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Sem sustos com inflação nos EUA, dólar recua pelo segundo dia consecutivo

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Estadão Conteúdos

O dólar à vista emendou o segundo dia seguido de queda firme no mercado doméstico nesta quarta-feira, 12, em meio a um ambiente externo de recuperação do apetite por risco, alta das commodities e enfraquecimento da moeda norte-americana frente divisas fortes e emergentes.

Investidores celebraram a ausência de surpresas negativas no índice de inflação ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos em dezembro. Aliada à fala de terça-feira do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, a leitura do CPI afasta o cenário de ajuste de liquidez e aperto monetário mais rápido e rigoroso nos EUA ao longo deste ano – o que abre espaço para desmonte de posições mais pessimistas.

Afora uma pequena alta na abertura dos negócios, o dólar à vista trabalhou com sinal negativo durante toda a sessão, renovando mínima ao longo da tarde, quanto tocou pontualmente a casa de R$ 5,52. O aprofundamento das perdas por aqui se deu em sintonia com o movimento da divisa no exterior, com o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes – batendo mínimas, abaixo da linha dos 95 pontos.

Com oscilação de cerca de sete centavos entre a mínima (R$ 5,5293) e a máxima (R$ 5,6007), o dólar à vista encerrou a sessão em queda de 0,81%, cotado a R$ 5,5348 – menor valor desde 8 de dezembro do ano passado, quando também terminou o dia a R$ 5,5348. A última vez que o dólar fechou abaixo da linha de R$ 5,53 foi em 17 de novembro (R$ 5,5242). O contrato de dólar futuro para fevereiro terminou o dia a R$ 5,55650, baixa de 0,66%, com giro de US$ 13,3 bilhões.

“O CPI basicamente dentro das expectativas tirou fôlego do dólar, que caiu frente a moedas fortes e ao conjunto dos emergentes. Internamente, vimos um desmonte muito forte de posições defensivas de players, principalmente no mercado futuro”, afirma Ricardo Gomes da Silva, diretor da corretora Correparti.

O índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos subiu em 0,5% em dezembro, muito próximo das estimativas (0,4%), com o núcleo em 0,6%, também perto do que os analistas projetavam (0,5%). Embora sem surpresas negativas, a leitura do CPI revela uma taxa anual de inflação de 7%, o maior nível em quase 40 anos.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, observa que, em sua fala na terça, Powell deu destaque ao peso dos problemas das cadeias produtivas na inflação e deixou a mensagem de que o ajuste da política monetária vai se dar em doses homeopáticas. “Ele também jogou a questão da redução do balanço patrimonial para o fim do ano. Isso tirou pressão sobre o dólar no exterior”, diz Galhardo, acrescentando que a falta de notícias negativas vindas da política e as captações externas realizadas por empresas brasileiras também contribuem para a apreciação do real.

Falando em redução do balanço patrimonial do Fed, a presidente da distrital de Cleveland, Loretta Mester, defendeu nesta quarta que o processo ocorra “o mais rápido possível”, mas em uma velocidade que não cause distúrbios significativos nos mercados. Ela também afirmou que, caso a economia americana mantenha o vigor atual, pode apoiar alta de juros já em março. A dirigente tem poder de voto no Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) este ano.

Por aqui, analistas destacam que os juros internos mais elevados encarecem o hedge e desencorajam apostas especulativas mais contundentes a favor do dólar, sobretudo em um ambiente de recuperação dos ativos de risco. Isso daria, em tese, alguma sustentação ao real, embora não se vislumbre a perspectiva de uma rodada mais forte de apreciação da moeda brasileira.

Há ainda a expectativa de que os exportadores, após deixarem parcela substancial do caixa no exterior no ano passado, aumentem a internalização dos recursos neste ano. “Está caro e vai ficar caríssimo deixar caixa em dólar e euro. Acredito que isso vai inibir as posições especulativas compradas”, afirmou, no Twitter, o head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt. “Mas essa internação dos recursos dos exportadores depende também da avaliação do risco eleição. E, no momento, esse risco não é pequeno.”

Para Gomes da Silva, da Correparti, o dólar pode até romper pontualmente os R$ 5,50, mas não conseguirá se sustentar abaixo desse nível, mesmo com os juros domésticos mais elevados. Apesar do tombo dos últimos dois dias, ele vê o dólar em trajetória de alta no exterior, uma vez que o Fed, embora de forma cautelosa, vai ter de enxugar a liquidez. “Importadores estão vindo ao mercado para aproveitar esse dólar mais baixo. Existe uma demanda grande reprimida. Vamos ver um movimento de compra e de hedge de importações a descoberto. Vejo o dólar mais perto do patamar de R$ 5,70”, diz.

Dados do Banco Central divulgados nesta quarta-feira à tarde revelaram que o fluxo cambial na primeira semana de 2022 (de 3 a 7 de janeiro) ficou negativo em US$ 1,132 bilhão – resultado de saídas líquidas tanto do canal financeiro (US$ 987 milhões) quanto do comercial (US$ 144 milhões).