Seus filhos recebem educação financeira infantil?
“Não será pequena a diferença, então, se formamos nossos hábitos de uma maneira ou de outra desde a nossa infância; ao contrário, ela será muito grande, ou melhor, ela será decisiva.” – Aristóteles
O que você sabe sobre educação financeira infantil?
Vivemos num país em que a maioria das pessoas só conhecem a poupança como forma de investimento financeiro. Entre outros motivos, isto acontece por que a educação financeira é uma disciplina ainda recente para os brasileiros. Mais recente ainda é a educação financeira infantil.
Em geral, os brasileiros lidam com o dinheiro de forma emocional e improvisada. Muitos dos seus hábitos foram aprendidos com os pais que viveram a época inflacionária de maior oscilação. Por isso, aprenderam a temer os riscos e aproveitar o hoje. No entanto, a economia do país já se mostra estável há mais de duas décadas, mesmo passando por algumas crises mundiais. Embora o mercado financeiro não tenha se mantido igualmente estável, há excelentes oportunidades de investimento disponíveis. Por isso, já está na hora do brasileiro se aperfeiçoar na educação financeira e introduzir as crianças no mundo da administração responsável e inteligente dos recursos.
A função da educação financeira infantil é criar as bases de hábitos mais equilibrados, inteligentes e responsáveis para os filhos em relação ao dinheiro.
Ter maus hábitos perto dos filhos é o mesmo que ensiná-los às crianças. Isto é assim porque as crianças não conseguem deixar de aprender e imitar o que percebem. Se você estoura o limite do seu cartão de crédito quando vai ao shopping, mas pede que as crianças se contenham no corredor de doces do supermercado, seus apelos não terão efeito.
A relação dos pais com o dinheiro tem grande influência nas escolhas dos filhos. É por isso que a educação financeira infantil começa pela educação financeira dos próprios pais. Mas vale destacar que não existe uma regra fixa para educar os filhos financeiramente. O melhor é ir testando o que funcionará com cada criança. O empenho dos pais em serem pessoas com inteligência financeira já é um excelente começo para a educação dos filhos.
“Se eu pudesse, eu dava tudo para vocês”. Você já disse isso para seus filhos?
O amor que sentimos por nossas crianças é realmente intenso o suficiente para nos fazer desejar o melhor do mundo para elas. Este sentimento é muito bom e nos motiva a conquistar o melhor para nossas famílias. No entanto, é preciso ficar atento para que esta virtude parental não fique desordenada em nossos hábitos.
Podemos sim querer dar tudo de bom para as crianças, mas não devemos priva-las de todas as frustrações da vida. Em certos momentos, inclusive, esperar pacientemente pela realização de um desejo é muito mais educativo do que realizá-lo imediatamente.
Além disso, refrear o consumismo das crianças é útil para ensiná-las lições valiosas para a vida adulta. A sensação de poder conquistar as próprias coisas pode ser ensinada, por exemplo, com a poupança da mesada para a compra do brinquedo novo. Além disso, postergar a realização de um desejo material da criança é uma oportunidade para ensinar o conceito do planejamento.
Devo dar mesada para as crianças?
A grande maioria dos especialistas concordam que a mesada é um ótimo instrumento de educação financeira. Isto porque a mesada possibilita que as crianças desenvolvam várias capacidades que ficariam inativas sem este recurso. Por exemplo, a capacidade de ordenar seu orçamento pessoal, de fazer escolhas limitadas num campo ilimitado de estímulos, de desenvolver a paciência para poupar e adiar gratificações, de planejar etapas e etc.
Mas para que todos esses benefícios sejam colhidos pelas crianças, é preciso que a mesada seja dada com regularidade e com termos definidos. Isto é, combine o dia e a quantia exata com que seu filho poderá contar com este valor.
