A parceria recém-formada busca um processo mais sustentável do que o usado atualmente em vários países para recuperar minerais raros usados em baterias elétricas, como lítio, cobalto e níquel com alta pureza para que possam ser reutilizados na produção do equipamento.
A ideia é ter uma indústria nacional que possa, inclusive, exportar tecnologia e serviços nessa área, afirma Fernando Cestari de Rizzo, CEO da Tupy, grupo com fábricas em Joinville (SC) e Betim (MG) e três subsidiárias no México e em Portugal.
Rizzo explica que o propósito é desenvolver a reciclagem por sistema chamado de hidrometalurgia, no qual a bateria é “derretida” em baixa temperatura, permitindo a retirada dos compostos químicos em condições de serem reutilizados nos propulsores de automóveis elétricos.
Outros países também estudam essa tecnologia, mas, por enquanto, só utilizam o sistema tradicional de pirometalurgia, em que a bateria é derretida em alta temperatura, com elevado consumo de energia.
Economia
“Pela pirometalurgia, a taxa de recuperação dos minerais é menor e só podem ser reutilizados em outras aplicações, ou seja, não voltam para baterias”, explica Fabrício Luz Lopes, gerente de Tecnologia e Inovação do Sistema Fiep (composto pela Federação das Indústrias do Paraná e pelo Senai, entre outros).
A bateria representa atualmente cerca de 40% do preço de um carro elétrico. Os minerais usados na produção são raros e finitos e a reciclagem é um compromisso que vem sendo assumido globalmente.
Hoje, as baterias de carros elétricos e híbridos que rodam pelo Brasil são enviadas para as matrizes das montadoras para serem recicladas, num processo custoso para as empresas por causa dos cuidados para evitar acidentes, já que há riscos de fogo. “Podemos ter esse processo 100% nacional, o que nos viabiliza ter capital intelectual e tecnológico nesse processo”, afirma Paulo Marangoni, gerente do Instituto Senai, executor do projeto.
A BMW, primeira montadora a comercializar carros elétricos no País – desde 2014 – vai fornecer baterias do modelo i3 para os testes do projeto. Segundo a empresa, não são equipamentos em fim de vida, pois eles têm garantia de oito anos, e estão sendo substituídos em automóveis da marca para avaliar desempenho e desgaste.
Investimentos
A montadora com fábrica em Araquari (SC) também vai usar os materiais reciclados na produção de novas baterias, além de acompanhamento tecnológico, inclusive da matriz alemã.
A primeira fase do projeto terá duração de dois anos, mas os primeiros resultados devem ser divulgados ainda este ano. Nessa fase, vai consumir investimento de R$ 3,4 milhões.
Marangoni diz que parte da pesquisa será subsidiada por fundos do programa automotivo Rota 2030 das empresas envolvidas – a Tupy já tem expertise em reciclagem – e do Senai que, nos últimos dez anos, investiu quase R$ 3 bilhões em uma rede de institutos nacionais de pesquisa e desenvolvimento. “É importante ver o setor produtivo brasileiro se organizando para assumir esse protagonismo”, diz Marangoni.
Vivaldo Chaves, diretor de Sustentabilidade e Infraestrutura da BMW do Brasil, ressalta que o grupo tem vários estudos para o segundo uso das baterias, como em estações de recarga para veículos totalmente desconectadas da rede de energia. “A parceria com a Tupy e o Senai é um passo adiante, pois, no futuro, poderá viabilizar a produção de novas baterias com reduzida extração de matérias-primas do meio ambiente”, diz.
Apesar de o mercado de carros elétricos ser ainda pequeno no Brasil, Rizzo, da Tupy, reforça que o País tem todas as condições para executar esse projeto. “Temos uma oportunidade da qual vamos nos beneficiar na Europa e Estados Unidos – onde temos clientes. E também criar uma solução local, pois aqui, futuramente, também haverá um conjunto enorme de baterias para serem recicladas.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.