A economia é cíclica, e automaticamente o mercado financeiro também acompanha esse movimento. O que funcionava como estratégia de investimento em 2010 já não era a mesma coisa em 2015. Curiosamente, a forma de investir em 2025 guarda muitas semelhanças com o cenário de 2015.
Muitos acreditam que investir se resume a deixar seu recurso no Banco, rendendo o CDI. No entanto, a grande diferença está em quem cuida do seu patrimônio e quais estratégias são utilizadas. É esse acompanhamento profissional e estratégico que define se, ao longo dos ciclos econômicos, o investidor terá proteção e rentabilidade acima da média.
Quando um investidor aplica recursos em LCI, CDB ou fundos atrelados ao CDI, por exemplo, está deixando seu dinheiro “à deriva” no mercado. Se a Selic sobe, ele ganha mais; se cai, ganha menos. Nesse caso, não há um “capitão” conduzindo o barco, pronto para mudar a rota diante dos sinais da economia. É justamente esse trabalho de antecipação, proteção e geração de retornos consistentes que exige conhecimento técnico, atualização constante sobre política, geopolítica, macroeconomia e análises microeconômicas de empresas e ativos.
Investir exige estudo, dedicação e visão estratégica.
Vamos volta a 2010, para analisar como os ciclos econômicos moldam as alocações de investimento ao longo dos anos.
Cenário de 2010
Em 2010, a Selic iniciou em 8,75% e terminou o ano em 10,75%. A inflação, que começou em 4,31%, encerrou em 5,91%. O Ibovespa sofreu queda em meados do ano, mas terminou praticamente estável. O dólar iniciou em R$ 1,70 e terminou em R$ 1,66, enquanto o S&P 500 teve valorização aproximada de 12%.
Os gastos públicos em 2010 cresceram mais de 15% e continuaram aumentando ano a ano, dobrando até 2015. No ano de 2010, o PIB brasileiro cresceu cerca de 7,5%, puxado por crédito fácil, programas sociais, aumento de renda real e expansão dos gastos governamentais. Contudo, esses estímulos ampliaram a demanda sem elevar a capacidade produtiva do país. Além do mais o PIB potencial caiu de 3,5% para 1% entre 2004 e 2010, segundo estudo do banco espanhol BBVA.
Isso mostrou que o governo não investiu em estrutura para sustentar crescimento de longo prazo sem pressionar a inflação. Como consequência, a pressão inflacionária se intensificou, obrigando o Banco Central a elevar a Selic nos anos seguintes.
Nesse contexto, a estratégia de alocação deveria evitar títulos prefixados, já que a expectativa era de alta de inflação e juros, o que desvalorizaria esses papéis. O mais adequado seria ter liquidez em produtos atrelados ao CDI, uma parcela em IPCA+ de curto prazo para proteção inflacionária, e aproveitar tanto a queda do Ibovespa quanto o câmbio barato para alocar em ações brasileiras e no exterior.
Cenário de 2015
Em 2015, a Selic começou em 11,75% e encerrou em 14,25%. O Ibovespa, que vinha caindo desde 2011, acumulou queda de 30% apenas naquele ano, atingindo retração de cerca de 50% entre 2010 e início de 2016.
A inflação iniciou em 6,29% e terminou em 10,67%. O dólar saltou de R$ 2,69 para R$ 3,90, alta de aproximadamente 45%. Já os gastos públicos aumentaram quase 16% em relação a 2014.
Nos USA o S&P 500 caiu -0,73% no ano.
O Brasil enfrentava a pior recessão da história, com o PIB retraindo -3,5%. A inflação elevada e o câmbio pressionado deterioravam o cenário macroeconômico.
Para a alocação, era um período de oportunidade. O investidor poderia comprar ações de forma recorrente, aproveitando preços descontados, principalmente em empresas sólidas e perenes. O dólar também deveria ser adquirido constantemente para diluir preço médio.
Na renda fixa, o cenário já permitia aumentar posição em prefixados, principalmente após os sinais de avanço do impeachment da atual presidente e as expectativas de alta de juros nos EUA, o que reduzia o spread entre Brasil e EUA. Essa movimentação derrubava as taxas futuras (DI), abrindo oportunidades de ganhos de ágio na marcação a mercado para títulos prefixados e IPCA+.
Essa estratégia se confirmou posteriormente, com a Selic recuando para 4,5% em 2019 e a Bolsa acumulando quatro anos de alta consecutivos.
Cenário de 2020
O ano de 2020 começou com Selic a 4,5%, encerrando em 2%, o menor patamar da história. A inflação saiu de 4,31% e fechou em 4,52%, saltando para 10,06% em 2021, o que forçou o Banco Central a elevar a Selic para 9,25% naquele ano.
O Ibovespa chegou a cair quase 50% durante a pandemia, mas fechou o ano com leve alta de aproximadamente 1%. O dólar subiu de R$ 4,02 para R$ 5,19, enquanto nos Estados Unidos o S&P 500 avançou aproximadamente 16%.
A pandemia fez os bancos centrais ao redor do mundo adotarem políticas expansionistas: redução das taxas de juros, de redesconto, diminuição de compulsório, compra de títulos e distribuição de auxílios. Esse movimento estimulou a demanda, mas a oferta estava restrita devido ao fechamento de indústrias e comércios, gerando uma inflação global.