Também deixe claro se haverá algum requisito para ele cumprir, como o bom comportamento ou o cumprimento de tarefas específicas. No entanto, é pouco recomendando que a mesada seja dada condicionalmente, pois o objetivo aqui é ensinar a criança a poupar e fazer escolhas em relação ao dinheiro. Além disso, bom comportamento e cumprimento das tarefas escolares e domésticas devem ser entendidas como obrigações.
Quanto ao cálculo do valor da mesada, especialistas sugerem que sejam feitos da seguinte forma: R$ 1,00 por idade, por semana. Isto é, se sua criança tem 7 anos, então serão R$ 7,00 reais por semana de mesada.
Nas idades de 3 a 10 anos, o ideal é que a mesada seja recebida semanalmente. Pois, nessa faixa etária, o tempo é percebido de modo diferente. Assim, se a mesada for dada só no final do mês, as crianças menores de 10 anos podem não se empolgar muito. Na cabecinha delas, esperar um mês inteiro para poder ver seu dinheirinho acumular não valerá muito a pena.
Para maiores de 10 anos, já é possível dar a mesada mensalmente. Mas sempre se lembre de dizer o porquê da mesada. No dia combinado, reforce a ideia de que a mesada é para que elas aprendam certas lições sobre o dinheiro. Além disso, enfatize também que a criança tem uma responsabilidade a cumprir. Seus conselhos terão ainda mais efeito quanto mais você participar das escolhas dos pequenos. Por exemplo, ajude-os a traçar metas para o que fazer com a mesada deles.
Evite estes 3 hábitos:
Como dissemos no início, a educação financeira infantil começa pela educação financeira dos próprios pais. Por isso, é de suma importância que os pais deem o melhor exemplo.
Dívidas desnecessárias
Ao contrário do que normalmente se pensa, nem todas as dívidas são como monstros de sete cabeças. Há dívidas que contraímos de forma estratégica e fazem parte dos planos de ação para melhorias num negócio próprio, por exemplo.
Mas é importante que não façamos dívidas desnecessárias com supérfluos. Nossos filhos percebem quando, ao chegar em casa de um passeio no shopping, nos ressentimos de um cartão de crédito estourado. Ou quando adquirimos um carro novo, mas dizemos repetidas vezes que não temos dinheiro para nada.
Por isso, para a educação financeira infantil ter o efeito desejado, evite cometer estes erros que vão contra os preceitos que quer ensinar para as crianças.
Ações impulsivas
Você usa a cautela antes de comprar? Faz pesquisas de custo-benefício e espera o momento certo? Na hora de investir, quanto tempo de estudo você dedica para planejar sua estratégia? A impulsividade é um péssimo companheiro para homens e mulheres de negócio.
Mesmo os investimentos com maior risco precisam de preparo e reflexão. Neste sentido, evite cometer ações precipitadas com seu dinheiro, elas podem te trazer aborrecimentos difíceis de lidar. Nossas crianças percebem nossa aflição quando tomamos decisões ruins.
Falar do dinheiro de modo pejorativo
Nas conversas domésticas sobre dinheiro, nunca faça parecer que ele tenha conotação pejorativa em si mesmo. O dinheiro só faz mal para quem lida mal com ele. Logo, o dinheiro não é o problema, mas sim quem o administra mal. Nossa cultura ainda entende o dinheiro de forma emocional e reativa.
É por isso que, em geral, nós brasileiros ou menosprezamos a função real do dinheiro no mundo ou a exaltamos desproporcionalmente. Quando, na verdade, o dinheiro é apenas um instrumento para realizar sonhos, custear o conforto de nossa família e ajudar o próximo.
Ensine estas 4 coisas sobre educação financeira infantil:
Segundo Cássia de Aquino, especialista em educação financeira infantil e autora do livro Como Educar Seu Filho, o processo de educar as crianças para lidar com dinheiro deve abarcar quatro grandes áreas:
Como ganhar: É fundamental que as crianças saibam que o dinheiro não vem dos pais, mas sim do trabalho dos pais. Isto é, entender que ele é recebido em troca de alguma atividade que requer esforço e comprometimento.
