A Fogo de Chão, ou “fogo-dee-shoun”, como ensina o prospecto sobre a pronúncia do nome, nasceu no Brasil, mas há tempos não é mais uma companhia brasileira. Fundada em 1979, em Porto Alegre, foi comprada pelos irmãos Jair e Arri Coser, que fizeram do restaurante um dos principais do segmento de carne e churrasco no País, conhecido pelo seu sistema de rodízio.
Ainda sob o controle dos brasileiros, a companhia iniciou a sua expansão internacional, tendo os Estados Unidos como foco, chamando a atenção de investidores. Resultado: depois de anos de negociações com diferentes interessados, ela foi comprada, em 2012, pelo fundo americano Thomas H Lee Partner por um total de US$ 400 milhões.
Em 2015, com a expansão em ritmo mais acelerado, fez IPO na Nasdaq e levantou US$ 88 milhões. Três anos depois fechou o capital, quando foi revendida para o fundo Rhône Capital, por US$ 560 milhões. Agora, quem vai abrir o capital é a Fogo Hospitality, atual dona da rede de churrascaria.
Os recursos do IPO devem ser usados para pagar dívidas da rede, que somavam US$ 296 milhões no começo de outubro, de acordo com o prospecto, um crescimento de 114% na comparação anual.
A rede de churrascaria está presente hoje em 46 cidades dos Estados Unidos e vê potencial para chegar a pelo menos 300 restaurantes no país nos próximos 20 anos. Além dos EUA, já fincou bandeira em outros 14 países. No Brasil, são sete restaurantes. Para 2022, o plano anunciado é de abrir de oito a dez restaurantes próprios e “uma ou duas” franquias internacionais.
O IPO é coordenado pelos bancos Morgan Stanley, Bank of America, Jefferies, Raymond James e Credit Suisse. O código de negociação da ação na NYSE será “FOGO”.
Passado negativo
A empresa voltará à Bolsa americana após não ter uma experiência das melhores enquanto as suas ações eram negociadas. A companhia chegou a ter os seus papéis avaliados em quase US$ 22 cada, na época do primeiro IPO, mas nunca voltou a esse patamar durante os quase três anos em que permaneceu no mercado.
Em alguns momentos, a empresa passou a ver o seu valor de mercado cair para 50% do inicial. Perto do momento de fechar o capital, recuperou parte do valor e encerrou a sua primeira passagem na Nasdaq na casa dos US$ 15.
Para Rodrigo Lima, analista da corretora Stake, especializada em investimentos no exterior, a Fogo de Chão voltará ao mercado em um momento melhor do que saiu, com dívidas mais equacionadas e um crescimento mais forte do Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). “A empresa tem apresentado um crescimento do Ebitda de cerca de 17% ao ano desde 2016, então acredito que ela está em um momento melhor”, diz Lima.
Pandemia
A receita no Brasil é apenas uma fração pequena do total, somando US$ 8,7 milhões no mesmo período. Não à toa, desde março de 2020, a empresa cortou diversos colaboradores no País. Alegando falta de receitas por causa da pandemia, a empresa demitiu 255 funcionários sem negociar com o sindicato – o que fez ela ser alvo de uma ação do Ministério Público do Trabalho (MPT) do Rio de Janeiro anulando a decisão. Neste ano, no entanto, a Justiça do Trabalho de São Paulo autorizou a demissão coletiva.
“A empresa não conseguiu se reinventar durante a pandemia por causa do seu modelo de negócio focado no rodízio. Fica muito mais difícil fazer vendas por aplicativo”, diz Douglas Carvalho, sócio da empresa Target Advisor, especializada em fusões e aquisições. “Hoje, no Brasil, o negócio vale muito menos do que na época em que foi comprado.”
Outro ponto que Lima chama a atenção é o fato de a empresa voltar ao mercado de capitais em um momento complicado, com uma possível quarta onda com a variante Ômicron, e também em meio a uma mudança de hábitos dos consumidores mais jovens.
Segundo ele, há uma maior preocupação com o tipo de alimento que se coloca no prato, e a carne vermelha tem perdido algum espaço. “O mercado penaliza esse tipo de negócio no momento, mas ainda está cedo para dizer se esse furor causado pela Ômicron vai continuar. O que me mais chama a atenção como risco é que os millennials estão buscando um cardápio plant-based (de origem vegetal)”, diz o analista.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.