“Os bancos brasileiros são muito fortes, aprenderam a viver com a volatilidade de forma que estão melhor preparados e têm modelos de risco que incorporam muito da volatilidade”, disse Campos Neto. “Acho que estamos vendo novos bancos se organizando em segmentos específicos. Nosso sistema bancário cresceu, mas com menos concentração nos últimos anos.
“Ao comentar o que tornou o Brasil um “hub” de inovação financeira, o presidente do BC afirmou que as características econômicas do País pesaram. “Acho que começou com a inflação muito alta por um longo tempo. As pessoas foram criativas ao desenvolver formas de se protegerem da inflação, e acho que, a partir daí, houve uma cultura de encontrar formas de encontrar soluções financeiras”, disse.
Campos Neto reconheceu uma “concentração” do sistema bancário do País, mas pontuou que essa característica favorece a inovação. “Se você tivesse seis ou sete mil bancos, como nos EUA, teria sido mais difícil desenvolver algo como o Pix”, disse.
O presidente do BC ainda reiterou que os planos da autarquia para o Pix estão no início e que a implementação total do projeto ainda deve levar de dois a três anos.
Concentração de custódia no mercado de criptoativos
Campos Neto afirmou também que o problema de concentração de custódia no mercado de criptoativos é algo que preocupa e precisa ser resolvido. “Temos 83% de todos os criptoativos com quatro custodiantes. É perigoso.”
Outro ponto que Campos Neto se diz preocupado é que muitas pessoas não estão comprando diretamente criptomoedas, mas notas de participação de criptoativos. “Então estão comprando certificado e supõem que têm ativos por trás. Mas, se não regularmos, não saberemos.”
O presidente do BC explicou que o órgão vai regular todas as exchanges (corretoras de criptoativos) para se certificar que haja essa garantia por trás dos certificados negociados.
Hoje, o projeto de regulação desse mercado está em fase final no Congresso. Outra exigência às exchanges será um registro no País, segundo Campos Neto, que disse ainda que vai pedir para as plataformas “olharem para a questão da custódia”.
Real digital
O presidente do Banco Central ainda afirmou que o formato do real digital que a autarquia está desenhando é vantajoso porque “aproveita” a regulação atual de depósitos bancários. O BC quer dar a possibilidade aos bancos de transformarem seus depósitos em stablecoins, ligada à Moeda Digital do Banco Central (CBDC, na sigla em inglês). Além disso, o presidente do BC avaliou que esse modelo também deve desenvolver o mercado de securitização.
Na visão de Campos Neto, os protocolos que forem utilizados pelos bancos para emitir as stablecoins vão incentivar a securitização, que deve crescer muito, segundo ele. “Outra coisa que fizemos, de outro lado, foi dar a habilidade dos bancos de terem liquidez em troca de ativos privados. Quando coloca essas duas coisas juntas, se securitiza o crédito muito mais rápido”, disse.