Após pressionar o governo nos últimos meses pedindo protagonismo ao País nas negociações climáticas, o empresariado brasileiro começou nesta segunda-feira, 1º, uma extensa agenda de reuniões, seminários e apresentação de compromissos na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-26), em Glasgow, na Escócia. CEOs e executivos da área de sustentabilidade de grandes empresas seguem receosos com a imagem do País, mas dispostos a influenciar decisões e contribuir no debate.
Um dos líderes do movimento empresarial, Walter Schalka, presidente da Suzano (faturamento anual de R$ 30 bilhões), afirma que a COP-26 não é um evento corporativo, mas de transformação. “O mais importante é trabalhar para termos metas ambientais mais ambiciosas e de mais curto prazo, além de buscar a forma de financiar isso, o que passa pela criação do mercado de carbono global”, afirma ele, que é membro da Coalizão Brasil Clima, Floresta e Agricultura.
O executivo tem a aspiração de influenciar as decisões durante o evento, em contato com chefes de Estado e diplomatas. Ele afirma que são positivas as conversas com o ministro Joaquim Leite (Meio Ambiente), mas cobra um posicionamento sobre o desmatamento ilegal na conferência. “O Brasil precisa assumir posições de reversão da curva de desmatamento, apresentando ações. Sem isso, vai ficar fragilizado.”
NEGOCIAÇÃO
Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), que reúne 80 grupos responsáveis por quase metade do PIB brasileiro, lembra que as empresas implementam, na prática, os acordos que os países fazem, por meio de mudanças em seu modelo de negócio, produtos e serviços. “O sucesso de uma boa negociação tem de ser ouvido também pelas empresas.”
As empresas que desembarcam em Glasgow também querem mostrar seus compromissos ambientais, apresentar casos bem-sucedidos em sustentabilidade e participar dos muitos eventos programados para as duas semanas de conferência — inclusive, das reuniões laterais que acontecem em hotéis e espaços espalhados pela cidade.
Diretor de desenvolvimento sustentável da Braskem, Jorge Soto diz que a empresa vai levar ao evento seu biopolietileno, produto desenvolvido a partir da cana-de-açúcar. Ele conta que a companhia costuma ser questionada por clientes sobre desmatamento. “Temos códigos de conduta e controle sobre a cadeia de etanol. Independentemente da situação do governo, temos de sempre colocar o que estamos fazendo.”
Por fazer parte de um grupo formado pelo governo britânico, chamado Business Leaders da COP-26, a Klabin chega ao evento em posição privilegiada. A empresa quer participar ativamente de debates e espera ver, ao fim do encontro, propostas de mudança da matriz energética global. Já a Bayer espera avanços no Artigo 6 do Acordo de Paris e na regulação do mercado do carbono, afirma o diretor de Sustentabilidade para a América Latina, Eduardo Bastos.
A presença empresarial brasileira só não será maior pela dificuldade de credenciamento e estadia. Os organizadores da COP-26 esperam receber 25 mil pessoas, mas a cidade tem 15 mil quartos de hotel. O Bradesco, por exemplo, conseguiu uma credencial e seu representante ficou hospedado em Edimburgo, a 1 hora de trem de Glasgow. Em parceria com outros bancos, o Bradesco tem liderado medidas de desenvolvimento sustentável na Amazônia.
Já a Vale enviou três executivos para a COP-26, que vão se alternar durante dez dias em 30 eventos previstos, conta Maria Luiza Paiva, diretora de Sustentabilidade. Um dos mais importantes será o evento com o setor siderúrgico, principal cliente da mineradora. “Queremos compartilhar o que estamos fazendo e identificar oportunidades de parcerias.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.