Análise e Opinião

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Como atravessar períodos de incerteza e investir melhor?

Por
Fabrício Lima

Na pesquisa lançada pela Xpeed – School by XP Inc. e capitaneada pelo Instituto Locomotiva, apesar de 80% dos brasileiros terem objetivos (sonhos) financeiros, apenas 1 em cada 3 acredita que vai conseguir alcançá-los. Na pandemia, 7 em cada 10 brasileiros passaram a perceber que sua renda seria insuficiente para cobrir seu custo de vida. Além disso, cerca de 90% dos brasileiros querem aprender a investir e a se organizar melhor financeiramente. Esses dados nos diz muito sobre como atravessar períodos de incerteza.

Se o cenário já era ruim durante o pior período da pandemia, a escalada da inflação (que atingiu mais de 10% nos últimos 12 meses) reduziu drasticamente o poder de compra do brasileiro. E a guerra entre Rússia e Ucrânia colocou mais pressão sobre os preços, haja vista o valor que está sendo cobrado nas bombas de combustível, gás de cozinha e alimentos básicos.

Todos nós queremos chegar a um futuro melhor posicionados do que, por exemplo, nossos pais chegaram ao presente momento. Mas sinto em lhe dizer, estamos atravessando uma crise.

De acordo com Aswath Damodaran três coisas acontecem quando passamos por uma crise:

  1. Tendemos a perder a perspectiva;
  2. Tendemos a perder a fé em tudo que achávamos que sabíamos;
  3. Procuramos especialistas para nos dizer o que fazer.

No entanto, crises também geram oportunidades. Howard Marks, vice-presidente e um dos sócios-fundadores as Oaktree Capital, uma das maiores gestoras do mundo, afirma que o big money e o easy money em investimentos são gerados através das coisas que outras pessoas não querem ou têm medo de fazer. Geralmente, isso inclui investir em período de tensão nos mercados.

Apesar disso, é preciso tomar risco com sabedoria. Assim, existem algumas atitudes que aumentam nossas chances de sucesso no longo prazo. Aliás, o objetivo deste artigo, portanto, é compartilhar com você, nosso leitor e investidor, quais são esses comportamentos.

Diversificar os investimentos

O caminho mais fácil é diversificar os seus investimentos. Evite deixar todo seu patrimônio concentrado num único ativo ou estratégia. Assim, você mitiga o risco específico de ruína. A grande tacada não existe. Contudo, há quem acredite que o risco vem de você não saber o que está fazendo e que a diversificação ampla só é necessária quando os investidores são ignorantes.

De acordo com Warren Bufett, você só precisa fazer algumas coisas certas na vida enquanto evita fazer muitas coisas erradas. A grande verdade é que quem tem humildade em reconhecer o que sabe e principalmente o que não sabe pode, gradualmente, ir aumentando o risco de seu portfólio.

Diferentemente do que prega o consenso do mercado, pode sim concentrar seus investimentos quando lhe for conveniente. Grandes empresários têm praticamente todo patrimônio concentrado em seu próprio negócio.

Isso nos leva à seguinte conclusão:

  1. Concentre quando você confia muito no investimento, quando o preço é baixo, os resultados ótimos e com alta visibilidade;
  2. Diversifique quando os riscos são altos, a visibilidade é baixa, os preços estão elevados e as oportunidades estão escassas – normalmente quando o mercado dá sinais de euforia.

Enfrentar a crise

Durante uma crise, ter dinheiro em caixa, além de lhe manter vivo confere uma vantagem enorme: poder comprar barato. A sua melhor estratégia de hedge (proteção) é o seu caixa, mesmo que isso signifique ficar de fora do oba oba. Todos sabemos onde o oba oba termina. Portanto, tenha dinheiro em caixa (liquidez).

Poupe sempre. Não conheço nenhum rico que gasta mais do que ganha. Faça da poupança um hábito.

Não fique vidrado no home broker. Isso vai emburrecê-lo. Use seu tempo para aprender mais sobre as empresas e os negócios. Muita gente sabe o preço dos ativos, mas poucos sabem realmente o quanto valem.

Não permita que a facilidade e a atualização instantânea da internet o seduzam a se tornar um especulador. O investidor defensivo participa da corrida e ganha, sentado.

Não tente acertar o ponto exato de compra e venda. No longo prazo, comprar 10 centavos acima ou abaixo não faz a menor diferença.

Busque incansavelmente por negócios com assimetria favorável. Aqueles em que você tem pouco a perder e muito a ganhar. Qual a sua margem de segurança? Quanto maior, melhor.

Compre sempre aos poucos. Você sabe qual o ponto ótimo de compra? Eu também não. Por isso, comprar de pouquinho em pouquinho mitiga o risco de você errar o timing e beneficia o seu preço médio.

Leia muito e leia de tudo. Livro é melhor que jornal. Carta aos cotistas dos gestores são melhores que sites de finanças.

Vivemos na era das fake news. Há muito ruído e muito economista que passa metade do tempo fazendo previsões e outra metade do tempo justificando porque suas previsões não deram certo.

Desconfie de dinheiro fácil. Discursos como “oportunidade única”, “ganho garantido”, “vou te ensinar como ficar rico em duas semanas, arrasta pra cima”, “agora ou nunca”, entre outros, são na maioria das vezes falácias de pessoas mal-intencionadas. Quando as pessoas querem o impossível, apenas os mentirosos podem satisfazer.

Crises vem e vão. Oportunidades também. Sempre haverá sol para quem está atento. Seja paciente, disciplinado e tenha ao seu lado um assessor em que você confie.