Qual a relação entre arte e mercado financeiro? Antes de responder, vamos começar uma breve reflexão com um quadro de um dos maiores pintores americanos do século 19, William Holbrook Beard (1825-1900). Aliás, suas telas seguiram uma tradição que remonta à antiguidade, por meio da representação de animais personificando o comportamento humano. Este recurso chamado prosopopeia foi muito explorado comercialmente por Walt Disney, formando um dos maiores conglomerados de entretenimento do imaginário infantil.
The Bulls and Bears in the Market
Mas, vamos voltar à relação entre arte e mercado. No quadro abaixo – The Bulls and Bears in the Market – Beard usa animais para satirizar a New York Stock Exchange*: ali, os ursos simbolizam investidores “pessimistas” (bearish) e os touros os investidores “otimistas” (bullish). O caos da cena refere-se ao crash da bolsa de valores de 1873. Transcorrido quase um século e meio de sua vernissage, o significado pegou no mercado, referindo-se às tendências de alta e baixa.
Um pouco mais de interpretação: o clamor da Bolsa de Valores, a energia nervosa, tragédias e sucessos da vida no século 19, nunca foram sugeridos com tanta vivacidade e poder até então. Agora podemos estabelecer as relações.
Para se desenvolver na arte de investimento em ações, por exemplo, é necessário dominar alguns modelos mentais que surgem em estudos e pesquisas acerca da psicologia do investidor, a diferença entre preço e valor, entendimento, reconhecimento e controle de risco, além dos ciclos de mercado, como postulado por Howard Marks. Há um fator que torna tanto um investidor, quanto uma obra de arte originais: a autenticidade. Diz Marks:
“Devemos lembrar de que quase tudo é cíclico. Nada caminha para sempre em uma só direção. As árvores não crescem até o céu. Poucas coisas chegam a zero. Quase nada é tão perigoso para a saúde dos investidores quanto a insistência em extrapolar os eventos atuais para o futuro”.
Tanto a arte como o mercado financeiro nos educam. A primeira, nos oferece a possibilidade de experimentar as manifestações da essência humana. Uma ideia se torna acessível, pois, na arte, o pensamento ganha forma, tornando ainda mais complexas as pesquisas neurocientíficas, biológica e fisioquímica. Afinal, o cérebro é a via comum, o canal que faz a mediação entre as influências recebidas e o comportamento que ele produziu.
Feliz ou infelizmente, a natureza humana não veio com um manual de instrução, muito menos o mercado financeiro. Para melhor compreendê-los, a arte nos serve como guia e o mercado se revela no resultado das nossas ações. Em razão disso, o mercado encerra lições que nos faz refletir sobre o papel das empresas, instituições financeiras, alocações de recursos e o comportamento dos indivíduos com suas expectativas e desassossegos.
O envolvimento das pessoas é a razão básica para o comportamento cíclico do mundo. Tudo passa por ciclos de crescimento e declínio, ascensão e queda: as economias, os mercados e as empresas. O gráfico abaixo da First Trust Portfolios mostra o desempenho histórico diário do Índice S&P 500 em todo o U.S. Bull and Bear Markets desde 1942 até 2021.
Olhar para a história das expansões e recessões do mercado ajuda a obter uma nova perspectiva sobre os benefícios de investir a longo prazo.
Os mercados bear costumam acompanhar recessões globais, como a que ocorreu em 2020 com a pandemia. A respeito do gráfico:
- O período médio do Bull Market durou 4,4 anos com uma média retorno total acumulado de 154,2%;
- O período médio do Bear Market durou 11,3 meses com uma média perda cumulativa de -32,1%.
Ao longo da história, a arte se associou ao poder, à crítica, à religião, à propaganda, à vaidade, às paixões. O mercado também possui muitas relações. Arte e mercado estão ora na vanguarda, ora na retaguarda. Ambos atuam como um poderoso canal de progresso humano e civilizatório.