Para a alocação, 2020 trouxe grandes oportunidades em Bolsa e em ativos internacionais. Era o momento de comprar ações, dólar, ouro e até iniciar exposição a criptomoedas, que passaram a ganhar espaço nas carteiras a partir desse período. Já títulos prefixados eram extremamente arriscados, pois a tendência era de alta futura da Selic e da inflação. O adequado era alocar em ativos pós-fixados com alta liquidez, dólar, ouro, renda variável global e um pouco em IPCA+ no mercado secundário de curto prazo, para aproveitar a alta da inflação e depois realocar o recuso, já que a taxa pré desses ativos estava muito baixa.
Cenário de 2025
Em 2025, a Selic iniciou em 13,25% e até agosto já alcançava 15%. A inflação saiu de 4,83% e está em 5,23% até o momento em que escrevo esse artigo. O Ibovespa acumula alta de 17% no ano, enquanto o dólar recuou de R$ 6,20 para R$ 5,42. O S&P 500, até agosto, sobe cerca de 9,5% em dólar.
A dívida pública voltou a crescer em ritmo acelerado, semelhante ao período entre 2010 e 2015, acumulando alta de cerca de 30% entre 2022 e 2024.
Nesse ano temos uma oportunidade ímpar. Juros no maior patamar desde 2006, bolsa de valores que, apesar de feito topo histórico, muitas empresas estão com o valuation mais descontados que na covid, pois não se compra preço, se compra valor. Além do mais, para o gringo que é o maior investidor da Bolsa brasileira, ela está mais barata do que em 2008, pois ao dolarizar o Ibovespa, o topo histórico ainda é em 2008, então para eles ela só caiu desde então.
O Dólar está sendo depreciado devido as políticas adotadas pelo governo Trump que busca desvalorizar a moeda para fortalecer a indústria americana. Além disso, o presidente do Banco Central Jerome Powell em sua última coletiva deixou o mercado animado com um possível corte na taxa de juros americana. Com isso as bolsas sobem, dólar e juros caem no mundo todo.
Com esse cenário, abre-se oportunidade para comprar dólar, bolsa brasileira, além de títulos de renda fixa prefixados no Brasil, como tesouro, crédito privado (CRI, CRA e Debentures) e renda fixa nos USA. Vale destacar que os títulos emitidos na américa são todos prefixados.
Essa possível queda na taxa de juros nos USA e aqui, mas de forma mais lenta, abre oportunidade para fazer saída a mercado, antes do vencimento e colocar um ótimo ágil no bolso quando os juros caírem. E não pensem que só porque a Selic está muito acima da taxa americana, que está entre 4,25 – 4,5% que seu dinheiro vai render mais aqui. Só para ter um exemplo, em 2015 a taxa de juros americana era de 0,00 a 0,25% e a Selic 14,25%. O CDI nos últimos 10 anos redeu 142%, mas ao dolarizar ele, o rendimento no período todo foi de 4%, enquanto o tesouro americano rendeu 22%.
Com todo o contexto geopolítico, tensões comerciais, ter ouro e dólar na carteira é imprescindível, além das criptomoedas.
Portanto, em 2025, as oportunidades estão em:
- Renda fixa prefixada e IPCA+: taxas pré em torno de 15% dobram o seu capital em cinco anos e abre oportunidade de ganhos relevantes com marcação a mercado quando os juros caírem. IPCA+ protege seu patrimônio da inflação.
- Bolsa brasileira: empresas descontadas, com valuations atraentes mesmo em topo histórico.
- Bolsa e renda fixa americana: diversificação internacional é essencial, aproveitando o dólar em queda. Manter liquidez em dólar nesse momento é imprescindível para aproveitar oportunidades na Bolsa americana quando ocorrer correções.
- Ouro e dólar: imprescindíveis na carteira como proteção diante das tensões geopolíticas e comerciais.
A análise dos últimos ciclos mostra que a alocação de investimentos precisa ser dinâmica e adaptada ao contexto macroeconômico, mas sempre levando em consideração o perfil do investidor, bem como objetivos de curto, médio e longo prazo, estrutura familiar, entre outros pontos importantes.
- Em 2010, o cenário indicava evitar prefixados e aproveitar queda de Bolsa e dólar barato.
- Em 2015, a oportunidade estava em prefixar e comprar ações e dólar de forma recorrente.
- Em 2020, era momento de Bolsa, dólar, ouro, criptomoedas e pós-fixados, evitando prefixados.
- Em 2025, o ciclo favorece renda fixa prefixada e IPCA+, Bolsa brasileira, dólar, renda fixa americana, além de ouro como proteção.
Os ciclos econômicos nunca se repetem da mesma forma, mas apresentam padrões. A diferença entre ganhos medianos e resultados excepcionais está na capacidade de interpretar o cenário Macroeconômico Global, se antecipar aos movimentos e aplicar a estratégia correta.
Investir não é apenas escolher ativos. É entender o tempo certo de cada ciclo, saber onde o dinheiro vai trabalhar melhor e, sobretudo, contar com orientação profissional para transformar risco em oportunidade.