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Neuza Sanches: ‘Celular é uma arma de defesa ou ataque contra a democracia’

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Estadão Conteúdos

Imagens capturadas e compartilhadas por celulares pautaram a política global nos últimos anos. Entre os exemplos, estão desde registros de hospitais lotados na pandemia até o discurso de inspiração nazista do ex-secretário de cultura Roberto Alvim. Com uma longa carreira nos principais veículos do País, entre eles o Estadão, a jornalista Neuza Sanches investigou esses acontecimentos para pensar como os smartphones transformaram a relação dos cidadãos com as instituições democráticas.

As conclusões estão em Celular: democrático ou autoritário (Ed. Contexto, R$ 35), em que Neuza reúne figuras que vivenciaram esses espaços de perto, como o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim e o ex-presidente do Banco Central Pérsio Arida, além de jornalistas e profissionais da iniciativa privada.

A conclusão da autora é que o celular é uma arma: concede poder aos usuários para a defesa (como nos registros de violência policial) ou ataque (como as fake news) às instituições.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Como funciona a metáfora do celular como arma?

É uma arma de defesa ou ataque às instituições democráticas. Um exemplo é a organização de manifestações, contra ou a favor do governo, sem a participação de partidos ou sindicatos. Também é usada em gravações denunciando a violência, caso da procuradora surrada pelo colega e do Genivaldo, morto por asfixia pela Polícia Rodoviária Federal; denunciando o preconceito racial; e a desobediência cívica. Não há semana em que não existam denúncias de todos os tipos. Tudo isso em defesa da cidadania e contra preconceitos. Ou não.

Por que o foco no celular?

O celular virou mais do que um aparelho de comunicação. Ele proporcionou trabalho de empreendedorismo, pelo uso do Instagram ou outras redes, e gerou subemprego pelos apps de entrega e de comércio eletrônico. Seu uso se tornou tão diversificado que mexeu na economia do País ao ponto de surgirem bancos que nasceram justamente devido ao uso e à disseminação do celular.

Quais são as particularidades do Brasil?

O Brasil criou o celular pré-pago. Um conjunto de fatores fez com que os brasileiros estejam sempre nos primeiros lugares nos rankings de uso do celular. São eles: a privatização das telecomunicações nos anos 1990 no governo FHC, a tecnologia da fibra que conseguiu superar as dificuldades topográficas e o próprio acesso e barateamento do celular por conta principalmente do sistema pré-pago.

O que esperar das eleições?

Desinformação como jamais se viu por causa da produção desenfreada de conteúdo e a sua velocidade de disseminação. Veremos as autoridades correndo atrás, enxugando gelo.

Com o 5G e promessas de metaverso, o que podemos esperar?

Uma velocidade ainda maior das transformações de comportamento dos brasileiros. O livro é apenas o início dessa reflexão. Estamos vendo todos os dias essas transformações sob o ponto de vista da sociologia, da política e da economia.

A legislação atual para combater a desinformação é bem-sucedida?

Não. Trata-se de ações paliativas. A saída é a educação nas escolas sobre o poder do celular, a conscientização do uso de redes sociais e aplicativos e o incentivo à leitura de livros e jornais para o desenvolvimento do senso crítico. O próprio jornalismo pode ser mais eficiente do que a criação de leis. As leis até podem amenizar, mas serão na prática limitadas e paliativas. E podem criar outro problema: a censura.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.