Daqui a mil anos, a capela Sistina seguirá despertando emoções. Há algo maior do que a busca pela genialidade artística ou preços de ativos: trata-se do nosso Valor como espécie. Compreendendo melhor a humanidade em suas manifestações, percebemos sua essência no que tange ao universal. Nessas humanidades, todos nos encontramos e fortalecemos nossos laços. Este bem intangível também é o sucesso ou o fracasso do mercado.
Feliz Natal e um próspero ano novo!
*Curiosidade: o cenário retratado por William Holbrook Beard é Broad Street. A Bolsa de Valores de Nova York ocupou o prédio à esquerda de 1865 até sua demolição em 1901. A atual Bolsa de Valores de Nova York foi construída no mesmo local em 1903.
Destaques do mês
Ibovespa | O último pregão do mês teve aquilo que o Ibovespa mais passou ao longo de novembro: volatilidade. O índice de referência para o mercado brasileiro de ações testou um limite perigoso, quase perdendo os 100 mil pontos. Mas a Bolsa teve motivos de sobra para oscilar tanto. O dia já começou com novos temores sobre a variante ômicron, da Covid-19. Hoje (30), no final do dia, a Anvisa confirmou os primeiros casos da cepa no Brasil. Ainda que os primeiros estudos mostrem eficácia das vacinas contra a nova cepa, ainda há muita incerteza sobre a nova variante.
PEC dos Precatórios | Aprovada hoje na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Faltando pouco para o início do recesso parlamentar, o texto precisa ainda ser aprovado em plenário, onde é necessário o apoio mínimo de 49 dos 81 senadores em dois turnos de votação.
Federal Reserve | O chairman do Federal Reserve, Jerome Powell, admitiu que a variante ômicron poderia reduzir a disposição das pessoas para trabalhar pessoalmente, o que desaceleraria o progresso no mercado de trabalho e intensificaria as interrupções na cadeia de suprimentos. Mas ainda assim, adotou um tom mais hawkish, afirmando que o Federal Reserve poderia encerrar o processo de injetar liquidez na economia antes do planejado.
Juros nos EUA | Os juros americanos, atualmente, estão próximos a zero. Uma elevação da taxa aumentaria a rentabilidade e atratividade dos títulos do Tesouro americano, que são considerados os mais seguros do mundo. Isso tiraria capital de investimentos de risco e sobretudo de países emergentes, como Brasil.
Indicadores Financeiros | Novembro
E o que era ganho mensal de 2,33% para o Ibovespa até o fechamento da última quinta (25) tinha sido transformado em perdas de 1,53% no soar do gongo de novembro nesta terça (30). Com queda diária de 0,87%, o índice foi aos 101.915 pontos. Uma nova mínima para 2021.
. Ibovespa: -1,53% | 101.915 pontos
. S&P 500: +1,08%
. Dow Jones: -1,91%
. Nasdaq: +3,46%
. Dólar Comercial: -0,19%%
. Fundos Imobiliários (IFIX): -3,64%
. CDI: 0,56%
. Poupança: 0,50%
De frente com o Gestor | Felipe Hirai
Convidamos o sócio-fundador da Dahlia Capital, Felipe Hirai para conversar sobre as estratégias dos fundos Dahlia Total Return e Dahlia Global Allocation. Hirai também mencionou o custo social do Carbono e cases da Bolsa brasileira. Confira!
Podcast Valor de Mercado
Neste episódio, abordamos o tema O atual momento da Economia Brasileira e seus Impactos na Bolsa de Valores. Convidamos três especialistas – André Motta, Romero Oliveira e Stefan Furtado – para traçar um cenário do mercado financeiro. Tópicos do bate-papo:
1. Bolsa / Dólar / Inflação / Selic – Como chegamos até aqui?
2. E agora? Visão e cenários para os próximos meses.
3. 2022 – Eleição e Copa
Over/underweight x ciclo econômico | Visão XP
Muitos se questionam se os ativos brasileiros estão baratos, mas poucos se perguntam em que ponto do ciclo econômico nós estamos agora. Na verdade, os ciclos econômicos são inevitáveis. Eles começam, inexoravelmente, chegam a um fim, até que, em certo momento, recomeçam.
