Análise e Opinião

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Alternativas numa eventual correção do Ibovespa. Comprar, vender ou correr da bolsa?

Por
Leonardo Pastore

No artigo em que comentei a recente alta do Ibovespa, ressaltei a importância de se utilizar stops de proteção para evitar perdas maiores numa eventual correção do preço das ações. Nas últimas semanas, o índice da bolsa brasileira tem apresentado quedas diárias, sugerindo um período de acomodação dos preços, mero ajuste ou mesmo início de uma reversão da tendência de alta.

Neste cenário, a escolha de ativos para operar na ponta compradora é um desafio e tanto. Papéis tiveram grande valorização (especialmente em abri/maio) fazendo ferramentas técnicas indicarem sobrecompra (p. ex. osciladores), além de afetar as proporções de preço/lucro e risco/retorno de novas operações.

A pergunta do milhão, por óbvio sem resposta, é se o índice está mesmo em correção e até onde ele vai. Acrescente à equação um menor apetite chinês por commodities, com possível diminuição da taxa de crescimento econômico global, ausência de um horizonte mais claro para corte de juros nos EUA e risco de recessão na Europa para entornar de vez o caldo das dúvidas sobre a pujança de nossa bolsa, ainda que o Banco Central tenha indicado um apetite maior do que alguns esperavam na queda de juros domésticos ao reduzir a Selic de 13,75 para 13,25% a.a.

Mas o fato é que o Ibovespa acumulou 25% de ganhos entre março a julho deste ano, quando foi de 96.996 pontos (mínima de 23/03/2023) aos 123.009 (máxima de 25/07/2023). Porém, desde então (até 16/08/2023 – quando este artigo foi escrito) vem marcando novas mínimas, com queda acumulada de aproximadamente 6% ou 7.418 pontos até o pregão do dia 16/08/2023, fechando aos 115.591 pontos, quase na mínima do dia:

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Ainda que pela análise gráfica haja indícios da preservação do movimento de alta por não terem sido sequer tocadas até o momento as retrações de Fibonacci (aos 123 e 110 mil pontos, aproximadamente), há uma interrogação no ar, induzindo maior cautela dos investidores, em especial após a formação de um doji no topo do gráfico semanal do Ibov:

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O que fazer, então? Como se posicionar neste momento?

Uma das alternativas, a mais óbvia e conservadora, é fechar as operações em curso e ficar de fora da bolsa por alguns dias ou semanas, enquanto avalia seus próprios resultados e espera uma maior definição do mercado e fatores externos. O risco, igualmente óbvio, é perder o bonde de uma retomada acelerada, algo nada raro e que inviabiliza eventual abertura de nova operação, além de ampliar casos clássicos de vender na baixa e comprar na alta. De todo modo, a Selic ainda em patamar elevado pode ser uma aliada para novas posições na renda fixa, tradicionalmente bem paga e livre de preocupações.

O inverso também tem seu lado positivo para quem escolhe comprar ao primeiro sinal de alta. O risco, evidentemente, reside em não saber até onde vai a queda, resultado nos famosos caçadores de fundos que não raro também perdem dinheiro neste mercado.

Para os cautelosos e que não querem ficar de fora mas ao mesmo tempo dão valor a seus ganhos, é hora do ajuste dos stops das operações, que caso ainda não tenham sido acionados por conta da baixa de alguns preços, poderão proteger lucros colecionados no período. Afinal, até onde vai a queda? Se o mercado voltar a subir, o investidor ainda terá chance de possuir o papel, caso o stop não tenha sido executado.

Para os mais arrojados, abrir posições de venda esperando recomprar os papéis numa baixa mais acentuada pode ser uma excelente e lucrativa alternativa. Se o mercado continuar nesta correção ou mesmo perder a tendência de alta, abre-se espaço para ganhos maiores com sua queda, ainda que se tenha o custo de aluguel das ações vendidas a descoberto. Mas essa também é a operação mais arriscada, pois se seus ganhos são limitados a quanto o preço cair até o momento da recompra, suas perdas são ilimitadas caso ele suba repentina e violentamente, em especial se houver gaps capazes de saltar stops de proteção. Mesmo assim, deve-se evitar a todo custo papéis de baixa liquidez pela dificuldade maior de saída da posição em momentos de volatilidade.

Dado não haver uma alternativa perfeita, com riscos mínimos e retornos máximos, certamente ajudará a clássica receita (mas nem sempre adotada) de posicionar-se em ações de empresas bem administradas, com histórico de resultados sólidos até em tempos desafiadores, ou seja, na lição de Benjamin Graham (1894-1976), investir mais em valor que em preço. O vai e vem de cotações, nestes casos, assusta menos quem sabe o que está comprando de fato, pois sua preocupação vai muito além da performance diária ou semanal de sua carteira de investimentos.

Fórmula mágica decerto não há. Estando a bolsa para cima ou para baixo há modos de ganhar (ou perder), mais e menos. Em todos os casos, a melhor alternativa será sempre aquela que se adequa bem a seu perfil e objetivos de curto, médio e longo prazos, tornando a escolha menos árida e suficiente para manter sua tranquilidade para tocar a vida que existe além do seu dinheiro. Escolha bem e aproveite!

 

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