Após cinco meses de perdas consecutivas, período no qual cedeu 19,62%, o Ibovespa avançou 2,85% em dezembro de 2021 – na última semana do ano, cedeu 0,07%. Os dois anos de pandemia mostram grande contraste em relação ao que o precedeu, 2019, quando a referência da B3 subiu 31,58%, o maior ganho desde 2016 (38,9%), que havia sucedido recuo de quase 29% no intervalo entre 2013 e 2015, três anos de perdas sucessivas.
No quarto trimestre de 2021, o Ibovespa acumulou perda de 5,54%, após retração de 12,47% no trimestre anterior, que interrompeu a sequência positiva entre março e junho – o desempenho negativo de janeiro e fevereiro, que colocou as perdas acumuladas no primeiro trimestre a 2%, foi sucedido por reação a partir de março, até junho, mês em que renovou máxima histórica a 131,1 mil pontos e de fechamento, a 130,7 mil, no dia 7. Assim, os ganhos do primeiro semestre foram a 6,54%, com recuperação de 8,01% no intervalo abril-junho.
Por outro lado, os dois piores meses do ano foram setembro (-6,57%) e outubro (-6,74%), que marcaram a transição das dúvidas sobre a estabilidade institucional, até o discurso presidencial de 7 de setembro, para o que se mostrou ainda mais preocupante: a incerteza sobre a situação fiscal.
Para agravar o quadro doméstico, o ano chega ao fim com sinais mais restritivos sobre a orientação da política monetária, especialmente nos Estados Unidos, e alguma dúvida quanto à extensão do dano que a variante Ômicron trará à recuperação econômica global, considerando a recente aceleração do contágio em países do hemisfério norte. No ambiente interno, janeiro e fevereiro tendem a ser meses movimentados para o governo, com o funcionalismo federal se organizando para reivindicar aumento salarial em ano de eleição.
“A Bolsa tentou alguma recuperação nesta última sessão do ano, mas ainda pairam questões como a inflação elevada e o nível de juros, e a insegurança fiscal, com a pressão dos servidores por reajuste. Descontrole fiscal, ainda mais em ano eleitoral, tem acarretado certa desconfiança do mercado nesses últimos dias”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, chamando atenção para a dissonância entre a B3 e Nova York, em recordes históricos neste fim de ano, assim como Europa. “Ainda que a Ômicron pese, as economias avançadas têm mostrado que vamos continuar a conviver com isso – e, com vacinação, a reação é leve”, acrescenta.
“Na Bolsa brasileira tivemos deterioração de junho em diante, com o fiscal, o monetário e o político, principalmente com a quebra do teto de gastos e a PEC dos Precatórios. A trajetória fiscal se deteriorou muito, trazendo incerteza para 2022, que se agravou de forma geral com as variantes do coronavírus, apesar da expectativa de que estejamos mais perto do fim da pandemia – há ainda contágio, mas com menos letalidade”, diz Davi Lelis, sócio da Valor Investimentos.
“No segundo semestre, o Ibovespa foi puxado (para baixo) muito pelo pessimismo do investidor doméstico, com o estrangeiro em volume de compra líquido superior a R$ 65 bilhões. Os grandes vendedores foram os locais, tanto os institucionais – aí entram os fundos de ações como os regimes de previdência e fundos de pensão – como os individuais, que vinham crescendo em participação na Bolsa nos últimos anos”, diz Alexandre Brito, sócio da Finacap Investimentos, acrescentando que o avanço dos juros ao longo do ano trouxe perspectiva diferente quanto a risco e retorno.
Assim, com os locais reduzindo a exposição à Bolsa e os estrangeiros aproveitando os descontos em dólar para efetivar compras, o Ibovespa, na moeda americana, encerrou o ano a 18.799,19 pontos, comparado a 22.937,77 pontos no fechamento de 2020, quando a referência da B3 marcava um nominal de 119.017,24 e o dólar à vista estava em R$ 5,1887. Em 2021, o dólar à vista fechou a R$ 5,5759.
Nesta última sessão de 2021, destaque para Méliuz (+7,64%), Sul América (+6,84%) e Magazine Luiza (+6,80%). Na face oposta do índice, Marfrig (-3,71%), Itaú PN (-1,64%) e Santander (-1,35%). Vale ON (+0,92%) e as ações de siderurgia (Usiminas PNA +2,43%) em geral avançaram nesta quinta-feira, enquanto o dia foi de ajuste negativo para Petrobras ON (-0,81%) e PN (-0,32%).