Análise e Opinião

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Recessão em 2023, entenda os riscos

Por
Amanda Aguiar

Muito se fala sobre o caminho para uma recessão mundial em 2023. Mas o que é uma recessão?

A recessão  econômica acontece quando um país demonstra taxa de crescimento negativa por dois semestres consecutivos. Existem muitos indicadores que devem ser levados em consideração em uma recessão econômica, mas uma das métricas mais utilizadas para quantificar esse crescimento é o PIB de um país – Produto Interno Bruto, que representa a soma de todos os bens e serviços finais produzidos pelo país.

Normalmente a recessão acontece depois de períodos de inflação alta, onde a principal ferramenta dos bancos centrais para trazê-la a patamares menores é o aumento das taxas de juros. Com isso a população perde a confiança em consumir mais que o necessário, já que empréstimos e financiamentos ficam mais caros e consequentemente, menos atrativos. A consequência disso é um resfriamento no consumo, com condições financeiras piores, as pessoas e empresas revisam suas expectativas de consumo e investimento e optam por serem mais cautelosos, postergando as decisões de investimento e reduzindo o consumo por conta da incerteza em relação a sua riqueza.

Pense na economia como um relógio, onde cada engrenagem pode trabalhar em velocidades diferentes, e isso resulta em um relógio adiantado ou atrasado. Dessa forma a recessão é o resultado de várias “engrenagens” da economia que apontam a contração econômica.

Recessões são marcadas pela alta na taxa de desemprego, maior risco de falência das empresas, diminuição na renda e queda na produção industrial.

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Cenário Externo

 Sabemos que as consequências econômicas da pandemia atingiram países do mundo todo. De um modo geral a COVID-19 obrigou grande parte da população a ficar em casa, afetando diretamente os empregos e a geração de renda das pessoas. Isso fez com que os bancos centrais precisassem distribuir renda à população através de programas de auxílio, para auxiliar no consumo básico e diminuir os impactos desses cortes na geração de renda. Apenas esse fato por si só já seria o suficiente para elevar a inflação global a níveis muito altos.

Junto com o fator pandêmico, a guerra entre Rússia e Ucrânia teve grande impacto sobre o fornecimento e a política de energia da Europa. A interrupção no fornecimento de gás natural foi uma resposta da Rússia às restrições comerciais estabelecidas após o início da guerra. Fazendo com que países da Europa e principalmente a Alemanha tivessem que considerar formas alternativas de gerar energia.

Com a demanda de energia maior do que a oferta, os preços são pressionados para cima, atingindo níveis recordes e as companhias são obrigadas a repassar isso ao consumidor que acaba pagando muito mais caro do que normalmente. Alguns países como a Alemanha que mesmo dependendo em grande parte do gás natural fornecido pela Rússia, anunciou pacotes de ajuda das famílias e empresas para ajudar a lidar com a alta da inflação. O que atrasa as consequências, mas não as elimina, podendo agravar ainda mais a situação, já que injetando mais dinheiro, a inflação tende a subir mais.

No curto prazo, isso significa mudar para fontes alternativas de energia, que não o gás natural vindo da Rússia. No médio e longo prazo, podemos esperar um aumento dos investimentos em resiliência energética, inclusive em infraestrutura e em energia alternativas, como eólica, solar e nuclear.

O que é a taxa básica de juros (Taxa Selic)? Conheça como se beneficiar desse investimento e lucrar com os juros altos da renda fixa.

 Juros

A inflação mais alta já era esperada em 2021. Foi o preço a se pagar por ajudar a população a passar por uma crise tão drástica como a de COVID-19 e a falta de auxílios para a população poderia ser muito mais prejudicial, gerando maiores taxas de endividamento, mais fome e mais falência de pequenos comércios.

A diferença é que para países emergentes como o Brasil, a inflação é um perigo que sempre está próximo, com ou sem pandemia. Já que os emergentes mostram mais riscos no que diz respeito a políticas fiscais e intervenções governamentais, o que pode ajudar na alta da inflação, que em situações mais agravadas evolui para uma hiperinflação.

Por isso que em março de 2021 o Brasil se antecipou e começou o movimento de subida do juros, para ancorar as expectativas de inflação e trazer mais certeza quanto à riqueza das famílias. A taxa Selic saiu do menor patamar histórico de 2% para atuais 13,75% em menos de dois anos. O Banco Central já trazia preocupações sobre a necessidade de agir para conter as expectativas inflacionárias e a importância de fazê-lo rapidamente, em função dos riscos envolvidos para a economia brasileira.

Enquanto isso, os Bancos centrais de economias desenvolvidas, como Estados Unidos, Inglaterra e o Banco Central Europeu, demoraram mais para iniciar esse movimento de alta de juros. A Inglaterra começou em dezembro de 2021, seguida pelo Banco Central Europeu em fevereiro de 2022 e só um ano após o Brasil subir a taxa básica de juros pela primeira vez, foi que os Estados Unidos fizeram os primeiros movimentos, em março de 2022. Até então a inflação alta era tida como algo transitório, que não reverberou por muito tempo.

Desde junho deste ano, o IPCA – principal índice de inflação brasileiro – tem mostrado percentuais negativos, graças a política de alta de juros  normalização da cadeia de suprimentos, redução do preço das commodities, medidas tributárias para redução do preço final (PEC), mesmo com projeções ainda acima da meta para 2022.

Impactos de uma recessão mundial no Brasil

Com a queda no consumo mundial, as exportações brasileiras tendem a cair, já que a demanda dos países compradores também será menor. Isso impacta na balança comercial do país e na cotação do dólar. Se tem menor volume de compra no Brasil, tem menos dólar entrando no país, consequentemente, isso encarece a moeda.

Por outro lado, mesmo com o aumento das taxas de juros norte-americanas, o prêmio de risco brasileiro é mais interessante,ou seja, juros mais altos significa que o Brasil remunera melhor quem investe aqui. Por ser um país emergente, com mais riscos internos, o investidor exige uma remuneração maior para se arriscar, chamamos isso de prêmio de risco.

Curiosamente, o Brasil pode se beneficiar em certos âmbitos, fazendo jus a premissa de que crises geram oportunidades. Principalmente quando falamos de petróleo, já que nós exportamos essa matéria prima, e com as restrições contra a Rússia, que é um dos grandes fornecedores mundiais, os preços tendem a subir e a demanda para outros países exportadores sobe trazendo mais equilíbrio à balança comercial brasileira . Além de exportar outras commodities também, como soja, carne bovina e minério, principalmente para a China que que atualmente é a principal parceira comercial do Brasil.

Ainda que uma recessão global tenha consequências negativas também no Brasil, o cenário doméstico apresenta riscos mais urgentes como o cenário fiscal, onde os gastos do país superam as arrecadações e essa tendência deve se agravar neste ano porque os juros do país subiram, o que aumenta a despesa do Tesouro com a administração da dívida pública. E com o cenário eleitoral ainda em aberto, faltando poucos dias para o segundo turno, o risco político também se torna real, dado que os dois candidatos à presidência têm abordagens diferentes para tratar dessas questões, o que gera mais insegurança ainda.

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Este artigo tem como objetivo democratizar o acesso à educação financeira via Amanda Aguiar, Assessora de Investimentos da Simples MFO.

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