará sendo voluntária”, diz Valeria.
Apesar de ter metade dos seus quase 100 mil funcionários trabalhando diariamente desde o início da pandemia nas agências bancárias, o retorno dos outros 50% para o escritório ainda é gradual. Hoje, por exemplo, só é permitida a utilização de 20% dos espaços dos prédios.
Como já estão atuando no modelo 100% presencial, os funcionários da incorporadora Viver que quiserem trabalhar algum dia de casa precisarão da liberação do seu gestor.
“Orientamos nossos gestores a analisar a situação, entender a situação da saúde mental do colaborador e também se o trabalho dessa pessoa é possível fazer de casa”, diz Ricardo Piccinini, presidente da Viver.
GESTÃO. Para Fátima Motta, professora de liderança e carreira da ESPM, esse novo momento gera incertezas por causa da novidade, mas as empresas precisam criar ou melhorar maneiras de medir o desempenho dos funcionários não pela presença física, mas pelos resultados entregues. “Obviamente que as pessoas precisariam ir em algum dia ou outro para o escritório, mas promoções e demissões precisam ser de acordo com o desempenho. Aquela cultura do chefe precisar ver o funcionário trabalhando é coisa do passado”, diz.
Por isso, na visão da diretora de recursos humanos do portal de contratações Catho, Patrícia Suzuki, é fundamental que esse retorno tenha transparência dos dois lados: tanto as empresas nas suas intenções, quanto os funcionários nas suas demandas – sem, obviamente, serem punidos por externar suas opiniões.
“As empresas devem dar clareza para os profissionais sobre as possibilidades de promoções naquele momento ou num futuro próximo”, diz Patrícia. “E os líderes têm papel fundamental para a geração de vínculo entre as equipes.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.