No comércio varejista ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, os comerciantes pagaram 20,7% a mais pelas mercadorias no atacado, mas reajustaram seus preços ao consumidor em 10,4%.
“Os dez segmentos do varejo (ampliado) pesquisados pelo IBGE estão tendo que rachar essa alta de preços das mercadorias com o consumidor. Não tem demanda (que permita reajustes)”, justificou o economista Fabio Bentes, responsável pelo levantamento da CNC.
O cálculo considera informações da inflação da indústria medida pelo Índice de Preços ao Produtor (IPP) e a inflação de cada segmento do comércio varejista obtida pela Pesquisa Mensal de Comércio, através da diferença entre receita nominal e volume vendido. Esses indicadores são apurados mensalmente pelo IBGE.
Até setembro, entre as maiores defasagens de repasse ao consumidor dos aumentos verificados neste ano no atacado estavam livrarias e papelarias (alta de 24,7% no atacado e repasse de 3,6% ao consumidor); tecidos vestuário e calçados (alta de 19,3% no atacado e aumento de 5,1% ao consumidor); informática e comunicação (aumento de 6,2% no atacado e de 0,8% ao consumidor); e material de construção (avanço de 42,1% no atacado e de 15,9% ao consumidor).
As demais variações foram em móveis e eletrodomésticos (alta de 16,4% no atacado e 7,3% ao consumidor), artigos de uso pessoal e doméstico (17,0% no atacado e 8,0% ao consumidor), hipermercados e supermercados (14,0% no atacado e 5,7% ao consumidor), farmácias e perfumarias (11,1% no atacado e 3,8% ao consumidor), combustíveis e lubrificantes (49,7% no atacado e 35,4% ao consumidor) e veículos (13,2% no atacado e 11,7% ao consumidor).
Bentes afirma que o ano de 2022 será desafiador para o varejo, não apenas por conta das incertezas sobre a evolução das receitas do setor, mas também por causa das pressões de custos.
“Tem aumento da energia, pela crise hídrica, pela bandeira tarifária. Tem reajustes de combustíveis, que encarece o frete para o comércio. Tem a pressão da taxa cambial em ano eleitoral, que oscila mais e atrapalha a previsibilidade do varejo. Vai ser um ano bem cauteloso para o comércio varejista. Não vai ter mais a ajuda da retomada do fluxo de consumidores como teve em 2021. O consumo presencial já está praticamente normalizado”, enumerou o economista da CNC.
Fabio Bentes não espera trégua da inflação nos próximos meses para comerciantes, tampouco para consumidores, o que deve resultar em desaceleração nas vendas.
“A inflação está azedando as expectativas para a Black Friday e o Natal. Se está estragando o varejo no dia a dia, não tem como não chegar nessas datas comemorativas”, disse ele. “É uma inflação de custos, demora mais a reagir à política monetária do que a inflação de demanda. Isso é um problema para 2022, é essa característica da nossa inflação”, concluiu.
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