Como você se sentiria se investisse R$10.000,00 hoje, e daqui a um mês isso caísse para R$5.000,00? Você não precisa responder essa pergunta agora, mas precisa saber que perguntas assim irão te ajudar a descobrir qual é o seu tipo de investidor.
O perfil de investidor é uma das primeiras coisas que alguém deve saber antes de escolher um produto de investimentos. Sempre que começar a investir em uma corretora ou banco, você vai se deparar com um questionário de avaliação desse perfil que chamamos de API, com perguntas sobre a sua tolerância ao risco, situação financeira, objetivos e conhecimento de mercado.
Logo após responder o questionário, você já fica sabendo se é conservador, moderado ou arrojado. Algumas instituições podem adotar nomenclaturas diferentes ou até ter mais de três perfis, que são intermediários aos principais, mas a ideia principal são esses três perfis.
Como tudo na vida passa por mudanças e transformações, o perfil de investidor também pode sofrer alterações no decorrer do tempo. Com o crescimento da carteira, as mudanças de planos para o futuro, e o ganho de experiência, o investidor pode transitar entre perfis no decorrer dos anos.
Portanto, é por isso que a cada dois anos o API deve ser obrigatoriamente atualizado, segundo o Código de Regulação e Melhores Práticas da ANBIMA (Associação Brasileira de Entidades de Mercado Financeiro e de Capitais), que é a entidade responsável por definir uma série de boas práticas para as empresas desses setores, além de oferecer certificações para os profissionais das áreas. E se mesmo com o API atualizado o investidor quiser aplicar em algum ativo fora do perfil, ele pode, mas a corretora irá avisar e ele terá que assinar um termo de ciência onde ele declara que está ciente dos riscos incorridos.
Tolerância a Risco
A tolerância ao risco está diretamente ligada a fatores comportamentais. Ao se perguntar quanta variação no seu patrimônio você é capaz de suportar, em situações diferentes, as suas respostas muito provavelmente serão diferentes, isso porque as emoções influenciam diretamente nessa resposta.
Existem vários estudos que mostram o processo de tomada de decisão no âmbito de mercado financeiro e risco. Um dos primeiros pesquisadores desta área é Daniel Kahneman que diz que indivíduos sentem mais a dor da perda do que o prazer obtido com um ganho de mesma proporção. Isso demonstra a importância de se conhecer em cenários de grande estresse, para evitar tomar riscos maiores do que você é capaz de suportar. A tolerância a risco pode mudar de acordo com a experiência que o investidor ganha no decorrer do tempo, e com o horizonte de tempo que ele tem para o capital.
Horizonte de Investimento
Na situação financeira, analisamos o momento financeiro de cada investidor. Isso é, um investidor que está começando a montar sua carteira, por exemplo, deve se concentrar no fortalecimento da sua reserva de emergência, que por sua vez deve ser mantida em ativos de menor risco, já que essa parte da carteira é tida como “segurança”, e não visa grandes rendimentos. Nesse cenário, mesmo que o investidor tenha apetite a risco, a sua situação financeira ainda não está pronta para isso, por isso é indicado que esse investidor fortaleça a reserva financeira antes de pensar em maiores riscos.
Os objetivos estão ligados ao horizonte de investimentos, são muito particulares de cada investidor, mas tem grande importância na hora de escolher os riscos no qual ele irá incorrer. Isso porque o tempo em que se pretende manter um investimento é proporcional ao risco. Isso é, quanto mais tempo você pretende deixar o dinheiro investido, maior o risco que você poderá correr, por isso a idade do investidor também é levada em consideração.
Experiência do investidor
A experiência no mercado traz mais clareza quanto à tolerância ao risco. Imagine um investidor que já passou por várias situações, inclusive prejuízos. Quando alguém perguntar sobre quanto risco ele suporta, logo ele se recordará de momentos em que teve amargos prejuízos e entender quais foram as suas atitudes. Além disso, estudar sobre os ciclos de mercado e entender qual momento vivemos, traz mais clareza e calma para esses momentos. Ter um profissional certificado ao lado também é comprovadamente eficaz para buscar opiniões técnicas e imparciais nessas horas.
Deu para perceber que o perfil de investidor é separado em partes que são correlacionadas, ou seja, cada tópico pode mudar o resultado do perfil.
