Por outro lado, a valorização do real (de quase 8%) entre janeiro e fevereiro fez com que as importações recuassem 23,4%, refletindo diretamente na elevação das exportações e do índice de utilização da capacidade instalada, respectivamente 3,1% e 78%. Ainda nos dois primeiros meses de 2022, a produção teve alta de 1,51% sobre igual período do ano passado, alavancada pelos grupos cloro e álcalis (29,58%), intermediários para fertilizantes (19,20%) e intermediários para plásticos (19,82%).
No que se refere aos preços, o segmento de químicos apresentou deflação nominal de 3,16%, conforme resultados do IGP Abiquim-Fipe, no acumulado do primeiro bimestre do ano, após alta, também nominal, de 62,3% entre janeiro e dezembro de 2021.
De acordo com Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Abiquim, não se pode deixar de mencionar as preocupações advindas do conflito entre Rússia e Ucrânia e os seus efeitos adversos no que diz respeito à disponibilidade de gás russo para o mercado europeu e de intermediários para fertilizantes para o suprimento da agricultura nacional.
“Para além da alta nos preços das commodities (o barril de petróleo tipo Brent foi vendido a US$ 112,5 o barril no final de fevereiro, a nafta petroquímica a US$ 857 a tonelada e o gás natural saltou para mais de US$ 30/MMBTU na Europa), há perspectivas de fortes impactos nos preços dos produtos químicos no mercado internacional para os próximos meses e nos custos relacionados à logística internacional”, diz ela.
No Brasil, pela necessidade de maior despacho das termelétricas movidas a gás e com o aumento do GNL importado houve impacto também nas tarifas de energia elétrica.
Tais fatores, acrescenta a executiva, têm pressionado a inflação doméstica, o que levou o Comitê de Política Monetária (Copom) a elevar a taxa básica de juros da economia para o patamar de 11,75%. O IPCA-IBGE ficou em +1,01% em fevereiro de 2022, acumulando alta de 10,54% nos últimos doze meses (vale ressaltar que a meta de inflação para 2022 é de 3,5%, tendo sido definidos como limites inferior e superior as taxas de 2,0% e de 5,0%, respectivamente).
Fátima afirma que o momento pede uma reflexão urgente: Além das outras questões, a química especificamente, segundo ela, corre o risco de perder o Regime Especial da Indústria Química (Reiq). Caso isso ocorra, diz, a ausência deste incentivo intensificará a falta de competitividade da produção local, fator que já levou à descontinuidade de diversas linhas de produção nos últimos anos e, consequentemente a um nível elevado de importações e a dependência brasileira em setores tão estratégicos, como o agronegócio.