Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, esteve presente junto com Artur Wichmann – CIO Global XP Private e Alberto Bernal – Chief EM and Global Strategist at XP Investments, no maior evento de investimentos do mundo: Expert 2022.
De acordo com L. Summers, “estamos num tempo difícil para políticas monetárias e controle de inflação. E eu sempre acreditei que o caminho natural era a América Latina caminhar em direção à América no Norte […] eu me pergunto se não são os Estados Unidos que estão se tornando mais parecidos com a América Latina.”
Em seu paper de abril ele comentou que os Estados Unidos provavelmente passarão por uma recessão de dois anos, pois o mercado de trabalho está aquecido (baixo desemprego de aproximadamente 3,5% implica pressão por maiores salários) e para conter a inflação é necessário aliviar a economia de forma significativa. “Acredito que soft landing representa o triunfo da esperança sobre a experiência. O mais provável é que considerando o quanto a inflação ficou alta, o quanto a economia está superaquecida, nós não teremos uma aterrissagem suave.
Uma recessão nos Estados Unidos e uma recessão na Europa, com consequências para a economia global, especialmente considerando tudo que está acontecendo na China, são bastante prováveis. Mas eu acho que o maior erro seria não reconhecer que nós criamos o problema da inflação e agora temos que trabalhar para atravessar essa inflação.”
Teremos uma então recessão à frente?
“Eu acho que a aposta melhor seria que a gente não vai sair disso sem passar por uma recessão. […] A razão pela qual acredito que nós teremos uma recessão é porque é uma parte necessária de um processo cujo objetivo é diminuir a inflação. Se a economia está mais resistente à uma recessão (mercado de trabalho forte, sistema bancário está saudável, empresas lucrando etc.), você tem que agir mais firmemente.
Se um carro tem uma inércia mais poderosa, então você precisa fazer uma frenagem mais intensa para fazer o carro parar. As taxas de juros portanto terão que subir mais. Será que o FED vai fazer o que for preciso para trazer a inflação de volta para meta? Eu não posso saber por que eles também não sabem.”
Inversão da curva de juros
Dizemos que a curva de juros está invertida quando os rendimentos dos títulos de longo prazo são menores do que os rendimentos dos títulos de curto prazo. A razão pela qual uma curva de juros invertida é preditora de recessão não é porque a curva de juros invertida causa a recessão. É porque a curva de juros invertida reflete o sentimento do mercado de que o Banco Central vai derrubar as taxas de juros significativamente e a razão para o Banco Central fazer isso é porque existe uma recessão.
Então, podemos observar no gráfico a seguir esse movimento nos Estados Unidos: quando houve inversão da curva de juros (representada pela diferença negativa entre o título soberano de dez anos e o de dois anos), a economia passou por períodos de recessão econômica (2000, 2008).
Fonte: https://www.bloomberg.com/news/articles/2022-07-27/widely-watched-yield-curve-at-most-inverted-in-decades-after-fed?leadSource=uverify%20wall
E então, o que fazer?
De acordo com Lawrence Summers, mais dinheiro foi perdido por ficar de fora dos movimentos de alta do que foram poupados evitando as quedas. Essa é uma lição muito importante da história financeira. As pessoas ficam alarmadas, mas com frequência, quando elas ficam alarmadas, parte do alarme já foi precificado no mercado. E quando alguém retira o dinheiro do mercado, é muito difícil saber quando recolocá-lo. Geralmente, quando você retira o dinheiro dos mercados, eles estão em baixa. É difícil recolocar dinheiro quando o mercado ainda está em baixa.
Então as pessoas só acordam quando o mercado sobe em 25%, e daí perdeu parte significativa do jogo. Então, seu conselho geral é: “tentem entender o que está acontecendo, tentem ajustar as carteiras, mas eu seria cuidadoso sobre deixar alguém assustado a ponto dessa pessoa decidir tirar o dinheiro do jogo, porque isso no longo prazo se provou ser uma estratégia que custa caro.”
E o Brasil, como fica nessa história?
O Brasil continua com um desempenho superior relativo aos mercados globais em grande parte por conta dos níveis de valuation ainda bastante atrativos.
Atualmente, o Preço/Lucro (P/L) projetado do Ibovespa se encontra em 6,2x, um desconto de -44% em relação à média dos últimos 15 anos em 11,2x. Mesmo quando retiramos as empresas de Commodities, ou somente a Petrobras e Vale, o P/L vai para 10,4x e 9,5x, respectivamente – ambos menores do que suas próprias médias históricas. E quebrando o Ibovespa setorialmente, vemos que todos os setores no Brasil estão com seus múltiplos negociados abaixo ou próximos às médias de longo prazo.
Em relação a Renda Fixa, as ações brasileiras também continuam mais atrativas. O Prêmio de Risco, que compara rendimento de renda variável com as taxas de juros reais, mostra que as ações brasileiras estão baratas mesmo considerando o alto nível das taxas de juros locais. O nível atual de Prêmio de Risco está em 10,2%, superior à média histórica de 5,1%.
Fonte: https://conteudos.xpi.com.br/acoes/relatorios/raio-xp-a-bolsa-brasileira-seguira-descolando-do-restante-do-mundo-analisando-os-fatores-da-bolsa/
Conclusão
No final das contas, vemos que, em busca de lucro, o trabalho do investidor é assumir risco de forma inteligente. Fazer isso bem é o que separa o bom investidor do resto. Poder contar com uma assessoria especializada é importante e, em tempos de crise, eu diria que é essencial. Entre em contato com o seu assessor de investimentos de confiança e bons investimentos!
Fabrício de Lima, sócio e assessor de investimentos na Valor. Especialista em Investimentos e Private Banking (IBMEC). MBA em Gestão e Engenharia da Qualidade (USP). Engenheiro (UFV) e empresário.
Este artigo tem como objetivo democratizar o acesso à educação financeira via Fabrício de Lima, especialista em Investimentos e Private Banking (IBMEC) da Valor Investimentos.