Análise e Opinião

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5 milhões de investidores na Bolsa, fintweet e vieses comportamentais

Por
Thiago Goulart

Países em que o mercado de capitais tem protagonismo na economia tendem a alcançar melhor desempenho em termos de crescimento econômico e desenvolvimento social. Toda a sociedade é beneficiada à medida que o mercado de capitais cumpre aquelas que são suas quatro principais funções: mobilização da poupança, gestão de riscos, alocação eficiente de recursos e aumento da disciplina corporativa.

Ao decidir investir sua poupança em capital produtivo, os investidores – sejam individuais ou institucionais – giram a engrenagem em busca de alocação mais eficiente e menor custo. Isso eleva a liquidez da economia e os prazos dos investimentos.

Para fazer essa alocação, o mercado exige em troca o aprimoramento da governança corporativa e o compartilhamento de informação por parte das empresas que captam os recursos, o que induz a mais disciplina e transparência, com consequentes impactos na produtividade e no retorno sobre o investimento.

É bom lembrar que o mercado financeiro teve sua virada de chave a partir de 2016 (ver gráfico abaixo). Os juros começaram a despencar (14,25%), chegando à mínima histórica em 2020, aos 2%. E juro, como sabemos, é um componente fundamental no mercado financeiro, pois serve como balizador do ecossistema de investimentos no país.

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Fonte: Banco Central.

O desenvolvimento do mercado de capitais nesses anos representou um salto de investidores na Bolsa de Valores ultrapassando a marca de 5 milhões de contas. Os últimos três anos foram impactantes: o número de investidores pessoa física (PF) aumentou significativamente, a faixa etária média se modificou e mais mulheres começaram a investir.

 

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Fonte: B3.

Em 2018, a B3 (Brasil, Bolsa, Balcão) tinha 814 mil investidores. Em 2020, foi atingida a marca de 3,2 milhões, ou seja, um aumento de quase 300%. No primeiro semestre de 2021, esse crescimento foi de 17%, atingindo 8 milhões de contas. Os números robustos não pararam (ver tabela abaixo). Em 2022, foi superada a marca de 5 milhões de investidores na B3.

Gostaria de chamar a atenção aos novos investidores em renda variável e à subsequente mudança de perfil. É verdade que o acesso à informação acerca do mercado financeiro tem atraído investidores cada vez mais jovens para a Bolsa. Atualmente, 62% dos investidores pessoas físicas têm até 39 anos e o número de jovens entre 16 e 25 anos de idade tem aumentado progressivamente.

Este movimento é reflexo de uma mudança de comportamento das novas gerações, impulsionada pelo maior acesso às finanças. A disrupção do mercado fomentada pela digitalização do ambiente de investimentos, a forma de se comunicar das instituições financeiras, influencers e a oferta de novas plataformas de investimentos no celular, trouxe naturalmente uma aproximação das gerações que já nasceram imersas e estão confortáveis com as evoluções tecnológicas.

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Fonte: B3.

Por outro lado, neste momento, muitos investidores estão expostos à grande volatilidade do mercado acionário e às mudanças drásticas do aperto monetário realizado pelos bancos centrais no mundo, inserindo componentes novas jamais vistas pelos novos investidores.

Fintweet e os vieses comportamentais

Outro ponto importante trata-se do mundo “fintweet”, ou seja, opiniões financeiras que são disseminadas em profusão nas redes sociais. O poder de persuasão tem sido enorme por parte dos influencers, gerando inúmeras preocupações aos órgãos reguladores. Fintwit, aliás, é um nome criado a partir da junção de Fin (abreviação de finanças) e Twit (de Twitter).

A expressão refere-se ao fato de influencers utilizarem o Twitter como principal rede para discussão sobre finanças. Assim, muitos jovens acabam sendo influenciados e cursos são vendidos a torto e a direito no sentido de como ganhar dinheiro rápido com ativos financeiros, inclusive com estratégias de negociação diária (day trade), virando lugar comum nas plataformas digitais.

Hoje já existe uma vasta literatura em que os indivíduos tomam decisão de modo enviesado, distorcendo a alocação de investimentos com consequências negativas para o desenvolvimento econômico. Esse viés comportamental, por exemplo, induz as pessoas a não quererem vender seus ativos após uma perda. Por outro lado, induz a realização de lucros em cima dos ativos que se valorizaram. Na vida real é difícil as pessoas decidirem vender um imóvel por um preço inferior ao que elas pagaram.

Você venderia sua casa por um preço menor do que você pagou? Com as ações acontece a mesma coisa: ninguém quer vender as ações que caíram. Mas todo mundo topa vender as que subiram, colocar na cabeça que tiveram lucro e usar os proventos para a viagem dos sonhos. Ignorar perdas e contabilizar lucros traz felicidade momentânea, mas como estratégia de investimento é perigoso.

Há um viés denominado representatividade. Isso quer dizer que as pessoas tendem a dar peso excessivo às suas últimas observações. Exemplo prático: se um grupo de investidores vê uma empresa que começa a dar muito lucro, rapidamente podem ser sugestionados que essa empresa será o novo Google e podem começar a atribuir preço excessivamente otimista a respeito de seus lucros futuros. Isso pode ser o catalisador de bolhas que uma vez se esvaem quando a realidade se impõe.

Com a profusão de pessoas entrando na bolsa, principalmente, os mais novos cuja característica é o imediatismo, certos impulsos e emoções podem impor perdas que poderiam ser evitadas. Lembre-se sempre de ponderar a sua tomada de decisão.

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