Na semana passada, a Petrobras anunciou aumento de 18,7% na gasolina, 24,9% no diesel e 16% no gás de cozinha. Dono de postos em Vargem Grande Paulista, na região metropolitana de São Paulo, o empresário Miguel Pedroso viu que muitos motoristas passaram a optar pelo etanol. “De uns dias para cá, o consumo de etanol aumentou, mas os preços subiram tanto quanto os da gasolina”, disse.
Pelas suas planilhas, o preço do etanol colocado no posto passou de R$ 3,74 em 10 de fevereiro para R$ 4,28, nesta segunda-feira, 14, uma alta de 14,44%. Já a gasolina, no mesmo período, subiu de R$ 5,56 para R$ 6,14, aumento de 10,40%. Ele esclarece que esses são os preços de custo para o posto, que depois acresce impostos e seus próprios custos para formar o preço final para o consumidor.
Pedroso lembra que o etanol anidro, aquele que é misturado à gasolina, representando 27% do produto final, subiu praticamente na mesma proporção do hidratado.
“Neste período do ano, quando começa a safra da cana, seria normal cair o preço do etanol, mas este ano não está acontecendo”, disse o empresário. A safra 2022/23 foi aberta oficialmente no último dia 9, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
Segundo o empresário, a maioria da frota de automóveis é flex, ou seja, pode ser abastecida com álcool ou gasolina. “Nos últimos dias, com as altas na gasolina, aumentou a procura pelo etanol, mas é uma situação que pode mudar. O consumidor faz as contas e opta pelo combustível que compensa para ele”, disse.
O que determina é a chamada paridade dos preços, uma espécie de regra usada no mercado que diz que, para valer a pena, o etanol deve custar até 70% do preço da gasolina, que rende mais no motor (veja no fim desse texto como ver quando o etanol é mais vantajoso). O problema é que essa paridade acaba sendo usada como balizamento para o preço do etanol. “Quando a distribuidora entrega o combustível para o posto, o etanol já vem com essa paridade, tendo como referência o preço da gasolina”, disse.
Em Sorocaba, na segunda-feira, os postos visitados pela reportagem mantinham o preço do etanol muito próximo de 70% do preço da gasolina, que é a paridade limite – o rendimento do álcool no motor equivale a este percentual em relação ao derivado do petróleo.
A comerciária Marcia Quevedo Rodrigues optou pelo álcool ao abastecer em um posto próximo do estádio municipal. A gasolina estava a R$ 6,65 o litro, enquanto o álcool custava R$ 4,65. “O álcool rende bem no meu carro e, como está 70% do preço da gasolina, prefiro abastecer com um combustível mais sustentável para o meio ambiente”, disse.
Mais etanol
O diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, acredita que a oferta de etanol hidratado para os postos de abastecimento será maior este ano do que foi no ano passado, o que pode tornar o produto mais competitivo para o consumidor em relação à gasolina.
“Nesta safra, tivemos queda na moagem em relação à 20/21 em razão de consequências climáticas do ano passado, que reduziram a oferta de cana disponível. Agora estamos prevendo uma safra maior, mas a maior produção de etanol vai depender da demanda, que vem decrescendo desde novembro”, disse.
Segundo ele, os meses de dezembro, janeiro e fevereiro foram de demanda muito fraca, o que fez com que os estoques se tornassem significativos para os meses de março e abril. Se acontecer a maior produção de cana-de-açúcar, como se espera, essa quantidade maior de cana será direcionada para a produção de etanol.
Atualmente, o mix – volume de cana que vai para a produção de etanol e de açúcar – está em 55% para o etanol e 45% para o açúcar. “A usina tem o compromisso com a produção de açúcar, então não dá para mudar muito o mix, que é definido no início da safra. Mas não há dúvida de que haverá um crescimento na oferta de etanol”, disse.
O executivo lembrou que o cenário ainda é de muita incerteza, sobretudo em função do conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia, que já resultou em reajustes no preço do petróleo.
“Não sabemos por quanto tempo o cenário atual permanece. Hoje, a variável mais imprecisa é a demanda”, disse. Outro fator que interfere na competitividade do etanol é o emprego do milho para suprir a produção. Desde a safra de 2015/16, o cereal, um dos principais insumos da ração animal, é usado para produzir nosso etanol.
Álcool ou gasolina: a regra dos 70%
Desde que os carros flex começaram a se popularizar, em meados dos anos 2000, a regra mais divulgada para decidir entre álcool ou gasolina é a dos 70%.
Isso porque, de maneira geral, o consumo dos automóveis era 30% maior com o combustível vegetal. Desse modo, para que abastecer com álcool fosse mais barato, seu preço deveria ser equivalente a, no máximo, 70% do preço da gasolina. Caso contrário, o derivado de petróleo continuaria sendo mais vantajoso para o bolso.
Para calcular essa relação, basta multiplicar o preço do álcool por 100 e dividir pelo preço da gasolina: se o resultado for maior que 70, o valor mais baixo não compensa o consumo maior.
Porém, com a modernização dos motores, essa regra dos 70% pode não representar a realidade para todos os automóveis no mercado. Quando o carro apresenta um bom rendimento com etanol, pode valer a pena abastecer com ele mesmo que o preço esteja na casa dos 75%.
Sendo assim, o ideal é observar os dados de consumo do seu carro. Melhor ainda é fazer testes com álcool e gasolina, comparando os dados do computador de bordo. Se o seu carro consumir apenas 20% a mais com etanol, por exemplo, a regra para você seria com 80% – e não 70%, como aponta o senso comum.