Perfil Conservador
Esse tipo de investidor prefere ativos de baixo risco, conservando o investimento principal, mesmo que isso signifique que o ganho seja mais lento e menor. O que não está nada bem é ver o dinheiro diminuir na conta. O rendimento previsível é o que garante a tranquilidade desse investidor.
Além disso, o investidor conservador gosta de ter o dinheiro sempre disponível, isso faz com que ele procure ativos com maior liquidez, ou seja, com vencimentos curtos ou possibilidade de saque imediato. Essa necessidade de liquidez pode estar associada a um objetivo que o investidor deseja alcançar no curto prazo e não pode comprometer esse dinheiro por muito tempo ou por outros fatores.
Como exemplo de investidor conservador está Luiz, que tem 30 anos e está começando a juntar dinheiro agora, para comprar uma casa daqui a dez anos. Luiz até pensa em correr riscos um pouco mais elevados, mas ainda não tem reserva de emergência e começou a investir a três meses. Ele conta com a ajuda de um consultor de investimentos que lhe dá todo o suporte necessário, e por isso pretende migrar para investimentos mais arriscados só daqui a alguns anos, quando seu patrimônio estiver consolidado.
Perfil Moderado
Pessoas com o perfil moderado até tem alguma disposição para correr riscos, mas nada em grandes proporções, além disso parte da carteira tem que estar em segurança. O risco sempre vem acompanhado de prazos bem longos, que compensam grandes volatilidades e dão tempo de recuperar potenciais prejuízos. Investidores moderados costumam ter foco em dividendos, já que essa estratégia usa ativos de risco, mas com intenção de ter renda passiva no futuro, fazendo com que os movimentos de curto prazo se tornem toleráveis.
Então, um exemplo de perfil moderado pode ser a Inês, de 40 anos, que é uma típica investidora moderada. Ela investe a pouco mais de cinco anos, e desde então estuda sobre mercado financeiro, o que trouxe alguma experiência. Dessa forma, ela tem parte da carteira com foco na aposentadoria e outra parte ela junta anualmente para fazer uma viagem, além da reserva de emergência e outros objetivos de curto prazo. Por isso conta com a ajuda de um especialista, ela decidiu que a parte da carteira focada na renda complementar da aposentadoria, seria focada em dividendos e assumiria mais riscos, já os objetivos de curto prazo ficariam em ativos mais seguros.
Arrojado
Quem assume mais risco é o perfil arrojado. Geralmente são pessoas com mais conhecimento e experiência de mercado, que entendem que quanto maior o risco, maior é o potencial de ganho ou de perda de capital. É claro que nem todo risco vale a pena, e o investidor arrojado sabe diferenciar exatamente quando vale a pena ou não correr riscos.
Pensando nisso, esse investidor tem o horizonte de tempo de longo prazo, justamente por entender que ocorra algum prejuízo, ele vai ter tempo e recursos para compensar. Além disso, o fator psicológico é importantíssimo para o arrojado, já que além de conhecimento ele precisa de frieza na tomada de decisões.
Podemos usar o exemplo do Carlos, de 40 anos que possui altíssima tolerância a risco, e podemos dizer que ele é um investidor arrojado. Ele investe desde os 25 anos de idade, quando conseguiu um emprego na sua área de formação. Desde então, seu patrimônio passou por diversas transformações e com isso ele adquiriu experiência, além de sempre estudar sobre o assunto. Hoje, ele tem seu patrimônio constituído em várias carteiras com objetivos diferentes. Tem sim dinheiro em ativos de segurança, como a reserva de oportunidade, que utiliza quando encontra ativos com valores muito abaixo do que ele julga que valem. Ele utiliza o seu consultor de investimentos de forma consultiva, para ter uma opinião sobre suas decisões.
Conclusão
Por fim, depois de conhecer mais sobre os perfis de investidor, pôde perceber que não existe um investimento universal que seja bom para todos. Tudo vai depender de muitos fatores a respeito do investidor. O ideal mesmo é fazer o seu API e procurar a ajuda de um especialista que possa te ajudar.
Este artigo tem como objetivo democratizar o acesso à educação financeira via Amanda Aguiar, Assessora de Investimentos da Simples MFO.