Ao afirmar que a estrutura de governança corporativa da Novonor está estabelecida e já reconhecida, a dupla afirma que a maior parte do mercado já entendeu que a empresa está em um novo momento. E, embora a companhia esteja olhando para frente, os executivos ressaltam que houve heranças positivas da Odebrecht. “Na construção civil sempre tivemos qualidade reconhecida nas obras e tudo era baseado em pessoas”, disse Lopes.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Por que o sr. aceitou vir para a Novonor?
Nuñez: Nunca imaginei estar à frente de uma empresa como essa, com essa complexidade e no segmento de infraestrutura. Mas, quando veio essa oportunidade, percebi que, com o caminho já pavimentado, com a recuperação judicial homologada, acordos de leniência feitos, foi possível olhar para a lente estratégica. Cheguei ao conselho de administração no ano passado para conhecer bem o grupo e suas empresas, de forma aprofundada, e começar a pensar nos próximos passos de futuro.
O grupo tem hoje restrições para participar de obras públicas?
Lopes: Não temos nenhuma limitação. O que existe é pouca obra de infraestrutura pura.
E a empresa diminuiu muito de tamanho…
Lopes: A gente enfrentou uma crise no negócio e uma baixa histórica. Além de os investimentos terem diminuído, veio a diminuição de toda a indústria, o lockdown. Já tivemos 130 mil funcionários. Na pandemia, eram 8 mil (na OEC). Hoje estamos com 10,5 mil, no próximo ano estaremos próximos de 12 mil e chegaremos a 15 mil em dois anos. Estamos aproveitando o período para nos reorganizarmos. Já estamos participando de licitações no Brasil, e as perspectivas são animadoras.
E onde estão as maiores oportunidades de crescimento?
Nuñez: Existem países em momentos diferentes. Por exemplo, nos EUA, há um plano de investimentos de US$ 1,3 trilhão do Joe Biden (presidente dos EUA). Neste momento, estamos apresentando uma proposta de um monotrilho em Miami e outra dentro do porto da cidade. Também estamos preparando propostas para o aeroporto de Miami, onde já temos uma relação de 20 anos. Angola, por sua vez, está retomando o investimento já que houve um aumento do preço do petróleo, o que ajudou a economia de lá. E o Brasil deve voltar a investir em infraestrutura nos próximos anos.
Vocês acreditam que o Brasil precisa retomar o investimento público?
Nuñez: O Brasil precisa investir. Acreditamos que, independentemente do candidato que se tornar o próximo presidente, os investimentos precisam estar na agenda.
Mas a OEC vai disputar concessões, como no passado?
Lopes: A concessão é um negócio relativamente novo na empresa. Nossa primeira entrada em uma PPP (Parceria-Público-Privada) foi no Peru, em 2004, e depois vieram outras. Agora, estamos mais focados na engenharia e na construção. Temos procurado algumas concessionárias e estamos com uma agenda intensa de serviços de infraestrutura e vamos entrar em um ciclo que vai ser muito produtivo.
Em quais áreas a empresa vai estar mais focada?
Nuñez: Temos verticais claras: saneamento e energia. Já construímos mais de 65 hidrelétricas no mundo, sendo 18 simultaneamente. Mas também estamos falando de usinas solares e eólicas e eventualmente até mesmo na área de hidrogênio verde. Também estamos de olho na questão de infraestrutura pura e industrial.
Como está o andamento da recuperação judicial?
Nuñez: Estamos cumprindo todos os nossos acordos e estamos em discussão dos credores. Um dos desafios será buscar financiamento. Mas temos conseguido isso, por exemplo, em Angola, com bancos internacionais e seguradoras. A nossa recuperação e saída do processo virá de uma série de componentes. Uma via serão os desinvestimentos, que precisamos fazer para pagar dívidas. E parte disso será com geração de caixa. As nossas empresas vão crescer e gerar resultados.
A venda da Braskem deve sair logo?
Nuñez: A nossa recuperação judicial tem vários componentes, e um deles é o de desinvestimentos. Não temos só a Braskem, que não posso entrar em muitos detalhes por ser uma empresa de capital aberto, mas também temos outras como a Ocean, de óleo e gás, além da nossa empresa de concessões.
Vocês trabalham com algum tipo de prazo para terminar esse plano de desinvestimentos?
Nuñez: Não temos um deadline(prazo) e muito depende do mercado. Obviamente, não queremos viver isso por muito tempo e queremos desinvestir o mais rápido possível.
O passado negativo é conhecido. Mas o que ficou de positivo da antiga Odebrecht para a Novonor?
Lopes: Temos uma equipe extraordinária. Na construção civil sempre tivemos qualidade reconhecida nas obras que fizemos e tudo era baseado em pessoas. Temos certeza de que, com essa qualidade, que impressiona até hoje, acontece porque as pessoas se juntam à equipe para realizar coisas fantásticas. Nosso papel tem sido e será construir e reconstruir essa confiança com todos os stakeholders (parceiros) e estamos nessa batida.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.