O valor do negócio não foi revelado pela companhia, que tenta ser discreta diante do atual cenário de austeridade para as startups. A fuga do capital de risco resultou em 2022 não apenas em demissões em massa, mas tornaram raras as histórias de grandes aportes no País. “A divulgação do valor poderia transmitir a ideia de que temos dinheiro em abundância ao mesmo tempo que, internamente, nosso discurso é de máxima eficiência”, explica ao Estadão Vander Corteze, fundador da companhia.
Ainda que não tenha uma cifra para ostentar, a Beep chama atenção com o novo investidor internacional. A healthtech é o primeiro investimento da CZI em saúde no mundo – embora Priscilla seja pediatra, a firma tradicionalmente foca em startups de educação. Em fevereiro de 2021, a CZI liderou a rodada de US$ 84,5 milhões na Descomplica, primeiro incursão da companhia no Brasil.
“Nosso time está bastante empolgado com o potencial da Beep de usar tecnologia para expandir de maneira equitativa acesso à saúde de alta qualidade, o que é consistente com a missão do CZI de construir um futuro mais inclusivo, justo e saudável para todos”, Vivian Wu, sócia administradora de investimentos do CZI.
As conversas entre a Beep e a CZI tiveram início no começo do ano – a ponte foi feita pelos outros investidores da empresa brasileira. “As primeiras conversas carregavam muito da euforia de 2021, que ignoravam equilíbrio de caixa e focavam em crescimento. Isso precisou mudar”, conta Corteze. Assim, a Beep fala em atingir break even (ou seja, deixará de operar no vermelho) no primeiro semestre de 2023.
Segundo o executivo, isso foi fundamental para que a CZI decidisse pelo investimento – ele também revela que o aporte foi do tipo up round (ou seja, corrigiu para cima o valor de mercado da companhia). Em abril de 2021, quando a companhia recebeu um aporte de R$ 110 milhões, a Beep estava avaliada em R$ 670 milhões – o valor atual também não foi revelado.
‘Amazon’ da saúde
Embora a Beep leve a fama de “Uber das vacinas”, Corteze prefere se afastar da comparação. “A ideia do Uber está muito ligada à gig economy, com o trabalho de parceiros. Os nossos funcionários são todos CLT”, argumenta. Ele prefere mirar em outra gigante tecnológica. “Queremos ser `a loja de tudo no universo da saúde’, assim como é a Amazon no comércio eletrônico”, diz.
A comparação faz sentido. A Beep Saúde clínicas licenciadas que funcionam como hubs que dão suporte à operação – assim como os centros de distribuição da varejista americana. São desses locais que sai uma dupla de enfermeiro e motorista para atender ao pedido feito via app. De fato, o cuidado com essa divisão da companhia faz lembrar a gigante fundada por Jeff Bezos. Durante 2022, a Beep fez ajustes no braço logístico, principalmente na otimização de rotas, o que permitiu aumentar as margens em 20% – o movimento ajudou a convencer os investidores a fazer o novo cheque. A projeção de faturamento para 2023 é de R$ 250 milhões.
Antes de se tornar a loja de tudo para saúde, a Beep planeja usar o investimento em duas frentes. A primeira é consolidar a sua atuação como serviço de vacinas – a companhia está em 150 municípios de seis Estados (SP, RJ, ES, MG, PR e DF) do País.
A segunda frente é crescer o braço de exames laboratoriais em domicílio, lançado depois do aporte de 2021. “Em nosso último aporte, ‘compramos’ a entrada para a festa. Agora, queremos marcar presença”, explica Corteze. Parte desse desafio é aumentar a cobertura de planos de saúde para o serviço. Atualmente, a companhia já faz parte de 40 planos de saúde, que abrangem 5 milhões de pessoas. “Queremos consolidar a liderança em medicina diagnóstica. E, no futuro, ofertar novos serviços, como infusão de medicamentos, delivery de remédios, saúde ocular e telemedicina”, diz.