A quarta revolução tecnológica está em pleno curso. Mas para falar dela é preciso, antes, fazer uma breve reflexão. Revendo alguns fatos e dados históricos, é perceptível o erro frequentemente cometido por muitas pessoas: o de que o mundo está dividido cada vez mais entre ricos e pobres. Essa intuição está lastreada pelo viés psicológico dos extremos.
O livro “Factfulness”, escrito pelo médico e estudioso em estatísticas Hans Rosling, revela um aspecto importante sobre a mentalidade radical que vivenciamos atualmente: não basta ter opinião sobre tudo e todos. Além de simplório e superficial, todos nós somos levados a ter uma opinião baseada por um viés cognitivo. Por outro lado, é libertador emitir opinões baseadas em fatos.
Rosling comprova, por meio de dados por exemplo, que a maioria das pessoas não vive em países de baixa renda, nem de alta renda, mas em países de renda média. Segundo ele, a categoria “renda média” não existe em uma mentalidade dividida, ou seja, pessoas radicalizadas não enxergam o óbvio.
Nesse sentido, Rosling afirma que
“juntando-se países de alta e média renda, temos 91% da humanidade, tendo sido integrados ao mercado global e feito grande avanço rumo a condições de vida decentes”.
Este exemplo encerra uma lição: o avanço econômico mais importante dos últimos 50 anos é o crescente aumento da renda em um grupo significativo de países pobres, sendo que os principais mecanismos de crescimento têm sido o comércio internacional e a queda drástica no custo das ideias em movimento, ou seja, tecnologia e produção.
Digitalização dos negócios
As ideias em movimento geram uma economia cada vez mais digitalizada, em que uma parcela crescente de serviços é fornecida a um custo marginal zero, ou seja, a criação e a apropriação de valor concentram-se em centros de inovação onde são feitos os investimentos em intangíveis: criatividade, autoconhecimento, novos projetos.
A transformação digital é uma jornada gradual e contínua: experimentar, aprender e expandir. Não há um caminho único a percorrer para ter êxito na incorporação da tecnologia digital nos negócios.
É dessa forma que muitas empresas vêm optando por criar estruturas de inovação semelhantes às de startups, em que a dinâmica de tentativa e erro é a tônica do negócio. Ou seja,
o erro não é punido, mas visto como uma forma de atingir melhores resultados, por meio da experiência acumulada.
Mais de 70% das iniciativas de transformação digital no mundo fracassam. A lição é a de que não há caminho único para ter sucesso na empreitada. Contudo, mas uma coisa parece certa: a adoção de tecnologias digitais não pode ser um fim em si mesmo e só faz sentido se estiver alinhada com a estratégia de negócios da empresa.
Quarta revolução e o Brasil
Hoje, nos encontramos na quarta revolução tecnológica. Isso quer dizer que o ser humano não costuma se acomodar. E por quê?
O escritor Yuval Noah Harari, autor do best-seller “21 lições para o século 21”, comenta em seu livro que “os seres humanos controlam o mundo porque são capazes de cooperar melhor do que qualquer outro animal, e são capazes de cooperar tão bem porque acreditam em ficções”.
Este ambiente converge para os avanços tecnológicos disponíveis, permitindo a fusão dos mundos físico, digital e biológico, denominada de quarta revolução tecnológica.
Por uma questão de sobrevivência ou para não perder a competitividade, grandes companhias ou empresas que estão inseridas em contexto internacional têm sido forçadas a fazer a transição para a quarta revolução tecnológica.
A Indústria 4.0, é transversal a todas as atividades econômicas e felizmente o Brasil não foge a isso. Por aqui, temos ilhas de excelência em um mar de relativa obsolescência. É preciso costurar ações de empresas avançadas com o restante do tecido produtivo e com outros setores.
“Os seres humanos controlam o mundo porque são capazes de cooperar melhor do que qualquer outro animal, e são capazes de cooperar tão bem porque acreditam em ficções”.
(Yuval Noah Harari)
Hoje, esse é um dos principais gargalos no Brasil. Estamos na 66ª posição no índice Global de Inovação, que avalia indicadores como produtividade, educação e exportações de produtos de alta tecnologia. O país está atrás das principais economias emergentes.
Trago alguns dados: o Brasil investe apenas 1,27% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, enquanto a média dos países da OCDE é de 2%. A Coreia do Sul, por exemplo, destina 4,3%, Israel, 4,2% e Japão 3,4%.
O cenário tem exigido atenção, já que a produção industrial no mundo cresceu 10% de janeiro de 2014 a junho de 2019, enquanto a atividade brasileira recuou 15%. A indústria brasileira corre o risco, inclusive, de deixar o ranking das dez maiores do planeta se nada for feito.
Em tempos atuais, a retomada da economia não está distante, trazendo um momento de atenção para corrigirmos a direção do leme. Atenção: neste período de migração para a quarta revolução tecnológica, a redução de custos industriais no país será de, no mínimo, R$ 73 bilhões por ano, segundo pesquisa realizada pela Agência Nacional de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
Conclusão
É razoável esperar que com o tempo, a maior parte dos benefícios das tecnologias digitais não caiba na dimensão do bem-estar material quantificável. Isso não significa ignorar ou minimizar os desafios que devem ser confrontados. Mas não avançamos em nada com uma mentalidade dual e polarizada.
O Factfulness nos ensina que os dados podem nos ajudar a rever posturas diante de temas que não podem ser mais postergados. Assim, uma abordagem sábia desses recursos disponíveis deverá refletir o necessário reequilíbrio entre benefícios, custos, riscos e vulnerabilidades da era digital.
As fronteiras da transformação tecnológica são muitas e os desafios são imensos. Contudo, as oportunidades também o são.
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