Houve contribuição também de uma base de comparação fraca, uma vez que as vendas no varejo tiveram desempenho predominantemente fraco no segundo semestre de 2021. Além disso, há um número maior de pessoas trabalhando, e a desvalorização recente do dólar ante o real ameniza a pressão sobre itens importados, enumerou o pesquisador.
Na passagem de janeiro para fevereiro, o volume vendido cresceu 1,1%, melhor desempenho para o mês desde 2016, quando também houve expansão de 1,1%. No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, as vendas aumentaram 2,0% em fevereiro ante janeiro.
“O resultado foi positivo pelo segundo mês. Esse crescimento nesse momento também vem com uma distribuição bastante grande entre os setores”, observou Santos.
Seis das oito atividades que integram o comércio varejista registraram crescimento nas vendas em fevereiro ante janeiro: livros e papelaria (42,8%), combustíveis (5,3%), móveis e eletrodomésticos (2,3%), tecidos, vestuário e calçados (2,1%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,6%) e supermercados (1,4%). A única queda ocorreu em artigos farmacêuticos e perfumaria (-5,6%). O setor de informática e comunicação ficou estável (0,0%). No comércio varejista ampliado, o segmento de veículos registrou alta de 5,2%, enquanto material de construção caiu 0,4%.
A PMC de fevereiro trouxe uma atualização no modelo de ajuste sazonal, com reflexos sobre a série histórica. O resultado das vendas em janeiro ante dezembro foi revisto de uma alta de 0,8% para um avanço de 2,1%. No varejo ampliado, a taxa passou de queda de 0,3% para elevação de 0,2%.
“Não há nenhum tipo de quebra metodológica pela atualização que a gente fez”, afirmou Santos, lembrando que a forte revisão sobre o desempenho de janeiro “é natural do modelo de ajuste sazonal”.
A melhora no desempenho do varejo em janeiro e fevereiro fez o volume de vendas ficar 1,2% acima do nível de fevereiro de 2020, no pré-pandemia, embora ainda 4,9% abaixo do pico alcançado em outubro de 2020. No varejo ampliado, as vendas operam 0,8% acima do pré-pandemia, mas em nível 5,5% aquém do ápice registrado em agosto de 2012.
“O patamar de vendas ainda está abaixo do que já esteve em 2020. Nesses primeiros dois meses do ano, não há um cenário de recuperação relativa ao que foi o máximo da série, mas sim em relação ao patamar bastante baixo de dezembro de 2021”, afirmou Santos.
Segundo ele, o fim de ano fraco em 2021 levou empresas de determinados setores a fazerem promoções estratégicas no início de 2022, com peso significativo no resultado das vendas deste início de ano.
“Nem novembro nem dezembro foram bons para o comércio varejista. Isso fez com que empresas de determinados setores fizessem promoções estratégicas”, contou. “Tecidos e vestuário, móveis e eletrodomésticos, e outros artigos de uso pessoal e doméstico foram atividades que fizeram esse tipo de estratégia”, disse ele.
No geral, avalia Santos, a base de comparação baixa ajudou o desempenho do varejo no início de 2022. Apesar da mudança na trajetória neste primeiro bimestre, o setor ainda não recuperou todas as perdas do segundo semestre de 2021. Após um segundo semestre ruim, o varejo chegou a dezembro de 2021 em patamar 7,2% abaixo do registrado em julho daquele ano. Mesmo com a melhora recente, as vendas ainda estão 4,2% abaixo do nível de julho de 2021.
O resultado obtido pela receita nominal de empresas de alguns setores ainda se torna mais modesto quando descontada a inflação do período. Em supermercados, por exemplo, a inflação de alimentos impediu um avanço maior no volume vendido.
Já em combustíveis, a deflação observada em fevereiro dentro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, também do IBGE, que apurou queda de 0,92% nos preços dos combustíveis em fevereiro) impulsionou o desempenho do volume vendido.
“Os combustíveis acabam sendo o principal protagonista nesse crescimento de 1,1% no varejo na passagem de janeiro para fevereiro, porque houve diminuição da pressão inflacionária”, disse Santos.
Se por um lado a melhora da pandemia e a maior circulação de pessoas aumenta a receita do setor de combustíveis, a alta de preços em março pode reduzir o volume de vendas. Entre os ingredientes que ajudam o varejo no primeiro bimestre deste ano estão o aumento na ocupação e o câmbio.
“A massa de renda real tem caído, mas o número de ocupados tem crescido, o que coloca mais gente com possibilidade de consumo de produtos no comércio varejista”, lembrou Santos. “O dólar já foi bastante responsável pela queda em alguns setores em 2021, ao longo do segundo semestre. A partir deste ano tem menos pressão sobre produtos importados”, completou.