Como poupar: As crianças podem aprender que poupar dinheiro e vê-lo aumentando pode ser tão prazeroso quanto gastá-lo. A sensação de juntar dinheiro equivale à sensação de ampliar possibilidades de ação. Com o tempo e a idade, é importante apresentar formas mais eficientes para investimentos de longo prazo.
Como gastar: Ao gastarmos dinheiro, estamos exercitando a nossa capacidade de fazer escolhas. Numa época em que o apelo publicitário sobre as crianças é cada vez mais intenso, esta habilidade precisará ser exercitada. Escolher um meio de ação é rejeitar todos os outros. Por isso, quando fazemos escolhas, aprendemos sobre ganhos e frustrações. Ensinar os filhos a discernir sobre o que fazer com o dinheiro os ajudará a serem mais responsáveis pelo destino que constroem.
Como doar: Quando falamos de educação financeira, não podemos deixar de mencionar a caridade para com os mais necessitados. No entanto, é a doação do tempo e do esforço que são melhor aproveitadas para a virtude da generosidade. Toda educação financeira do mundo não vale a pena se nossos filhos não puderem aprender a serem boas pessoas.
Resumindo
Ensinar bons hábitos financeiros para as crianças é tarefa dos pais e o objetivo da educação financeira infantil. As crianças aprendam mais rapidamente as lições quando combinamos tarefas práticas com recursos lúdicos. Por isso, comece com a mesada e, paralelamente, incentive a leitura de historinhas educativas que ensinam sobre os benefícios de poupar dinheiro para realizar sonhos.
Aproveite as indicações literárias abaixo para dar início a biblioteca particular dos pequenos. E não se esqueça, você é o principal agente na educação dos seus filhos. Por isso, continue seus estudos e se mantenha em constante aperfeiçoamento para realização da sua jornada financeira.
5 dicas de leitura para as crianças:
- As Sementes da Riqueza
Sinopse: O livro infantil As Sementes da Riqueza é de uma sensibilidade doce como a das crianças, ideal para os pequenos de até 6 anos de idade.
Autores: Angélica Rodrigues Santos e Rogério Olegário do CarmoEditora: HumanidadesAno: 2015 - O Pé de Meia Mágico
Sinopse: A fadinha da Fortuna visita dois irmãos com atitudes muito diferentes, qual dos dois aproveitará melhor esta visita? Indicado para crianças de 5 a 10 anos de idade.Autor: Álvaro ModernellEditora: Mais AtivosAno: 2008 - Como se fosse dinheiro
Sinopse: Em Como se fosse dinheiro sua criança irá descobrir a diferença entre uma bala e uma moeda … E quando alguém não quiser dar seu troco… vai saber que a coisa pode “dar bode”! Indicado para crianças de 6 a 10 anos de idade.
Autor: Ruth RochaEditora: SalamandraAno: 2010 - Almanaque Maluquinho – Pra que dinheiro?
Sinopse: As histórias são comandadas pelo Junim, que, com o resto da Turma, aprende a guardar e a usar melhor o dinheiro. Indicado para crianças de 7 a 12 anos de idade.Autor: ZiraldoEditora: GlobinhoAno: 2017 - Meu DinheirinhoSinopse: Duda e João Pedro aprendem que poupar é muito importante para o futuro, mas que é preciso ter um objetivo para o dinheirinho que eles juntam. Indicado para crianças de 5 a 10 anos.Autores: Carlos Eduardo Freitas Costa e Fabricio Pereira SoaresAno: 2018Editora: LITERARE BOOKS
Dicas de leitura para os pais:
Dinheiro Compra Tudo? Educação Financeira Para Crianças – Cássia de Aquino
Como Falar de Dinheiro com Seu Filho – Cássia de Aqui.
Pais Inteligentes Enriquecem Seus Filhos – Gustavo Cerbasi
Lili, a menina que não tinha sonho: Educação Financeira para crianças – Amanda Medeiros
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