Análise e Opinião

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Dessa vez é diferente? O poder da diversificação em tempos de crise

Por
Filipe Moreira

Ao longo dos últimos anos foram tantos acontecimentos, que ficou até difícil pensar muito além dos próximos dias.

O que fazer antes das crises pressupõe que o investidor saiba quando a queda irá acontecer, além disso, quão severa ela será. Mas, será que é possível ter 100% de clareza em momentos como esse?

Quando estamos diante de uma crise, não adianta mais pensar como teria sido se tivéssemos nos protegidos, ou, diversificado, porque a crise já chegou e a queda já ocorreu.

O artigo descrito abaixo será divido em quatro partes:

  • Renda variável
  • Agora é diferente
  • Geralmente, o que ocorre pós grandes crises
  • A arte de diversificar

 Renda variável varia para cima e para baixo

Apesar do apelo dos grandes investidores e profissionais do mercado sobre “Olhar para o longo prazo”, ainda é muito difícil lidar com perdas de 20%, 30% ou até mesmo, maiores do capital investido.

Durante os grandes ciclos de altas, muitos investidores são seduzidos por ganhos rápidos e por resultados fortes na bolsa de valores em um período imediatamente predecessor a crises. Todas as economias passam por ciclos de expansão e contração, normalmente quando a manada está comprando é hora de vender, e o contrário também é verdadeiro.

A verdade, querendo ou não é que estas são as regras do jogo, a bolsa sobe a bolsa cai.

Há uma máxima no mercado de que: Em momentos de crise o dinheiro sai da mão dos impacientes, para a mão dos pacientes.

Enfim a crise chegou, vamos entender o que pode ser feito a partir daqui…

Leia também: Como ser remunerado investindo em ações? Veja agora!

Agora é diferente…

Dados sugerem que a frequência de uma grave crise diária no mercado de ações é relativamente baixa” (Goetzmann, Kim & Shiller, 2007)

Embora as quedas no mercado de ações apresentem algum espaçamento de tempo entre elas, as quedas severas sempre permearão os pensamentos dos investidores.

Pesquisas com investidores, realizadas durante um período de 25 anos nos Estados Unidos, mostram que a avaliação (subjetiva) de investidores sobre a probabilidade de uma crise é muito maior do que a probabilidade evidenciada pelos próprios dados históricos

No geral, um investidor individual dos EUA, estima que um colapso catastrófico do mercado de ações tem 20% de chance de ocorrer nos seis meses.

Acertar de fato quando elas ocorrem é um desafio para poucos!

Para grande parte dos investidores, o ideal é seguir investindo, de forma frequente e aproveitar o prêmio de risco das ações, em cenários de crie.

É preciso muito estudo e dedicação para estar no seleto grupo de investidores que conseguem avaliar de forma muito assertiva tanto as condições micro, quanto macroeconômicas. E isso não é uma realidade para grande parte dos investidores.

Geralmente, o que ocorre pós grandes crises?

Ficou claro que grandes movimentos fazem parte do mercado de ações.

Os motivos são variados, pandemia, guerra, eleições. E sempre há a sensação de que o mundo irá acabar e junto com ele, o capital investido.

Mas será que vai mesmo?

Segundo o artigo “Negative bubbles: what happens after a crash” de (Goetzmann, Kim & Shiller, 2007), os dados indicam que não, o mundo não irá acabar após as crises.

Em um estudo realizado pelos autores mencionados acima, os 12 meses após uma queda de até -50%, em 59,40% dos casos, ocorreram retornos positivos após um ano.

A tendência é que após uma queda brusca, ocorram retornos positivos com até 59,40% de chance.

Mas dado que se trata de uma amostra de mais de 100 bolsas, é preciso avaliar outros fatores para afirmar com maior clareza que os resultados não foram influenciados por fatores específicos.

Não iremos entrar no detalhe de modelos econométricos, mas, podemos dizer que os autores controlaram por fatores macroeconômicos, conflitos políticos e demais fatores de risco.

A arte de diversificar

Diversificação é a alma do negócio.

Quando pensamos em diversificação, precisamos ter em mente que as ações não são os únicos investimentos possíveis.

No geral, propõe-se que o ideal seria montar um portfólio onde os ativos existentes apresentem retornos esperados com baixa correlação.

Correlação: relação de correspondência entre dois seres, duas coisas.

E o que isso quer dizer?

Não adianta investir em 20, 30 ou mais ativos se eles tendem a se mover em conjunto. Por exemplo, imagine uma carteira de ações compostas por 10 ações e todas elas estão relacionadas ao setor Financeiro. Esse investidor está extremamente sujeito a possíveis problemas do setor, regulatórios ou não. Qualquer alteração significante não só afetaria uma das ações, mas sim o portfólio inteiro.

Uma carteira bem balanceada é um portfólio que contenha exposição em diferentes classes de ativos e setores.

Na renda variável, os investidores podem cometer o erro de ter posição em várias empresas, mas com concentração em poucos setores, o que pode significar uma diversificação ruim, apesar de exposição em várias empresas distintas.

A diversificação pode vir também com exposição em diferentes mercados, caso o investidor tenha condições de investir em outros países.

Exemplo de uma diversificação ruim

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Exemplo de uma boa diversificação em setores

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 Uma possível conclusão

É sabido que o mercado varia todo o dia para cima e para baixo, essa é uma das poucas certezas que temos.

Durante os mercados de alta, é comum ouvir que o ideal é tomar risco, já que a volatilidade parece estar sempre oscilando para cima.

Por outro lado, um dia a moeda pode te pegar sem proteção.

Na hora de montar uma carteira, devemos sempre pensar nos riscos e na possibilidade de uma diversificação – principalmente em cenários de crises. E como já sabemos, esses são fatores que ainda não podemos controlar.

E devemos sempre nos lembrar, a inclusão de ativos devem sem SEMPRE baseada no perfil do investidor e no objetivo almejado.

Referências

AOR Capital. (2020). Time After Time, 13 de marco de 2020. Disconivel em;

https://www.aqr.com/Insights/Research/Macro-Wrap-Up/Time-After-Time

Driscoll, J.C., & Kraay. A.C: (1998). Consistent covariance matrix estimation with spatially dependent panel data. The Review of Economics and Statistics, 80(4), DD,549-560.

Goetzmann, W. N., & Kim, D, (2018). Negative bubbles: what happens after a crash. National Bureau of Economic Research. NBER Working Paper No. 23830

http://www.nber.org/papers/w23830

Goetzmann, W. N., Kim, D. & Shiller, R.J. (2017). Crash beliefs from investor surveys. National Bureau of Economic Research. NBER Working Paper No. 22143

https://www.nber.org/papers/w22143

PortfolioCharts. (2020). Asset Allocation in the Most Painful Month. 23 de março de 2020.

 

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