Análise e Opinião

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Market timing funciona? | Carta aos Investidores de Outubro 2022

Por
Thiago Goulart

 

People do not decide their futures, they decide their habits and theirs habits decide their futures. – M. Alexandre

Vamos resgatar o GPS do mercado para sabermos onde estamos e para onde vamos. O primeiro ponto de destaque refere-se à inflação atual como um fenômeno global. Visto o que ocorreu mês de setembro, vamos presenciar no mês de outubro a continuidade do aperto monetário de inúmeros Bancos Centrais no mundo. Quase a metade dos BCs de países desenvolvidos, por exemplo, subiram as taxas de juros em pelo menos 1,25%.

Justamente pela elevada inflação, a economia do Reino Unido segue frágil. Adiciona-se a isso o anúncio de um novo programa fiscal de corte de impostos e aumento de gastos de magnitude superior a 10% do PIB pelos próximos dois anos. Resultado: depreciação da libra e a abertura nos juros das gilts (títulos do governo britânico) contida por um programa emergencial de compras do Bank of England (BoE).

Outro segmento onde o aperto das condições financeiras fez-se sentir foi nos spreads de crédito de bancos europeus. Este é um tema recorrente, que ressurge sempre quando as condições de liquidez sofrem deterioração, como no presente momento.

Na China, a perspectiva prossegue apontando para crescimento reduzido da atividade nos próximos trimestres.

Pelo lado da moeda, o dólar segue em trajetória de elevação e se aproxima de recordes históricos. Os ativos brasileiros seguiram com bom desempenho relativo, refletindo o bom momento da economia do país.

Apesar da incerteza política quanto à disputa do 2º turno presidencial, a composição do Congresso brasileiro tornou-se eminentemente de centro-direita, com perfil conservador. Se comparado a outros países, o Brasil está em uma situação bem mais favorável, por conta do cenário fiscal, queda da inflação e juros altos.

 

Evolução das aplicações financeiras em 2022

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Market timing funciona?

Market timing é um tipo de estratégia do mercado financeiro que consiste em buscar os melhores momentos para realizar as operações, especialmente na renda variável. Nesse caso, a intenção é comprar um ativo pelo menor valor possível e vender pelo maior preço do período.

No entanto, muitos investidores têm a impressão de que, no momento de entrar no mercado, o mesmo estava só lhe esperando para desabar. A questão é: mesmo que sejamos o maior “marcador de topo de mercado” podemos ter bons resultados nos investimentos, desde que se obedeça a uma premissa básica:

O horizonte de investimento é mais importante do que o momento em que investimos.

Manter-se investido e não cronometrar o mercado é um passo relevante. Segundo a Vanguard, uma das maiores gestoras de fundos do mundo, alguns dos melhores dias de negociação ocorrem durante períodos de longa desaceleração do mercado, conforme o gráfico abaixo. Perder esses principais dias de negociação reduz os retornos de longo prazo.

Não é um bom conselho tentar acertar o market timing. Um estudo da Vanguard, por exemplo, analisou os 20 melhores e piores retornos diários do S&P 500 numa janela entre 1980 a 2021.

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O resultado demonstrou que nove dos 20 melhores dias ocorreram em anos em que o índice teve retorno negativo. Por outro lado, onze dos 20 piores dias ocorreram em anos em que o índice teve retorno positivo.

O que se pode inferir a partir desse estudo é que quanto menor o prazo observado, maior tende a ser a aleatoriedade do mercado. A verdade é que o humor dos investidores e o dia em que você aporta tendem a ter pouca importância, desde que você tenha um horizonte de investimento adequado.

It is not timing the market, it is time in the market.

Outro ponto a ressaltar é sobre investidores que se sentem acuados pelo mercado, por “não terem a expertise” necessária para tomar boas decisões de investimento. A respeito disso, um dos maiores investidores da história do mercado de capitais norte-americano, Benjamin Graham, escreveu em seu livro O investidor inteligente o seguinte:

“Vimos muito mais dinheiro ser ganho e mantido por ‘pessoas comuns’ que era, por temperamento, melhor talhadas para o processo de investimento do que as que não tinham essa qualidade, muito embora elas tivessem um amplo conhecimento de finanças, contabilidade e dos meandros do mercado financeiro”.

A história econômica das noções pelo viés de mercado e empresas passa por ciclos de crescimento e declínio, ascensão e queda. O gráfico abaixo da First Trust Portfolios mostra o desempenho histórico diário do Índice S&P 500 em todo o Bull and Bear Markets dos Estados Unidos, desde 1942 até 30 de setembro de 2022.

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Acreditamos que observar o histórico das expansões e recessões do mercado ajuda a obter uma nova perspectiva sobre os benefícios de investir no longo prazo. Se observarmos o gráfico, perceberemos que o período médio de Bull Market durou 4,4 anos com uma média retorno total acumulado de 154,9%. Já o período médio do Bear Market durou 11,3 meses com uma média perda acumulada de -32,1%.

A maioria dos bons investimentos começa no desconforto.

Howard Marks diz que as coisas com as quais a maioria se sente bem, ou seja, investimentos em que a premissa básica é amplamente aceita, o desempenho recente foi positivo e as perspectivas são otimistas, provavelmente não estarão a preços de barganha.

Diametralmente em lado oposto, as barganhas geralmente são encontradas entre coisas que são controversas, sobre as quais as pessoas são pessimistas e que têm tido um desempenho ruim ultimamente. Sendo assim, tente refletir se em sua jornada como investidor, houve algum investimento que você fez e que se enquadraria nessa reflexão.

Alocações eficientes são como uma orquestra musical nas quais cada um dos músicos desempenha um papel individual, diferente e preciso, de maneira que o som coletivo é uma obra de arte do mais alto padrão.

 

 

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