Análise e Opinião

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Bancos Centrais sinalizam aperto monetário

Por
Flavio Mattedi

Nos Estados Unidos, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI – Consumer Price Index), no acumulado de 12 meses, atingiu 8,5% em março, o maior em 41 anos. Na Zona do Euro foi de 7,5%, apenas um pouco acima dos 7% no Reino Unido. Por aqui, o IPCA de março, de 1,62%, foi o maior para o mês desde o início do Plano Real, em 1994.

As taxas de juros nas principais economias desenvolvidas e nas emergentes estão elevadas, sinalizando que os Bancos Centrais vão fazer apertos monetários, por meio de altas generalizadas dos juros.

A escalada inflacionária colocou o Federal Reserve (Fed) em uma encruzilhada. Os índices estão subindo por pressões de todo tipo:

  • Desemprego muito baixo (3,6%);
  • Salários estão subindo com força, embora ainda percam a corrida contra os preços;
  •  A oferta de bens não se normalizou por falta de componentes e distúrbios nas cadeias globais de produção;
  •  Os preços da energia, com a guerra, dispararam em março, assim como o de algumas commodities agrícolas.

A ideia central, nesta coluna, é trazer os principais componentes que convergem as ações de aperto monetário dos Bancos Centrais no mundo.

  1. Conflito armado e Covid-19

Com a guerra na Ucrânia e as sanções aplicadas à Rússia, houve um aumento das incertezas sobre o comércio internacional, as cotações de alimentos e minérios, a evolução dos custos de produção e a variação dos preços ao consumidor.

Os efeitos econômicos da guerra somam-se às consequências dos desarranjos na produção de insumos e nas cadeias de distribuição ocasionados pela pandemia da Covid-19.

No entanto, não é prudente descrever todos os desajustes de hoje, especialmente na área dos preços, como efeitos combinados da ação do coronavírus e do conflito armado que se arrasta.

  1. O surto de inflação mundial

Atribui-se, em parte, o surto de inflação no mundo à enorme expansão monetária facilitada, nos últimos anos, por Bancos Centrais do mundo desenvolvido. Merece destaque, nesse balanço, o banco central americano (Federal Reserve).

A política do Fed afeta as condições de financiamento e o movimento de recursos nos principais mercados do mundo. O Brasil, é claro, também é afetado e as decisões tomadas pelo Fomc (Federal Open Market Committee), por exemplo, são relevantes para deliberações sobre o custo do crédito no país.

  1. Começo do aperto monetário

Depois de anos de política, no mínimo, expansionista, o aperto monetário está apenas começando entre os norte-americanos. O novo dado da inflação, divulgado na terça-feira (12/04), favorece a expectativa de um forte ajuste dos juros nos próximos meses.

Já no Brasil, a hipótese de apenas mais um aumento da taxa básico de juros (Selic) – de 11,75% para 12,75% -, está cada vez mais clara entre os analistas do mercado. Um novo ajuste de um ponto porcentual ocorreria em maio, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), encerrando a série de ajustes.

Assim, completado o aperto, as autoridades ficariam à espera dos efeitos.

  1. Nova expectativa dos juros básicos

Com a piora das expectativas de inflação, geram-se novas expectativas e previsões de juros básicos acima de 12,75%. Ao reconhecer um choque imprevisto, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, abriu espaço para novas especulações sobre a evolução dos juros. Já aventaram taxas de 13,75% ou mesmo de 14%.

É sabido que juros altos podem cumprir mais de uma função. Além de frear os preços, podem atrair capital estrangeiro, como têm atraído nos últimos meses – ao menos no primeiro trimestre de 2022 –, aumentando os dólares disponíveis e favorecendo a revalorização do real.

Este fato, neutralizou, pelo menos temporariamente, um dos fatores inflacionário, ou seja, o dólar sobrevalorizado. Juros maiores, no entanto, atrapalham muito o consumo, a produção e a urgente criação de empregos.

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