Análise e Opinião

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O frame de outubro e os próximos capítulos | Carta aos Investidores Novembro 2022

Por
Thiago Goulart

Conta-se que a primeira exibição de um curta metragem data de 1895. Embora os irmãos Lumière tenham conquistado a fama de inventores da arte cinematográfica, a invenção do cinema passou por um longo processo criativo conjunto na tentava de capturar e registrar imagens em movimento.

Foi percebido que a justaposição de fotografias, conhecidas posteriormente como frames, conferia dinamismo e movimento, ou seja, quanto mais fotos enfileiradas por segundo, maior a sensação de movimento e realismo.

É curioso como a análise isolada de uma única foto ou frame pouco pode nos dizer acerca da cena, a menos dos fatos óbvios nela contemplados. Um grito de dor pode passar por um sorriso ou um suspiro, a depender do corte.

Nesse sentido, trago a cena do mês de outubro para estabelecer um paralelo com o filme dinâmico do mercado financeiro no acumulado do ano. 3,2,1…

Outubro foi o mês mais volátil no mercado brasileiro, também pudera: tivemos a mais acirrada disputa presidencial desde a redemocratização.

O Ibovespa subiu 5,5% no mês e, no acumulado do ano, o Brasil continua sendo o principal mercado com melhor desempenho, cujo retorno foi de 10,7%. Para efeitos de comparação, o S&P 500 subiu 8% em setembro e está negativo em -18,8% no acumulado do ano.

carta nov

Acredita-se que a Bolsa brasileira esteja atrativa, com possibilidades, segundo a XP, do valor justo do Ibovespa chegar à marca dos 135 mil pontos ao final de 2023. No entanto, a cautela continua sendo o mote aos investidores em Renda Variável dado os riscos de uma possível recessão global, bem como as dúvidas das políticas a serem seguidas no Brasil.

Quanto ao último ponto, o arcabouço político pode levar a uma pressão nas taxas de juros de mercado, bem como na taxa de câmbio. Daí a importância de uma seleção bem ajustada da carteira de ações.

Na semana passada nos Estados Unidos, enquanto tivemos o feriado de Finados por aqui, o Federal Open Market Committee (FOMC), uma espécie de COPOM americano, destacou que as elevações de juros em curso são apropriadas para atingir o nível de política monetária restritiva o suficiente de modo a trazer a inflação de volta para a meta de 2%.

Em relação ao ritmo de aumento para as próximas reuniões, o Comitê frisou que avaliará o efeito defasado e cumulativo do aperto monetário na atividade econômica, na inflação e no mercado financeiro do país.

No ambiente global, os principais pontos de risco são:

  1. Taxas de juros: Em que momento os Bancos Centrais irão parar o ciclo de aperto monetário;
  2. Recessão global: Principalmente na Europa e nos EUA;
  3. China: O país continental pode impulsionar a economia global caso haja uma reabertura econômica ou seguir pressionando o crescimento econômico do mundo.
  4. Brasil: O futuro das políticas fiscais, bem como qual será o time econômico do próximo governo, são as principais dúvidas no momento.

Sabe-se que um curto período no mercado financeiro é fotografia. Contudo, é preciso avaliar o filme para saber como serão os próximos capítulos. Diante disso, enumeramos alguns desafios do item 4 para que a sustentabilidade político-econômica do país tenha respaldo na eficiência dos agentes de mercado:

  • Abertura econômica face ao comércio internacional, de forma unilateral e ao longo de um mandato, revisando barreiras tarifárias e não tarifárias;
  • Estimular a competição bancária, de modo a reduzir o custo do capital para os tomadores de crédito;
  • Melhorar ambiente de negócios para estimular o empreendedorismo e a consequente geração de emprego e renda;
  • Reduzir desigualdade de renda;
  • Promover acesso a posições de poder no mercado privado e no sistema político, focando em representatividade;
  • Estimular accountability político e o exercício da cidadania;
  • Simplificar o sistema tributário;
  • Investir em infraestrutura;
  • Estabelecer prioridades ao país e elaborar o Orçamento a partir delas;
  • Estimular exportações;
  • Unificar programas sociais;
  • Elaborar políticas públicas com base em evidências.

Elementos cruciais para o desenvolvimento sustentado e socialmente equilibrado como a estabilidade demográfica, os investimentos em formação de recursos humanos, instituições favoráveis à criação de poupança voluntária de longo prazo e a função primordial do livre mercado como mecanismo alocativo.

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