Mas, qual importância de sabermos o ponto onde estamos no ciclo? Porque só assim poderemos inferir com maior precisão para onde estamos indo. Isso será uma variável importantíssima para dimensionar melhor as probabilidades de se o próximo movimento será de valorização ou desvalorização dos preços dos ativos.
Se a economia está se aproximando do final do ciclo de expansão econômica, o custo do capital está subindo, o retorno sobre o capital caindo e, como consequência, os preços dos ativos, provavelmente, tomarão tendência de queda.
Na ponta inversa do ciclo, se a economia já está há algum tempo se contraindo e a aceleração da contração vem se reduzindo e, com isso, o Banco Central cortando o custo do capital e o retorno sobre o capital passando a ser maior do que a taxa de juros, tudo nos leva a crer que a economia já atingiu o pior ponto do ciclo de contração e, provavelmente, logo adiante começará a dar sinais que a próxima pernada do ciclo será de expansão. Nesse momento, existe maior probabilidade dos ativos se valorizarem mais à frente.
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É sempre importante deixar muito claro que inferir é diferente do que tentar prever o futuro. Previsão é o que você acha que vai acontecer e inferência significa identificar a probabilidade de ocorrência de um evento, através da observação das variáveis disponíveis.
Fazer previsão embute uma crença. Embute, às vezes, até uma torcida, ou um sentimento de que se sabe o que vai acontecer no futuro. Inclusive, essa tentativa de se prever o futuro, contaminada por uma série de vieses cognitivos, pode ser extremamente perigosa. Corremos o risco de nos enganar, selecionando e escutando apenas as opiniões que corroboram com a mesma visão que a nossa, nos fazendo ficar excessivamente confiantes, nos levando a aumentar a posição, no engano de que temos certeza sobre o que vai acontecer no futuro.
Mas a pergunta que surge é: por que inferir sobre onde estamos no ciclo econômico vai influenciar no nosso processo de asset allocation?
Nosso processo de alocação de capital e de otimização de portfólio tem como primeiro passo a determinação das proporções de cada classe de ativos que compõe um portfólio. Essa é a alocação estrutural, que tem um horizonte de longo prazo.
Por exemplo, decisão do peso de renda variável local, internacional, peso de renda fixa, mercado imobiliário, private equity, multimercado, entre outros. Essa é a decisão fundamental de como o capital é alocado.
Mas, na segunda etapa do processo, a alocação tática ou cíclica, que tem horizonte mais de curto prazo, desviamos das metas de alocação estrutural dependendo de quão caras ou baratas os preços dos ativos estiverem. Over ou underweight em cada peso das classes.
E aqui saber o ponto do ciclo econômico é muito importante, pois inferindo com precisão onde estamos, podemos dar melhores probabilidades para os cenários futuros. Caro ou barato vai depender de qual será o próximo movimento do ciclo econômico.
Se ainda estivermos na fase de expansão do ciclo, os preços tendem a seguir se valorizando. Mas se estivermos perto do final, a probabilidade de queda nos preços aumenta. Por outro lado, se a fase do ciclo for de contração, a maior probabilidade é de desvalorização dos preços dos ativos. Mas se a fase de contração já estiver se esgotando, muito provavelmente o próximo movimento será se valorização dos preços.
Trazendo para a situação atual, até agora todos os dados, macro e micro econômicos, nos indicam que a economia brasileira está começando a entrar na fase de contração, sem ainda uma perspectiva de final dessa pernada de retração econômica. Pode ser que essa fase de contração não dure muito tempo, mas ainda não sabemos a duração nem a intensidade da queda. Se ela for curta e fraca, grande parte da queda já foi precificada nos ativos. Mas se essa fase for mais longa e mais intensa, os preços dos ativos ainda podem sofrer mais.
Nesse sentido, ainda nos parece mais coerente seguirmos underweight em renda variável e over em renda fixa, dado que a maior probabilidade é que a economia siga se contraindo e os ativos se desvalorizando. Enquanto isso, permanecemos atentos e diariamente investigando e coletando informações para melhor inferir em que ponto do ciclo nós estamos agora para tornar nosso portfólio ainda mais eficiente.
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