Análise e Opinião

Análise e Opinião

Ciclos de mercado e fundos pós fixados

Por
Monico Torres

Em todas as grandes economias do mundo, vemos continuamente ciclos de mercado. Em outras palavras, alternamos períodos de juros baixos alinhados com o crescimento econômico; mas também períodos em que o cenário se torna o oposto, ou seja, altas taxas de juros com baixo crescimento.

Este último caso representa o cenário no Brasil, hoje. Por consequência, em cada um desses ciclos, algumas estratégias de investimento ganham atratividade sobre outras que fariam mais sentido em circunstâncias cíclicas distintas.

Foi Howard Marks, fundador da Oaktree Capital e reconhecido por ser um exímio gestor no mercado de ações, quem trouxe esse importante conceito sobre os ciclos de mercado. Segundo Marks,

“Devemos lembrar que quase tudo é cíclico. Mesmo tendo poucas certezas, sei que as seguintes afirmações são verdadeiras: ao final, os ciclos sempre prevalecem. Nada caminha para sempre em uma só direção. As árvores não crescem até o céu. Poucas coisas chegam a zero. Quase nada é tão perigoso para a saúde dos investidores quanto a insistência em extrapolar os eventos atuais para o futuro”.

Dito isso, uma gestão eficiente do portfólio deve levar consideração em qual ponto do ciclo econômico nos encontramos e, dentro desse contexto, avaliar as melhores opções de investimento à medida em que avançamos dentre os inevitáveis estágios do ciclo econômico. Tal processo é chamado de alocação tática.

Considerando o atual cenário brasileiro, próximo do topo do ciclo de juros, trazemos destaque a uma das classes de ativos que tem ganhado relevância: os fundos de investimento pós fixados.

Fundos de Investimento Pós fixados

Em qualquer estágio do ciclo, esses os fundos de investimento pós fixados são alternativas consideradas com boa liquidez e, em geral, de baixo risco. Além disso, essa classe ganha ainda uma vantagem adicional quando está no topo do ciclo de juros: atinge seu ápice da performance em rentabilidade.

A compreensão do porquê acontece isso é bem simples. Esses fundos investem majoritariamente em títulos de renda fixa com rentabilidade atrelada ao CDI, ou seja, os títulos pós fixados. De forma simples, quanto mais elevado for o CDI atrelado à taxa básica de juros, maior tende a ser a rentabilidade nesses fundos.

Portanto, no contexto econômico atual esses fundos atingem sua relação ótima entre rentabilidade, liquidez e risco.

Fundos de Crédito Privado High Grade

Vamos continuar no tema, mas trago aqui mais duas subclasses dos fundos pós-fixados que merecem destaque.

Os Fundos de Crédito Privado High Grade investem majoritariamente em títulos de crédito privado atrelados ao CDI. Esses papéis têm por essência maior rentabilidade, mas trazem consigo maior risco relativo, já que temos nesse caso uma exposição ao risco de crédito das empresas.

Esses fundos, entretanto, contam com uma estratégia para manter a rentabilidade mitigando o risco através de dois mecanismos principais:

1. Seleção rigorosa dos credores

As palavras High Grade estão presentes na classificação e, em alguns casos, diretamente no nome desses fundos, referindo-se à qualidade dos credores dos títulos nos quais os fundos investem.

A nomenclatura é designada para papéis de alta qualidade de crédito. Esses fundos selecionam rigorosamente os títulos nos quais investem, com base em avaliações de agências de rating independentes.

Veja mais | Crédito privado com as debêntures incentivadas

Em muitos casos também monitoram periodicamente, via comitê, a saúde financeira das empresas e potenciais riscos mapeados. Caso identifiquem risco em um ou outro credor, podem ajustar a carteira reduzindo ou eliminando a exposição ao título em questão.

2. Diversificação

Além da seleção rigorosa dos credores, esses fundos dispersam a alocação entre diversos títulos High Grade de diferentes empresas expostas a vários mercados. A grande maioria desses fundos possuem entre 80 e 120 títulos no portfólio de forma que a concentração média fique entre 1,25% e 0,8% por credor.

Ainda há regras de concentração máxima por título, geralmente limitada em um patamar máximo que varia de 2% a 4%, segundo cada fundo. São restrições detalhadas no regulamento de cada um dos fundos, documento obrigatório e aberto ao público.

Leia também | Títulos públicos: veja o que são e como funciona o investimento

A rentabilidade dos fundos CP High Grade, em geral, varia entre 110% e 140 % do CDI. Cada fundo possui um prazo de resgate específico. Há opções de alta liquidez com resgate em 2 ou em 15 dias. Há ainda opções com prazo de 45 ou até mesmo 180 dias. Os fundos com menor liquidez tendem a oscilar menos e compensar em rentabilidade.

Fundos DI ou Fundos Caixa

Os fundos DI ou Fundos Caixa são fundos pós fixados atrelados ao CDI que investem majoritariamente em títulos públicos de baixo risco e alta liquidez.

Baixo risco, nesse caso, significa o menor risco possível do país equiparável ou, até mesmo, inferior ao risco da poupança. Possuem alta liquidez, já que o valor de resgate é convertido em saldo em conta no mesmo dia em que é solicitado.

Por essas características, esses fundos são amplamente utilizados por empresas para manutenção do caixa e capital de giro. Para investidores pessoa física, os fundos DI ou Caixa são opções seguras e viáveis para manutenção da reserva de emergência sob rentabilidade consideravelmente superior à poupança para um mesmo grau de risco e liquidez.

Também para o investidor que gosta de ter um recurso à disposição para comprar um ativo quando houver oportunidade, os fundos DI se mostram excelentes opções.

Esses fundos raramente apresentam alguma oscilação. Para termos uma ideia mais clara, no ápice do stress no mercado em consequência da pandemia de Covid, em março de 2020, notamos volatilidade em torno de 1% nesses ativos.

A rentabilidade dos fundos DI, via de regra, é próxima a 100% do CDI e o resgate é efetivado no mesmo dia caso solicitado até às 17h.

Alternativa viável para diferentes perfis de investidores

Por fim, os fundos pós fixados, no contexto econômico doméstico atual, entregam uma relação risco-retorno atraente quando comparados a diversos produtos disponíveis no mercado. Além disso, há distintas opções de liquidez em adequação à necessidade de cada investidor.

Esses ativos oferecem rentabilidade e segurança semelhante aos títulos de renda fixa, sem a necessidade de “prender” o capital por um longo prazo.

Além dos fatores mencionados, os fundos pós fixados não possuem vencimento e o investidor tem a opção de permanecer no fundo pelo período que lhe for conveniente, observado o prazo entre solicitação e efetivação do resgate. Essa possibilidade traz consigo uma otimização tributária, uma vez que o lucro gerado não é enquadrado em uma alíquota de Imposto de Renda de curto prazo caso não haja necessidade de resgate do recurso em tal período.

Para aplicações de curto ou longo prazo, ou ainda para os investidores indecisos em relação ao tempo de aplicação, os fundos pós fixados estão disponíveis sob diversas formas para vários perfis de investidores, até mesmo com possibilidade híbrida entre diferentes prazos e/ou risco.

Para todos os casos, a rentabilidade é atrelada ao CDI, que hoje é visto em seu patamar mais alto desde dezembro/2016.

Deixe um comentário