O principal desafio de escrever uma coluna sobre economia é fugir do consenso, ideias e narrativas contaminadas. Meu objetivo é abordar nesse espaço, de maneira breve e direta, um pouco da minha visão sobre o que está acontecendo no Brasil e no mundo, sem amenidades e sem ficar em cima do muro.
Não sou do tipo de pessoa que num bolão aposta no 1 x 0. Prefiro acertar sozinho o 5 x 4 e, por isso, podem contar com toda a sinceridade em cima da análise dos fatos.
Então vamos começar…
Nos últimos meses discutimos o surgimento de uma nova variante da Cocid-19, a Ômicron, e, além disso, o recomeço de uma história que há pouco vivemos. Não consigo analisar o impacto do ponto de vista científico, mas do lado econômico temos boas pistas de quais são os caminhos possíveis.
O medo dos mercados está relacionado aos novos lockdowns que voltam a aparecer no hemisfério norte (frio nessa época do ano) e a possibilidade de mais uma vez termos interrupções nas principais cadeias de suprimentos.
Qual a importância disso?
Para entendermos a severidade do problema é bem simples. Basta irmos a uma agência de carros. Por conta da interrupção do fornecimento de matérias primas não existe oferta de veículos suficiente para atender a demanda (que, inclusive, foi inflamada pelos estímulos que os governos empreenderam), e o reflexo final da escassez, nesse caso, é o aumento do preço, ou a inflação.
Além da diminuição da oferta de produtos, outra consequência óbvia da restrição da circulação de pessoas é a uma contração da economia, fechando negócios, aumentando o desemprego e afetando a renda das famílias.
Toda essa história nós conhecemos, isso aconteceu no ano de 2020, mas precisava explicar o mecanismo para justificar o desespero do mercado e a volatilidade em fins de 2021.
Nosso país é o clássico caso de uma economia emergente, tudo que acontece nos países desenvolvidos, aqui tem o dobro de efeito. Na dor, sofremos o dobro e na hora de bonança desfrutamos tanto quanto. Entretanto, nesse momento, parece que temos uma janela de oportunidade.
Estamos no verão, com uma população altamente vacinada e ao que indica, aprendemos com alguns erros do passado. Até o momento, temos números relativamente baixos de mortes o que nos leva a acreditar que talvez o pior já tenha passado. Pelo que vemos, há baixa possibilidade de que precisemos empreender qualquer medida de distanciamento social e, mesmo sendo cedo para afirmar, a Ômicron parece estar longe de ser um enorme problema econômico por aqui.
Quando olhamos para os investimentos a parte mais importante é saber separar as pequenas turbulências de curto prazo dos grandes movimentos de longo prazo. Essa volatilidade que estamos vivenciando nos mercados mundiais, ao que tudo indica será passageira como tantas outras. É preciso focar no fundamento por detrás das empresas nas quais investimos, olhar para os resultados que elas vêm reportando que, por sinal, foram fantásticos, principalmente em se tratando do 3º trimestre de 2021.
No caso do Brasil, nossos desafios são outros. Precisamos ter cuidado com o controle da inflação e na aprovação das reformas estruturais que há tempos discutimos. A resposta para nosso problema de crescimento econômico (que vivemos há décadas) passa por fazer o dever de casa que costumamos adiar, mas que já passou da hora de entregar.
Para finalizar, deixo a reflexão de uma das cabeças mais brilhantes do mercado financeiro: Howard Marks.
“O ceticismo essencial do investidor superior exige pessimismo quando o otimismo é excessivo. Mas também exige otimismo quando o pessimismo é excessivo”.
Até a próxima!