Faço um breve resumo do cenário de um passado recente. Entre 2016 e 2019 houve um grande corte na taxa de juros do Brasil, a Taxa Selic. Para quem conhece os detalhes desse movimento já entende que houve uma grande oportunidade em títulos públicos. Isso tudo se dá pelo mecanismo da Marcação a Mercado .
Resumindo a Marcação a Mercado, é uma alteração no preço dos títulos de renda fixa (tesouro direto e debêntures, por exemplo) por conta de uma alteração da taxa de juros vigente no país. Desta forma, o título rende acima da taxa contratada, porém a taxa de rentabilidade cairá após esse movimento. Voltando ao cenário, segue histórico da Selic nos últimos 10 anos:
Podemos ver que saímos de uma Selic de 14,25% em 2016 para 4,50% no final de 2019. Mas como isso influencia o valor dos títulos do Tesouro Direto?
Pela Marcação a Mercado, esses títulos se valorizarão mais do que o normal. E quanto seria esse normal? Vamos para os indicadores:
Título | Rentabilidade em 2016 | Inflação no Período | Rentabilidade Esperada |
Tesouro IPCA+ 2035 | IPCA + 6,26% | 14,68% |
41,83% |
Sabendo a taxa na época e qual foi a inflação no período teríamos, teoricamente, uma rentabilidade de 41,83% em 3 anos e meio, ou seja, aproximadamente 10,5% ao ano. Mas não foi isso que aconteceu!
Segue o gráfico da rentabilidade efetiva do Tesouro IPCA+ 2035 nesse mesmo período:
Uma rentabilidade de 110,0% no período, ou seja, aproximadamente 24% ao ano. Uma performance mais do que o dobro do esperado! Esse é o impacto da Marcação a Mercado em um período de 3 anos e meio.
Cenário Atual
Desde a metade de 2021 estamos passando por um momento de um grande aumento de juros. Saímos de 2,00% em abril de 2021 e estamos, atualmente, em 12,75% em maio de 2022, com um próximo aumento de 0,5% já anunciado na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do dia 04/05/2022, ou seja, chegaremos a uma Selic de 13,25%. Observando o cenário atual podemos traçar alguns paralelos com último movimento de redução de juros:
Como podemos ver, estamos chegando próximo desse valor máximo de Selic dos últimos 10 anos e, se esses 13,25% forem o topo da Selic, podemos ver uma valorização bem grande dos títulos nos próximos anos com um novo movimento de redução.
Como aproveitar essa oportunidade?
Vamos começar em como foi entre 2016 e 2019. Lembrando, saímos de uma Selic de 14,25% para 4,50%, da mesma forma em que a taxa de rentabilidade do Tesouro IPCA+ 2035 (após sua grande valorização) saiu de IPCA + 6,26% para IPCA + 3,43% no final de 2019.
Hoje, esse mesmo título do Tesouro IPCA+ 2035 está com uma rentabilidade de IPCA + 5,73%. Para calcularmos uma possível rentabilidade precisamos estabelecer algumas condições. Supondo que a inflação permaneça dentro do projetado pelo Banco Central temos os seguintes cenários:
Taxa Atual |
Taxa final | Resultado após 3 anos |
IPCA + 5,73% |
IPCA + 4,73% |
58,3% (16,5% a.a.) |
IPCA + 3,73% |
65,7% (18,3% a.a.) | |
IPCA + 2,73% |
73,2% (20,1% a.a.) |
Com esse cenário proposto, é possível ter um retorno de 20% ao ano nos próximos três anos! Uma rentabilidade até superior a rentabilidade histórica da bolsa brasileira, o Ibovespa, de 9,8% ao ano!
Mas lembre-se sempre, se há uma oportunidade de excelentes ganhos nesses títulos, também há o risco de rentabilidade negativa, tal como foi entre 2020 e 2021, com a alta da Selic e a taxa de rentabilidade do Tesouro IPCA+ 2035 saiu de IPCA + 3,43% e foi para IPCA + 5,32%:
Esse tipo de oportunidade não aparece a todo momento e demoram alguns anos até que se possa aproveitar todos os seus frutos.
Como você percebeu, existe um cenário similar ao que já aconteceu no passado e pode se repetir por agora, então se esse tipo de estratégia é interessante para você não deixe de aproveitar!